2002 foi o ano das mulheres, amém

Gal Costa, há anos amargando falta de repertório e ausência de estúdios e palcos, é um exemplo de que 2002 termina como começou: ouvindo as mulheres.

Elas são ouvidas de todas as maneiras. Dona Ivone Lara, por exemplo, é lembrada pelo pianista e compositor Leandro Braga, que lhe dedica o álbum Primeira Dama (Carioca Discos), cuja faixa-título foi composta por ele. Numa atitude de respeito, Leandro enfatiza as riquíssimas melodias de Dona Ivone Lara que ficaram, por vezes, num segundo plano, em discos que privilegiam a parte rítmica, trazendo à tona os sinuosos caminhos melódicos que sempre envolveram a obra dessa genial criadora, e fizeram dela uma artista de exceção.

E para coroar o feito, convidou a própria Dona Ivone Lara para abrir o disco e ciceronear o ouvinte numa viagem por um repertório que demonstra, de maneira cabal, toda a imensa riqueza dos compositores de samba que fazem – como ela – da melodia lírica, dolente, profundamente brasileira, a sua maior virtude.

Em 2002, as mulheres se sobressaíram na música clássica, vide a pianista Clara Sverner em O Piano nas Américas (Rob Digital), como na esfera eletrônica, vide Fernanda Porto, que está estreando pela Trama. Embora seja conhecida como “a voz brasileira do drum’n’bass”, Fernanda Porto é bem mais do que isso; estudou música erudita contemporânea junto ao mestre H.J. Koellreuter, é formada em canto lírico, piano, composição e regência. Ela se apresenta nos palcos das principais capitais brasileiras desde 1990.

O mercado fonográfico tanto é das mulheres que a jornalista Marília Gabriela resolveu gravar outro CD. Perdida de Amor (Universal Music) reúne superclássicos da música brasileira, sem medo de errar. E se cerca de participações especiais, como Caetano e Roupa Nova, o maridão Reynaldo Gianecchini e Simone.

Simone, aliás, também está no catálogo da Universal e lançando o álbum Feminino. “É um dos melhores trabalhos de Simone”, alardeia Boni (J.B. de Oliveira Sobrinho). Zeca Pagodinho participa em duas releituras: Se Acaso Você Chegasse e Sem Compromisso. O CD, com direção de Guto Graça Mello, traz um repertório diversificado, tão diversificado que cabe até Raul Seixas (A Maçã) a meio de Lupicínio Rodrigues.

O feminino da seara romântica mais bem fertilizada também chega entre os lançamentos de fim de ano: Roberta Miranda em Pele de Amor (Universal).

A faixa-título, escrita por Roberta, traz a marca de seu romantismo, cantado com paixão e sensualidade, um chamado à vida de quem ama além de si mesmo. E é essa linguagem do amor que navega pelas canções desse álbum – linguagem que transformou Roberta Miranda no maior fenômeno da música romântica no Brasil, com mais de 10 milhões de discos vendidos e incontáveis milhões de fãs que, ano após ano, seguem fielmente sua musa de emoções.

Com lançamento mundial neste mês, Charmbracelet até trouxe Mariah Carey ao Brasil, para brigar por um lugar ao sol no mercado de vozes femininas. O CD (Island Records/MonarcMusic) é um relicário de letras muito pessoais e voz impressionante. Dona de uma espetacular extensão vocal de cinco oitavas, Mariah provou que fica igualmente à vontade em baladas e no pop, muitas vezes incorporando elementos de dance e hip-hop. E, talvez, ainda mais impressionante seja o fato de que todas as composições são de sua autoria.

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