Em 1957, o artista britânico Richard Hamilton (1922-2011), considerado o pai da arte pop no mundo, definiu esse estilo como efêmero, popular, consumível e, acima de tudo, um grande negócio. Isso aconteceu um ano depois de Hamilton ter inventado o gênero com sua colagem de uma cena doméstica dominada pela imagem de um halterofilista. Andy Warhol nem sonhava em pintar suas latas de sopa, realizadas entre 1961 e 1962, mesma época em que reduziu mitos como Marilyn Monroe a figuras impessoais. Não demorou para os brasileiros também descobrirem na arte pop um bom veículo, como os americanos, que desembarcaram por aqui na 9ª Bienal de São Paulo, de 1967, em plena ditadura.

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Os jovens pintores, na época, ficaram chocados com a retirada pela censura militar de duas obras da mostra internacional e resolveram ir à forra contra o regime, usando justamente as ferramentas da arte pop, especialmente a tinta acrílica e o spray. Aqui, de forma diversa dos americanos, que usaram a arte pop para brincar com itens da sociedade de consumo, ela nasceu como uma forma de protesto contra as arbitrariedades da ditadura, como provam as obras da exposição Pop, Nova Figuração e Após, em cartaz na Ricardo Camargo Galeria até 31 de janeiro de 2017.

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São 58 obras de 25 artistas na mostra. Nem todos permaneceram fiéis ao credo pop, entre eles Carlos Fajardo, que trilhou um caminho mais abstrato e tridimensional. Ou o pernambucano Maurício Nogueira Lima (1930-1999), que começou como concreto, ligado ao grupo Ruptura, e hoje é automaticamente associado à pintura geométrica. Até mesmo Claudio Tozzi, que ficou conhecido por suas obras figurativas de caráter explicitamente político – contra a censura, a guerra do Vietnã -, abandonou a trilha pop para seguir outro caminho depois da anistia.

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Por ironia, Tozzi é disputado, hoje, no mercado, por séries pop e multicoloridas como a dos astronautas, muito populares na era da conquista da Lua (há um raro exemplar na exposição, de 1969). Além de Tozzi, obras de artistas que emergiram na esteira da onda pop foram recolhidas pela dupla de galerias que organizou a mostra – Ricardo Camargo e Almeida & Dale: Wesley Duke Lee, Baravelli, Nelson Leirner, Antonio Henrique Amaral, Aguilar, Glauco Rodrigues, Vergara, Gerchman e Antonio Dias, o mais internacional de todos os nomes reunidos na exposição, que traz ainda Raimundo Colares.

A irreverência marca de forma particular os trabalhos produzidos nessa época, recorrendo a ícones da publicidade, à estética dos quadrinhos e fazendo uso da imagem de tipos populares da televisão para escancarar a geleia geral brasileira, que transformou a tragédia política em melodrama barato. Se Peter Blake, na Inglaterra, colocou ídolos populares junto a intelectuais na capa do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, em 1967, aqui, naquele mesmo ano, Maurício Nogueira Lima se apropriou da estética violenta dos quadrinhos para denunciar a barbárie do regime, na tela Bang!

A referência, claro, continuou a ser a arte pop norte-americana – Lichtenstein, em particular. A Nova Figuração do título, movimento que ganhou força com a mostra Opinião, em 1965, não foi, enfim, autônomo, mas conectado com o mundo.

POP, NOVA FIGURAÇÃO E APÓS

Galeria Ricardo Camargo. Rua Frei Galvão, 121, tel. 3031-3879. 2ª a 6ª, 10h/19h. Sáb., 10h/14h. Até 31/1/2017.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.