São dois discos compondo uma caixa – A Arte de Samuel Fuller -, que você pode encomendar pela rede, para entrega no dia 7. Nada melhor que começar o ano na companhia de um dos grandes do cinema de Hollywood. Jornalista antes de se tornar roteirista e diretor, Fuller foi um autor realista que fez filmes marcados pela urgência. Com exceção da comédia e da ficção científica, frequentou todos os gêneros – guerra, gângsteres, western, policial, até melodrama. Numa cinematografia como a norte-americana, que sempre cultivou o heroísmo, Fuller fez figura de exceção. Seu cinema prescinde de heróis, todo mundo é meio vilão. Fuller filma os sobreviventes.

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Os dois discos da caixa que resume sua arte trazem quatro títulos – o primeiro reúne Beijo Amargo e Quimono Escarlate, de 1964 e 1959; o segundo, Paixões que Alucinam e Casa de Bambu, de 1963 e 1955. O espectador que por acaso não for familiarizado com o estilo do diretor poderá ter um choque na abertura de Beijo Amargo. Uma mulher, uma prostituta, cobre de pancadas o homem – o cliente – que arranca sua cabeleira falsa. A trama não segue menos surpreendente. Constance Towers casa-se com um milionário, que lhe dá respeitabilidade. Mas é só uma fachada. Ao descobrir que o cara é pedófilo, ela reage com a mesma fúria do começo. Moral da história – é melhor ser p… do que pactuar com a falta de ética do mundo.

Como melodrama, Beijo Amargo possui um tom – e temas – que são frequentes no gênero, mas não espere nada no estilo do suntuoso (e barroco) Douglas Sirk. O mundo de Sirk é preto e branco, e não raro sinistro. Quimono Escarlate só tem cor no título. Conta a história de dupla de detetives que investiga a morte de uma stripper na comunidade japonesa de Los Angeles. Com Victoria Shaw, Glenn Corbett e James Shigeta, o filme aborda temas como identidade e racismo. Feito quatro anos antes, Casa de Bambu, com Robert Ryan e Robert Stack, mostra militares norte-americanos que buscam, no Japão, antigos soldados que se tornaram criminosos a soldo da Yakuza.

Todos esses filmes têm cenas fortes, impactantes. Era da natureza de Fuller (morto em 1997, aos 85 anos) filmar com veemência. Para muitos críticos, Paixões que Alucinam é sua obra-prima. Jornalista interna-se num instituto psiquiátrico para investigar assassinato. Os pacientes são a expressão da loucura da América – um negro que pensa pertencer à Ku Klux Kan. Peter Breck, que faz o papel, termina louco de pedra. Nada mais digno de Fuller. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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