Há 25 anos morria Grande Otelo, um dos maiores atores e comediantes da história do cinema e da TV no Brasil. “Quando você conhece um humorista, percebe que nós não temos nada a ver com o que levamos para o palco”, dizia o mineiro de Uberlândia – “Não fala Uberabinha para mim que tem briga!”, brincava, em referência ao antigo nome da cidade – na qual teve uma história de vida difícil.

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Nascido em 18 de outubro de 1915, Grande Otelo já morou na rua, passou por diversas famílias e viveu outros tantos dramas pessoais, como o suicídio de sua esposa, em 1948, logo após matar seu filho, Osmar, enteado de Otelo, quando tinha apenas dois anos de idade – ou quando levou uma facada de sua outra mulher, Joséphine Héléne, em 1978, durante uma crise de ciúmes e bebedeira.

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Ao todo, casou-se quatro vezes e teve cinco filhos: “quatro homens do casamento oficial e uma mulher de uma aventura.” Filho de uma mãe alcoólatra e um pai que morreu esfaqueado quando era jovem, Grande Otelo tinha como nome original Sebastião Bernardes de Souza Prata.

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Mais tarde, em 1935, começou a ser conhecido publicamente pela alcunha: “A crítica do Rio de Janeiro me batizou como Grande Otelo, por intermédio do Jardel Jércolis (precursor do teatro de revista no Brasil), que me lançou como The Great Othelo”.

A origem do apelido remete à sua infância. O ator costumava acompanhar a filha de sua tutora em suas idas à Ópera Lírica Nacional, onde ela estudava canto. Certa vez, o maestro pediu para que também cantasse.

“Ele experimentou minha voz e me viu pretinho, pequenininho… A minha voz era de tenorino – ele achou que era – e eu cheguei a cantar a ópera Tosca (de Giacomo Puccini). “Ele achou que, quando eu crescesse, cantaria O Othello (ópera de Giuseppe Verdi baseada no texto de William Shakespeare”, disse.

Carreira

Segundo contava, sua primeira experiência no mundo artístico se deu antes de completar 10 anos de idade, na década de 1920. “A primeira entrada que eu fiz foi uma beleza, porque eu já era, assim, um palhaço da cidade, com a pouca idade que eu tinha. Então, naquele dia, o circo encheu mais pra ver o Bastiãozinho (como era conhecido na região).”

“Eu tinha uns sete anos. Bastiãozinho, vestido com um vestido comprido e com um travesseiro no bumbum e rebolando de braços com o palhaço. Aí todo mundo riu, todo mundo achou graça”, recordava.

Em 1935, já com o nome de Grande Otelo, fez parte da companhia de arte de Jardel Jércolis, e começou a ganhar cada vez mais projeção no mundo do teatro e do cinema.

Entre 1938 e 1946, fez parte do Cassino da Urca, uma das casas noturnas mais badaladas do País entre 1930 e 1950, época em que o Rio de Janeiro era a capital federal.

A partir da década de 1940, começou a fazer diversos filmes. Multitalentoso, causava risos nos cinemas brasileiros, mas não era somente engraçado, sendo reconhecido pouco depois como um grande ator, até hoje considerado um dos principais da história do Brasil.

Oscarito

Grande Otelo ficou conhecido também por conta da dupla feita com outro grande humorista brasileiro, Oscarito, especialmente nas chanchadas da Atlântida (companhia cinematográfica da época). Entre eles, “Céu Azul” (1941), “Não Adianta Chorar” (1945), “Aviso aos Navegantes” (1950), “Barnabé”, “Tu És Meu” (1951) e “Matar ou Correr” (1954).

O ator, porém, evitava falar sobre os bastidores das produções e sua relação com parceiro do riso: “Eu e o Oscarito nos entendíamos bem no set de filmagens; fora do set, não interessa a ninguém.”

Orson Welles

O encontro entre o humorista e Orson Welles, diretor norte-americano conhecido mundialmente pelo filme “Cidadão Kane” aconteceu no Cassino da Urca, em 1942. Na ocasião, Otelo olhou o cineasta de alto a baixo e disse somente “oi”.

“Não fui eu que o conheci, ele que me conheceu. Foi ao cassino escolher um elenco. No dia seguinte, quando começou a filmagem, ele achou estranho que eu não estivesse no meio dos atores que foram cedidos pela Urca. Procurou-me e fez grande amizade comigo.”

“A minha história com Orson Welles foi muito simples, mas como ele era um americano que me dedicou muita amizade, e eu sou um negro, teve grande repercussão. Ele foi realmente meu amigo, da maneira como os americanos são amigos.”

“Trabalhei com ele, conversamos muito e fui um dos mais bem pagos. Enquanto os outros ganhavam 70 mil cruzeiros, eu ganhava 500 mil”, contou Otelo sobre sua atuação em “It’s All True”, filme de Welles que nunca chegou a ser finalizado.

A amizade foi abordada à exaustão pela imprensa ao longo dos tempos, especialmente pelos elogios feitos por Welles, que considerou Otelo como genial. “Grande Otelo é o maior ator do Brasil”, dizia.

Obras

“O mais importante filme, pra mim, foi um que uniu o cinema brasileiro de todas as maneiras: Macunaíma. Agora, pessoalmente, me agradou muito (Rio,) Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos”, afirmava Grande Otelo.

Nos palcos, Grande Otelo citava “O Homem de La Mancha”, em que vivia o personagem Sancho Pança e contracenava com Bibi Ferreira e Paulo Autran. Já na televisão, destacava a primeira versão da novela “Sinhá Moça”.

Morte

Grande Otelo morreu em 26 de novembro de 1993, aos 78 anos de idade, quando teve um acidente cardiovascular brutal por volta das 14h30, ao desembarcar em no aeroporto Charles De Gaulle, em Paris.

Otelo estava junto de sua companheira, Terezinha Brandão Costa. Após cumprimentar os funcionários do voo da Varig e brincar com uma recepcionista da empresa, passava por uma passarela quando sofreu uma queda brusca, causada por uma crise cardíaca.