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A cidade bruta ganha as cores de uma carioca

Tinha 11 anos quando viu o cinza da cidade de São Paulo se agigantar diante daqueles olhinhos de criança. “Na hora, eu soube que havia algo para mim ali”, conta Karla da Silva, 21 anos depois da vez que visitou a capital paulista com o pai, taxista, ao volante. Mudou-se para a cidade em 2014, pouco depois que o disco de estreia, Quintal, havia sido lançado (com auxílio do edital Natura Musical).

“Amo o subúrbio carioca”, apressa-se a dizer a cantora e agora assumidamente compositora nascida e criada em Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro, mas o encaixe, com o que ela chama de “pluralidade paulistana”, ocorreu a partir do momento que alugou um apartamento para morar no bairro de Santa Cecília, no centro de São Paulo. Lá, começou a surgir o esqueleto do que viria a ser o segundo álbum de Karla. Lançado agora – com show para celebrá-lo marcado para ocorrer neste sábado, 30, no Sesc Belenzinho -, Gente Que Nunca Viu Vai Ver a Pretíssima Coroação é o retrato da cantora que deixou os bares da Lapa carioca, passou pelo The Voice Brasil (em 2012), da TV Globo, para fixar a residência em outra capital.

E, na dureza paulistana, ela encontrou um espaço para chamar de seu. Musicalmente falando, inclusive. A garota que na adolescência pintava os cabelos de verde e, com uma camiseta com a estampa da banda de heavy metal Pantera, frequentava bares de rock ao mesmo tempo que estudava violino. Entendia São Paulo como um lugar no qual poderia “ser quem ela quisesse”, explica.

Passou por terreiros, sambas e se encontra agora em um momento de fusão. Une o soul com o samba. Há guitarrada do Pará em um encontro com os beats do hip-hop urbano. Por vezes, beira o funk. Gente Que Nunca Viu Vai Ver a Pretíssima Coroação, de nome enorme e proposital, não é iniciado com Dia de Reis, uma composição de Wanderson Lemos, à toa. No discurso, absorvido por Karla, unem-se entidades distintas, opostos como branco e preto. “A Lapa entre a p… e a santa / Entre Deus e o diabo, doce e sal”, diz a canção.

É também a partir desse escopo, no qual o encontro é a solução, que a artista constrói sua própria sonoridade. Tudo, afinal, faz parte de uma caminhada e evolução. No EP Festejo e Fé, lançado em 2009, ela explorava uma estética folclórica. “Era bem orgânico”, ela relembra. “Algo que tinha a ver com o que eu vivia no Rio de Janeiro”, diz. Quintal, o álbum de estreia, lançado em 2013, ainda navegava por águas similares. Gente Que Nunca Viu Vai Ver a Pretíssima Coroação é um rompimento mais abrupto.

E, corajosa, Karla também se coloca, enfim, como compositora. Nascida e criada em um ambiente de intérpretes, ela viu crescer o movimento de cantoras que se propunham a compor. Das oito canções do álbum, metade é de autoria ou coautoria de Karla. Duas delas, chamadas Eu Vou Que Vou e a poderosa Negra, trazem a artista sozinha a assinar suas primeira canções. “Nunca tive essa ansiedade das compositoras”, ela conta. “Gostava de ser intérprete, de ir até a casa de alguém, ouvir algumas canções, escolher aquela que bate.”

Gente Que Nunca Viu Vai Ver a Pretíssima Coroação é um disco de empoderamento. Eleva a força do feminino, da liberdade, da igualdade, como mantras, como rezas, como festa também – a música Imortais é daquelas canções gostosas de se ouvir e cantar, em ode a Tim Maia. “É um disco mais urgente, mais urbano, mais seco”, diz ela, ao comparar o álbum a São Paulo. “Não moraria em nenhum outro lugar do mundo.”

KARLA DA SILVA

‘Gente Que Nunca Viu Vai Ver A Pretíssima Coroação’

Independente; plataformas digitais

KARLA DA SILVA

Sesc Belenzinho.

Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, tel. 2076-9700.

Sáb., 30, 21h30. R$ 6 a R$ 20.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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