50 anos por trás do lance

Com quase 50 anos de carreira na tevê, Léo Batista não tem o hábito de rever seus antigos trabalhos. Mas acabou frente a frente com a aparição de estréia na bancada do Globo Esporte, durante as gravações das matérias comemorativas dos 25 anos do jornalístico, do qual foi o primeiro apresentador. As mudanças estéticas foram as que mais lhe chamaram a atenção. “Não me lembro de nada disso. Era cada roupa horrível que a gente usava!”, surpreende-se ao se deparar com a própria imagem em agosto de 1978. Atualmente, Léo é o apresentador mais antigo da Globo e foi pioneiro também nos esportivos Copa Brasil, Esporte Espetacular e Placar Eletrônico, além do Jornal Hoje. “O problema de estrear tantos programas é que todo aniversário tenho de estar aqui, falando as mesmas bobagens”, brinca, bem-humorado.

Se falta memória para guardar a “cara” dos programas, com as histórias se passa exatamente o contrário. Elas são tantas que dariam um livro. E o apresentador já tem até o título, Memórias de um Merdinha, tirado de uma passagem durante a Copa de 86, no México. De volta do estádio, Léo se encontrou com um conhecido de Curitiba no “hall” do hotel. Depois de um breve bate-papo com o curitibano e sua roda de amigos, o apresentador já se retirava quando um deles não resistiu a um comentário. “Na tevê, o senhor parece um ?homão?. Mas, olhando assim de perto, é um merdinha”, conta Léo, às gargalhadas. A abordagem até hoje figura entre suas favoritas, ao lado da de um cego que o reconheceu pela voz durante um papo que durou o tempo da travessia de uma rua. “Contando o tempo do rádio, há 52 anos minha voz ecoa por aí. As pessoas reconhecem mesmo, a não ser que vivêssemos num país de surdos”, gaba-se.

Quase Belinazo

Por pouco, a voz não ficou conhecida por outro nome. Nascido João Batista, na cidade paulista de Piracicaba, Léo iniciou a carreira com o nome de Belinazo Neto. Na primeira transmissão pela Rádio Globo, no entanto, Luís Mendes, chefe da equipe, se atrapalhou todo para anunciar no ar o novo repórter esportivo. A ordem foi clara: com aquele nome, ele não teria futuro na profissão. Belinazo então rascunhou uma série de opções no papel e uma enquete na rádio decidiu, unânime, por Léo, uma homenagem à sua irmã, Leonilda, e mais o sobrenome original. “Guardo até hoje uma crônica do Arthur da Távola em que ele fala de coisas e pessoas que não imaginaria com outros nomes. E inclui Léo Batista na lista!”, destaca o apresentador, entre risos.

Léo conta com particular orgulho a criação do Jornal Pirelli, da tevê Rio, que comandou durante 13 anos. “Ninguém acreditava que pudesse dar certo. Então, comprei uma maquininha Olivetti, arrumei uns pedaços de fio, roubei um ramal de telefone de uma sala e inaugurei o noticiário”, lembra. Sobre a notícia mais marcante, no entanto, ele não tem dúvidas. Foi o anúncio da confirmação da morte de Ayrton Senna. De “stand-by” nas transmissões da Fórmula 1, Léo foi chamado a anunciar o falecimento do piloto porque Galvão Bueno estava muito emocionado. Antes, porém, o diretor recomendou que o apresentador trocasse a camisa que usava, muito colorida. “Fui ao camarim e encontrei uma camisa que o Ayrton tinha me dado uma semana antes, de uma grife que ele lançou. Ganhei umas seis, de cores diferentes, e a única que estava na emissora era a preta”, conta, emocionado.

Botafoguense “por causa do Garrincha”, Léo perde a paciência toda vez que alguém diz que ele está torcendo no ar, durante a narração dos Gols do Fantástico. “É tanto sufoco, o Brasil inteiro mandando as imagens dos gols, que a última coisa que dá para fazer é torcer”, garante Léo, revelando um segredo do trabalho. “Na hora da locução, não vejo os gols. Às vezes, me perguntam como acerto os tempos. Acho que é coincidência, ou prática mesmo”, admite, sem falsa modéstia.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo