‘A Casa de Bernarda Alba’ traz reflexão política

Em A Casa de Bernarda Alba, nada escapa ao domínio da mãe, que mantém as filhas encarceradas. Todas as ações se passam entre quatro paredes. O que não quer dizer que Federico García Lorca deixasse de trazer para o cerne da obra o contexto político que abalava a Espanha naquela época. “Ainda que esse drama aconteça dentro de casa, a todo o momento se sentem os efeitos da ditadura que se aproximava lá fora”, observa Walderez de Barros, atriz que vive o papel título na versão que estreia sábado, 14.

Bernarda Alba foi o último texto deixado pelo escritor, assassinado dois meses depois de concluí-lo. Não por acaso ordenaram sua prisão dizendo que se tratava de “um homem mais perigoso com a pena do que muitos o são com a espada”.

Impressionante, porém, é como as inquietações com as quais o poeta impregnou sua escrita – por mais que dissessem respeito a uma realidade específica – continuem a fazer sentido. “Lorca está muito próximo da realidade brasileira se pensarmos em termos políticos”, acredita Elias Andreato, diretor da montagem. “A gente conhece muito bem sobre o que ele está falando. Nossos poetas e artistas também foram mortos. Ainda sentimos os efeitos da ditadura militar.”

Recentemente, outro grupo paulistano lançou-se à tarefa de revisitar Lorca. E também conseguiu amarrá-lo à história recente do Brasil. A partir do texto Mariana Pineda, a Cia. do Tijolo criou o espetáculo Cantata para Um Bastidor de Utopias.

Mártir verídica de seu país, Mariana Pineda morreu no século 19, pelas mãos do regime do rei Fernando VIII. A esse enredo, os diretores Rogério Tarifa e Rodrigo Mercadante somaram o próprio fim trágico de Lorca, cujo corpo nunca foi encontrado, e o dos desaparecidos da ditadura militar brasileira. E não pararam por aí: até as contradições das grandes cidades e suas novas formas de opressão couberam no espetáculo.

A CASA DE BERNARDA ALBA – Cultura Artística Itaim. Av. Juscelino Kubitschek, 1.830, V. Nova Conceição, 3258-3344. 6ª, 21h30; sáb., 21 h; dom., 18h30. R$ 50/R$ 60. Até 1º/12. Estreia sábado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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