A Civilização do Espetáculo: crítica à superficialidade

Em A Civilização do Espetáculo – Uma Radiografia do Nosso Tempo e da Nossa Cultura, Mario Vargas Llosa expressa preocupação justificada. Quando um tubarão conservado em formol (conforme a obra de Damian Hirst) nos é apresentado como obra de arte, algo anda mal na chamada “cultura”.

O livro trata não apenas da degeneração das formas artísticas, mas de algo ainda mais geral – o advento de uma sociedade voltada para o entretenimento puro e simples. Essa aspiração ao leve, ao superficial, ao divertido, contaminaria não apenas as artes plásticas, mas o cinema, a literatura, e outros domínios da expressão humana, como o próprio jornalismo, com a ânsia atual de transformar a notícia num produto “vendável”, isto é, divertido.

Em seis capítulos e mais uma Reflexão Final, Llosa ataca esse modo de ser contemporâneo em várias frentes. A palavra “decadência” aparece de maneira explícita ou implícita. Dá tom e calor ao texto, magnificamente claro e bem escrito. Não por acaso, o primeiro autor lembrado é T. S. Eliot, em especial seu ensaio, publicado em 1948, Notas para Uma Definição de Cultura. Nele, Eliot afirma: “Não vejo razão alguma pela qual a decadência da cultura não possa continuar e não possamos prever um tempo, de alguma duração, que possa ser considerado desprovido de cultura”. Llosa adianta-se ao próprio raciocínio e afirma, sem pestanejar, que “esse tempo é o nosso”. Autor de The Waste Land, Eliot acreditava que a cultura seria patrimônio de uma elite: “É condição essencial para a preservação da qualidade da cultura de minoria que ela continue sendo uma cultura minoritária”, escreve.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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