Dois filmes que põem o foco na cidade, e seus personagens, venceram no sábado à noite a 15ª Mostra de Tiradentes. O júri da crítica, integrado, entre outros, por José Carlos Avellar, premiou “A Cidade É Uma Só?”, de Adirley Queirós. O júri jovem, formado por estudantes que participaram, previamente, da oficina de crítica na Mostra Cine BH, no fim do ano passado, preferiu “HU”, de Pedro Urano e Joana Traub Cseko.

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A ligação entre os dois filmes não está só na cidade, ou cidades, Brasília no primeiro, Rio, no segundo. Pedro Urano, que assina a fotografia de “A Cidade É Uma Só?”, co-dirige “HU”. Em sua justificativa, lida por Avellar no palco do Cine-Tenda, o júri justificou seu grande prêmio – “Pela empatia que flui de seus personagens, pela relação poética que o filme estabelece entre eles, pelo modo de articular passado e presente, histórico e político, no cotidiano de moradores da periferia de uma cidade grande.” Por tudo isso, “A Cidade É Uma Só?” foi o grande vitorioso da 15ª edição da Mostra de Tiradentes.

Adirley Queirós foi simples e direto no agradecimento – “Fiquei muito emocionado com a recepção do público. Massa demais, pessoal. Obrigado!” Há mais de 20 anos, um cineasta paraibano que se fez brasiliense foi pioneiro na abordagem cinematográfica crítica da construção de Brasília. “Conterrâneos Velhos de Guerra”, de Vladimir Carvalho, virou um marco e uma referência do cinema brasileiro. “A Cidade É Uma Só?” também vai às origens de Brasília para retraçar, na perspectiva de hoje, o momento em que os candangos foram despachados para a periferia e despojados da utopia que ajudaram a construir. O filme investigativo nasceu num momento em que se acirravam, na imprensa, as denúncias de corrupção contra o governo do Distrito Federal. Tudo isso contribuiu para o filme ‘gângster’ de Adirley.

“HU” é sobre o elefante branco em que se transformou outra utopia – o prédio modernista que deveria abrigar o hospital da UFRJ – e que terminou parcialmente implodido, porque o sonho de arquitetura era no mínimo inadequado para a função a que se destinava. Não é o só o tema que aproxima os dois filmes vencedores da Mostra Aurora. Na verdade, o que está em pauta, o tempo todo na seleção e nos debates que agitam Tiradentes é o método de produção. O digital não é mais o futuro. Já é o presente, dá a tônica de um cinema que se beneficia das novas tecnologias para abordar a realidade e fazer proposições estéticas.

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Houve mais dois vencedores. O curta vencedor do prêmio da crítica na Mostra Foco foi “Quando Morremos à Noite”, bela adaptação de Eduardo Morotó para um texto de Charles Bukowski que trata da relação entre dois personagens, um homem e uma mulher, ambos desgarrados, no estilo do autor. O júri popular atribuiu seu prêmio a “O Mineiro e o Queijo”, de Helvécio Ratton, que integrou a seleção do Cine-Praça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.