A ciência política no âmbito das universidades – As relações voluntárias (II)

Dissemos em (I), antes, que a ciência política pode influenciar a ação política, voluntariamente, sem que esta intenção conste dos programas de ensino. Com certeza estávamos fazendo uma referência à antiga e tradicional expressão: ?O homem é um animal político?, e que, logo, a política corre em nossas veias.

Vejamos. Caso nos esforcemos para conceituar ?trabalho? segundo o modernismo mercadológico (que, aliás, não é tão novo assim), diremos, talvez, que se trata de uma mercadoria, que se compra e se vende; assim, portanto, está sujeito a uma tal lei (…). Ora, embora os argumentos sejam os mais empolados, sofisticados e plenos de convicções, não negaremos estarmos falando de algo externo às pessoas.

Na ordem inversa, por dentro, vejamos a colocação de outro sábio francês, professor da Universidade de Paris, o cientista político Maurice Duverger, em diálogo com Olaf Palme, primeiro-ministro da Suécia, no início do último quartel do século 20: ?Referiu muito justamente que o trabalho continuará a ser, ainda, durante muito tempo, o elemento fundamental e a base da vida humana, não só porque é necessário produzir, mas porque o trabalho é um modo de expressão?.

Entre a primeira idéia de trabalho, calcada nas bigornas da revolução industrial, e a segunda, nascida com o homem, qual empolgará mais um estudante universitário, ainda próximo de sua natureza original? Quem ficará com o cientista político de escol, Maurice Duverger, e quem vai preferir a forja do mercado? A compreensão do conceito político de trabalho vem a ser, por de- mais, convincente. Daí, naturalmente, se desenvolvem ?relações espontâneas? entre a ciência política e a ação política, de considerável profundidade social. As relações voluntárias teriam seu nascimento neste enfoque, se integrasse o conteúdo programático da disciplina.

Pedro Henrique Osório é professor universitário.

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