Curitiba e Bezerros, no Pernambuco, estão distantes mais de três mil quilômetros. Mas, até o dia 4 de maio, um pouco desta cidade do agreste estará dentro de Curitiba. O município de Bezerros é o berço de um dos principais artistas do Nordeste. J.Borges dedicou uma vida inteira à literatura de cordel e à xilogravura. Apesar da idade e dos problemas de saúde, ele continua trabalhando, mas também aproveita para colher os frutos da carreira. Os trabalhos de J.Borges estão expostos no Museu Oscar Niemeyer, desde sexta-feira passada, e marcam a abertura da temporada 2008 de exposições no MON.
A exposição A arte de J.Borges do cordel à xilogravura vai exibir mais de 40 cordéis e cerca de 100 xilogravuras e matrizes originais. A mostra traz elementos de Bezerros, não só pelos temas e imagens, mas também por uma ambientação especial. Parte do espaço retrata a cidade e os costumes nordestinos. Além disso, o visitante vai acompanhar um pouco da história da literatura de cordel e da xilogravura.
Vida dedicada à literatura de cordel e à xilogravura. |
Aos 20 anos, José Francisco Borges começou a comprar e vender cordel para sobreviver. Até que escreveu o seu primeiro cordel em 1964, com uma gravura emprestada. Na segunda publicação, arriscou fazer a própria gravura. E deu certo, sem qualquer tipo de aprendizado. Tudo na tentativa. Foi assim que surgiu um artista que passou a ser admirado em sua própria região, no Brasil e em diversos lugares do mundo. J.Borges coleciona viagens e exposições em vários países. ?Estranho quando as pessoas falam em eu deixar a minha cidade. Sou como um índio que não abandona a sua aldeia. De Bezerros faço o que faço e mando para o mundo inteiro?, comenta.
Hoje, a produção de gravuras grandes chega a três por mês. No mesmo período, J.Borges produz entre 30 e 40 peças. Ele faz da mesma maneira que começou. Quanto ao cordel, Borges ainda não escreveu em 2008, mas já está esquentando os motores de sua alma nordestina. Normalmente, ele escreve quatro ou cinco cordéis por ano, tanto para a venda quanto para encomendas. Até convite de casamento e descrição de projeto de governo ele faz em poesia. J.Borges deve a sua vida ao cordel. Não somente pelo aspecto financeiro. Cordel é o seu jeito de ser. ?Quando criança, a minha única diversão era o meu pai ler cordel para mim. Era a diversão, era a maneira de saber das notícias e era também a aprendizagem. Eu freqüentei apenas 10 meses de escola. Eu desenvolvi a minha leitura por meio do cordel?, revela.
J. Borges abriu a temporada 2008 de exposições no MON. |
O trabalho de Borges foi amplamente divulgado com a ajuda do escritor Ariano Suassuna, que se encantou com as obras do conterrâneo. Os dois são amigos de longa data. ?Depois que conheci Suassuna, não consegui mais sossegar?, brinca. Pelo jeito, J.Borges não vai sossegar por um bom tempo, enquanto tiver disposição (e ele tem de sobra) para levar um pouco de Bezerros para o resto do mundo.
O Museu Oscar Niemeyer fica na Rua Marechal Hermes, 999, no Centro Cívico. Ingressos custam R$ 4 para adultos e R$ 2 para estudantes. Informações pelo telefone (41) 3350-4400.
Temporada 2008
Além da exposição A arte de J.Borges do cordel à xilogravura, outra mostra abriu a temporada 2008 do Museu Oscar Niemeyer. Desde ontem, o público já pode acompanhar as imagens de Roberto Linsker, na exposição fotográfica Mar de homens. As fotografias retratam o cotidiano e as tradições dos homens e das comunidades que dependem do mar para sobreviver. A pesca artesanal é valorizada neste trabalho. São 42 fotografias, selecionadas entre as imagens do livro Mar de homens, que deu origem à exposição. A mostra fica no Museu Oscar Niemeyer até o dia 1º de junho.