A biografia de um paulista apaixonado pelo Paraná

Quantos detalhes um caboclinho vindo de Avaré, uma cidade paulista de cerca de 80 mil habitantes a 260 quilômetros de São Paulo, pode conhecer da história do Paraná? Se essa pessoa se chamar Paulo Cruz Pimentel, a resposta é: muita coisa. Boa parte desse profundo conhecimento de quem participou ativamente da história do Estado foi parar em um livro, lançado na última quinta-feira (7) em Curitiba. Paulo Pimentel, momentos decisivos (284 páginas, editora Travessa dos Editores), escrito pelo jornalista Hugo Sant’Ana, já é considerado um importante documento bibliografia paranaense.

Pimentel diz que a idéia do livro partiu de trocas de idéias com o autor: “Fomos conversando, até que ele trouxe um gravador e colocou em cima da mesa”. E as conversas continuaram. Foram várias sessões, sem um esquema definido. “Às vezes ficávamos uns 20 dias sem conversar”, conta Pimentel. Sant’Ana confirma: “O Dr. Paulo não tinha pressa, assim como eu”.

Por causa do ritmo calmo em que as entrevistas eram feitas, o livro demorou, segundo o autor, quase um ano para ser escrito. “Mas isso foi bom. Porque a partir da primeira entrevista, ele começou a amadurecer as coisas. Uma lembrança acaba puxando outra.” O autor ressalta que seu trabalho foi facilitado pela extraordinária memória do biografado. “Geralmente, depois de uma entrevista a gente combinava o assunto seguinte. Então, ele tinha um tempo – uma semana, dois dias – para relembrar”, diz Sant’Ana.

As lembranças são valiosas. A primeira parte do livro trata principalmente da vida política de Pimentel, desde o início. Segundo o livro, depois de conquistar a simpatia de Ney Braga, este teria mandado um recado, pelo seu motorista, dando conta que iria buscar “aquele jovem para trabalhar em seu governo”. O livro conta que “Paulo não chegou a se empolgar, mesmo porque não estava no seu projeto de vida abandonar sua atividade na usina (de Açúcar, em Porecatu, norte do Paraná), a não ser que fosse para voltar a São Paulo, onde havia deixado o emprego de advogado em uma das maiores empresas do País, a Votorantim”. A obra revela que Pimentel não conseguia se imaginar como secretário de Estado, morando em Curitiba, e que ele “não tinha planos de se meter em política”, por conselhos maternos. “Não foi uma nem duas vezes que minha mãe me aconselhou a ficar longe da política”, conta o próprio Pimentel.

Ao saber que o convite era para o cargo de secretário de Agricultura, o livro diz que Pimentel, então com apenas 31 anos, não quis aceitar, pois “tinha pouca intimidade com questões agrícolas”. Foi o sogro, João Lunardelli, que acabou convencendo o genro a aceitar, por seis meses. “Nem um dia além de seis meses”, teria respondido Pimentel.

A aquisição, por Pimentel, da Editora O Estado do Paraná, também não deixa de ser abordada, e ilustrada por fatos curiosos, como quando um dos sócios majoritários da empresa na época “se encantou com o carro de Paulo, de fabricação européia, e insistiu para que o veículo fosse incluído no negócio”. O livro passa, ainda, por detalhes do período em que Pimentel governou o Estado. Lembra de importantes realizações, como a construção da usina de Capivari-Cachoeira, a criação da Telepar e das universidades estaduais.

Aborda, ainda, momentos decisivos, como a vinda do presidente Costa e Silva a Curitiba, em 1969, quando Pimentel o convenceu a não fechar a Assembléia Legislativa estadual. Passa por fases complicadas, como quando Pimentel foi perseguido pelo governo de Ernesto Geisel, e lembra dos períodos em que o biografado foi eleito deputado federal, em 1978, “com a maior votação”, e depois, quando integrou a Assembléia Constituinte.

A segunda parte do livro conta um pouco da história pessoal de Pimentel, filho de Maria Izabel Cruz – que por sua vez era filha de um próspero ca,feicultor de Avaré – e do dentista Públio Pimentel, que foi prefeito da mesma cidade e passou por maus momentos quando foi levado por um período a um quartel e proibido de dar notícias à família. Menciona também seus irmãos, confirmando a veia política da família – um deles também foi prefeito de Avaré, por três vezes. E não deixa, obviamente, de ressaltar a importância da união com Yvonne Apparecida Lunardelli Pimentel, com quem está casado desde os seus 25 anos. Por fim, o biografado, que completou 80 anos esta semana, não deixa de pinçar suas opiniões sobre algumas personalidades políticas nacionais e estaduais.

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