Com seus levemente puxados olhos verdes, Maria Fernanda Cândido chama mesmo a atenção. A atriz, que vive a Nina em “Esperança”, pode ser definida sem problemas como um “mulherão”. Mas a intérprete da operária bonitona da nova novela das oito da Globo também causa estranheza por seu discurso aparentemente decorado. Durante a entrevista, parece que esta bela londrinense de 28 anos fala como muitos jogadores de futebol, com suas frases prontas e apaziguadoras. “A Nina foi um verdadeiro presente. É um desafio ganhar um papel como este”, repete a atriz, emendando chavões mais que desgastados no meio artístico.
Ex-modelo internacional, Maria Fernanda estourou em 1999 na novela “Terra Nostra”, como a fogosa italiana Paola, e, em 2000, emendou a minissérie “Aquarela do Brasil”, como Isa Galvão, uma cantora de rádio dos anos 40. No primeiro trabalho a atriz foi incensada pela sua performance, mas no segundo Maria Fernanda recebeu críticas, inclusive por ter sido dublada no papel de cantora. Eleita como “a musa do Século XX” por uma enquete do “Fantástico”, a atriz se mostra escaldada ao dizer que não se importa com futuras avaliações sobre sua participação em “Esperança”. “O importante é sempre fazer o melhor”, defende-se Maria Fernanda, incorrendo em mais um lugar-comum.
A atriz também evita fazer paralelos entre a produção atual “Esperança” e a sua primeira novela na Globo “Terra Nostra”, ambas escritas por Benedito Ruy Barbosa. Nem mesmo uma natural comparação entre os diretores das duas produções – Luiz Fernando Carvalho e Jayme Monjardim – Maria Fernanda se arrisca a fazer. “Prefiro falar apenas do Luiz Fernando”, resume a contida atriz, em tom monocórdio. Maria Fernanda deixa evidente a preocupação em não causar nenhum constrangimento com suas declarações. Mas é na hora de tirar fotos, porém, que a atriz finalmente fica à vontade. Mesmo assim, não perde a oportunidade de mostrar seu lado de “estrela”. “Tem fotógrafo que quer fazer cinco filmes numa sessão. É impossível”, reclama baixinho.
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– Você só interpretou personagens de época na televisão. Não tem medo de se repetir em “Esperança”?R
– Não, estou muito feliz desta maneira. Realmente, até hoje não fiz nenhum trabalho contemporâneo. Até gostaria de viver um papel atual, mas me interesso em trabalhos de época. Envolvem mais o ator. Além de estudar para compor a personagem, é preciso uma pesquisa da época em questão, como os anos 30 em “Esperança”. E tem de se contextualizar as informações. Outro aspecto é o da informação. A televisão, apesar de ser uma fábrica de entretenimento, também acaba educando o espectador. Mesmo que informalmente. Por isso, acaba influenciando as pessoas. Participar de “Esperança” para mim é uma oportunidade de contar um pedaço da nossa História. Acho importante, porque o Brasil tem uma porcentagem alta de analfabetos, que podem se informar através dos personagens da novela.P
– Mas tanto em “Esperança” quanto em “Terra Nostra” ou “Aquarela”, as suas personagens carregam mais em sensualidade do que em informação. Na mídia, a sua beleza física também é mais explorada. Isso incomoda?R
– Não. O problema é que cada veículo chega com uma demanda. Então, não é todo mundo que privilegia um lado ou outro. Cada um vem com um tipo de pergunta. Francamente, não sei se a demanda pelo físico é maior. Mas não adianta brigar contra este interesse pelo lado físico. Porque estou em um meio de comunicação e a televisão está na fronteira da arte e do comércio. É preciso estar consciente do que você está fazendo e que produto é esse. Mas minha personagem em “Esperança”, apesar de ter uma lado sensual e romântico, é uma lutadora em todos os sentidos. Não tem medo de ir contra o próprio patrão se achar que ela e suas companheiras estão sendo injustiçadas.P
– Você sumiu da tevê depois de “Aquarela” e só voltou agora em “Esperança”. Foi estratégico?R
– Olha, não sumi. Estava fazendo teatro. Na verdade, para mim, o importante é se entregar aos trabalhos, independentemente de eles serem na televisão ou no teatro. E, se eu ficar alegre com isso, já é o suficiente para mim. Me dediquei de corpo e alma para a peça “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, do português José Saramago, dirigida por José Possi Neto. Fiz a Maria Madalena e foi uma grande experiência. Para mim, só vale a pena participar de determinado projeto, seja na tevê ou no teatro, se isto contribuir para eu levantar questionamentos e refletir enquanto artista. E dividir estas inquietações com o público. Falaram, inclusive, que me neguei a aparecer nua na peça e que, depois, a Beth Goulart havia aceito fazer determinada cena. Mas não é verdade. O Possi nunca me pediu nada disso.