Nesta análise de ciência política e ação política: as relações voluntárias, o cientista político Jean Meynaud se mostra extremamente cauteloso, o que, na realidade, condiz com a natureza da ciência. E afirma: ?A participação do especialista nesta elaboração é, em princípio, comandada pela possibilidade de prever, de maneira firme, o resultado das medidas sugeridas?.
E agora, por fidelidade pura ao ethos científico e, também, por compreensão direita da necessária objetividade da ciência, o politicólogo em referência passa a assinalar as dificuldades do cientista político quanto à previsão do acontecer social. Entretanto, há de se reconhecer que os obstáculos que o especialista em ciência política encontra, quando se introduz no terreno escorregadio da ?elaboração da política?, são comuns a outras ciências sociais; intransponíveis não o são, pelo menos, em alguns aspectos.
Embora o otimismo do professor Meynaud não seja maior em A formação do cidadão, ali se encontram razões capazes de justificar a ?ação política? motivada pela ciência, o que se percebe ao escrever: ?Pode-se esperar, (…), que a difusão dos conhecimentos adquiridos poderá ajudar o cidadão a compreender melhor os problemas em relação aos quais toma posição; e o servidor do Estado e das outras coletividades públicas, a melhor aprender a natureza e os objetivos de sua ocupação?. Ora, se disto é capaz a ciência política, como não há de colaborar, mesmo com certa eficiência, na elaboração da política? Aqui já não se lança uma base para aquela intervenção? Inclusive, mais facilitada. Com cidadãos mais esclarecidos quanto aos problemas e que se devem referir com servidores públicos atuantes com conhecimento de causa e com coordenadores do trabalho social cônscios da importância de suas atividades profissionais para o meio e estrutura sociais, não se tornaria mais fácil a elaboração da política? Possivelmente, sim.
Pedro Henrique Osório é professor universitário.