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50 anos sem Cacilda

Durante os anos 1960 era comum que atores e atrizes de um espetáculo recebessem do diretor apenas as falas correspondentes às suas personagens. Nunca tinham a peça completa. A função do encenador, naquela época, era a de acertar o ritmo e observar o resultado do conjunto. Mas em 1967, com a peça Isso Deveria Ser Proibido, tudo mudou por causa de uma grande atriz.

Nesta sexta-feira, 14, completam-se 50 anos de morte da atriz e produtora Cacilda Becker. A família da artista abriu as portas de sua casa ao jornal O Estado de S. Paulo em uma região cercada de prédios no bairro Itaim Bibi. Com uma carreira inquieta, a paulista nascida em Pirassununga reuniu talento e audácia para transformar a maneira de se fazer teatro no País, além de abrir a cena teatral paulistana para o mundo. “Nessa peça, escrita pelo então marido, o ator Walmor Chagas, ela começou a questionar o diretor Gianni Ratto sobre não ter acesso ao texto completo da peça”, conta o diretor teatral Ivano Lima. “Ela não queria ser uma marionete.”

No casarão antigo repleto de objetos, o quarto da atriz foi organizado pelo neto Guilherme Becker Fleury, do primeiro casamento de Cacilda com Tito Fleury. Em cada canto, estão presentes fotos de amigos, pessoas que ela admirava e os muitos prêmios recebidos em uma carreira interrompida por um aneurisma em 1969. No guarda-roupa, há o seu último figurino, do espetáculo Esperando Godot, além de peças únicas como um vestido assinado por Clodovil Hernandes. “Eles se conheceram na escadaria do Teatro Municipal, quando o estilista tinha 18 anos”, narra Guilherme. “Um dia, ele mostrou alguns croquis de roupas para Cacilda e ela ficou entusiasmada: ‘Parece Chanel! Eu quero”, ela teria dito.

No outro lado do quarto, uma pequena mesa e cadeira sugerem a rotina de estudos da atriz, com um livro autografado pelo apresentador e amigo Boris Casoy além de Ziembinski e o Teatro Brasileiro, sobre o encenador polonês que fez de Cacilda uma atriz, como ela declarou ao autor do livro Yan Michalski. Ao lado do guarda-roupa, uma penteadeira resguarda a memória da irmã e atriz Cleyde Yáconis com alguns troféus e retratos.

Para Leona Cavalli, que interpretou Cacilda! no espetáculo do Teatro Oficina, a artista conseguiu assinar parte da história do teatro brasileiro, ao reunir a produção local com seu talento e ousadia. “Ela lutou pelo reconhecimento dos artistas e colocou a profissão em um lugar de dignidade.” Leona acrescenta que também está produzindo um documentário, com auxílio da família da atriz, sobre sua vida e obra. “Cacilda conseguiu unir todos os artistas do palco. Precisamos levar esse legado adiante”, ressalta.

Com o intuito de manter o casarão aberto, Guilherme e Ivano estão viabilizando ações para que a casa de Cacilda se torne um ambiente de agitação cultural, tal como o espírito da atriz. Há também planos para se criar uma exposição itinerante com objetos, figurinos e fotografias das irmãs.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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