A bruxa do cinema está solta em Apucarana

O sangue jorra em Apucarana, no norte do Paraná. Mas não tenham medo: o sangue não é de verdade, é uma mistura de groselha com mel Karo e corante. Os efeitos são toscos. A produção custou apenas R$ 1 mil, e todo o equipamento, maquiagem e atores viajam pela cidade num Santana 1993.

Mas, apesar da precariedade, o filme A Bruxa do Cemitério, equivalente caboclo de A Bruxa de Blair, está lotando cinemas no norte do Paraná. Teve duas sessões com gente sentando no chão no Cine Fênix, há um mês – cerca de mil espectadores. No domingo, estará no Cine Plaza, em Maringá, às 20h30, uma das maiores cidades da região. Outras cidades também estão se habilitando para receber o primeiro exemplar de “terror psicológico” da região – só em Apucarana, o diretor já teve 100% de lucro com o filme.

Aparentemente, há dois motivos para o interesse local no filme dirigido por Semi Salomão Neto, de 22 anos, cineasta prata-da-casa: ele é inteiramente feito com atores e em locações apucaranenses, e lida com algumas crenças muito particulares da cidade. O elemento-chave de A Bruxa do Cemitério, como o nome diz, é um pequeno cemitério localizado no bairro rural de Nova Ukrânia, um local cheio de lendas e histórias. Existe há cerca de 80 anos e abriga os mortos da comunidade ucraniana local, católicos ortodoxos.

O diretor incorporou essas histórias – especialmente a da bruxa que ronda o mato ali nas imediações – e deu-lhes personificação.

“Uma das coisas que acho que atrai no filme é que é tudo só sugerido. A pessoa vai ficando apreensiva, mas não é aquela coisa de faca enfiando, tipo Jason (personagem da série Sexta-feira 13)”, diz o diretor Salomão, filho de libaneses, que já está no seu terceiro longa e participou como assistente de direção de Gaijin 2, de Tizuka Yamazaki.

Batendo-se contra a falta de recursos, Salomão não tem dúvidas: escala para seus filmes os amigos, parentes e até o próprio guardião do cemitério, Pedro Berezoski, que participa da produção. Os atores passam por algumas provações na mão do diretor. Fernando Ruivo (que faz o personagem Vítor em A Bruxa) viveu, por exemplo, alguns angustiantes minutos crucificado numa encruzilhada no meio do mato, na escuridão total, coberto de sangue falso. Andréia (Juliana Gab), personagem que é morta durante uma festinha de embalo no início da produção, por alguns momentos teve a sensação de ser enterrada viva (ela de fato entrou na cova e jogaram terra em cima dela; assustada, ela gritou muito, contam). “Tive de cortar os gritos dela no áudio e usar uns recursos de sonoplastia”, diz o diretor.

No Cine Fênix, durante a exibição do filme, a platéia gritava como se estivesse diante de uma produção de Sam Raimi ou George Romero. O diretor, self made man incansável, mandou fazer um cenário, um cemitério artificial com caixão de defunto e fumaça de gelo seco na entrada do cinema.

Salomão escreve, atua, dirige, financia e edita seus filmes. Mas, até a Bruxa do Cemitério, que levou um mês para ser filmado e outro mês para ser editado, Salomão não era levado muito a sério pelos patrocinadores locais. “Todos diziam: o quê? Um filme aqui em Apucarana? E ninguém investia”, ele diz. Mas agora, a bruxa do cinema está à solta em Apucarana.

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