Desta quinta-feira, 01, a domingo, 04, a 20.ª edição da Fest Comix reúne em São Paulo milhares de fãs dos quadrinhos e traz alguns bons artistas dos quadrinhos e mangás a São Paulo, no Centro de Convenções Imigrantes, próximo à Estação Jabaquara, um espaço de 15 mil m². No ano passado, 15 mil pessoas estiveram na convenção. Entre os convidados internacionais, estão nomes como Jim Krueger (vencedor de um prêmio Eisner), Paul Chadwick, Cary Nord e Joshua Dayton Dysart. Entre os brasileiros, Daniel HDR, Will Conrad, Danilo Beiruth, Vitor Cafaggi, Joe Benett, Gustavo Duarte e Fábio Yabu, entre outros.
O escritor e jornalista Gonçalo Junior lança no evento Versão Brasileira Herbert Richers, livro no qual conta a história do maior empresário do ramo da dublagem no Brasil.
Entre os cartunistas estrangeiros, o nova-iorquino Shawn Martinbrough é um dos destaques. Ele desenhou uma história do Capitão América que foi distribuída para as tropas norte-americanas no front, em 2011. Também colaborou com Robert Kirkman (criador de Walking Dead) na série Thief of Thieves. Ele também é autor de How to Draw Noir Comics: The Art and Technique of Visual Storytelling, de 2007.
Pela primeira vez no Brasil, Martinbrough (que também é roteirista e romancista) desenha fundamentalmente em branco e preto e seu trabalho denota significativa influência dos movimentos de afirmação e ativismo dos anos 1960.
Garoto negro do Bronx, Martinbrough escavou seu espaço num meio dominado por brancos, no qual os personagens negros se contam nos dedos de uma mão. Para Martinbrough, o significado de ser um artista negro dos quadrinhos é simbólico e importante. “Bom, primeiro, quando você lê um gibi, você não faz ideia de quem o desenhou, de como ele é. Durante muito tempo, isso não parecia fazer diferença. Mas eu sei quem eu sou. Hoje, quando eu desenho, mesmo quando desenho Batman, eu tento representar a diversidade, porque é parte do que eu aprendi crescendo como um garoto afro-americano”, disse o desenhista ontem, já instalado em um hotel perto do Aeroporto de Congonhas.
O fato de quase não haver super-heróis negros no meio da indústria também não surpreende Martinbrough. “Acho que as pessoas tendem sempre a desenhar o que é mais familiar para eles. Na DC Comics, sempre predominaram os desenhistas brancos, e os homens brancos desenham mais aquilo que conhecem, é natural. Os roteiristas também retratam o seu universo. Muitos desses artistas não têm amigos negros. Acho que, quanto mais vozes diversas existirem nos comics, mais será possível que esse meio reflita a sociedade onde a gente vive neste momento”, ele afirmou.
Segundo Martinbrough, isso já sofreu uma mudança significativa nos últimos tempos. Ele exemplifica com o caso dos X-Men, o mais vendido gibi do mundo. A personagem Tempestade, por exemplo, não era negra originalmente, mas hoje é representada como uma mulher negra. “É um sintoma de um mercado mais diverso”, analisa.
Inclusive, ele diz que foi uma honra desenhar um dos raros personagens negros dos comics, Luke Cage, que ele admirava quando era menino. Foi autor de Luke Cage Noir, com Adam Glass e Mike Benson. “Quando estudei artes em Nova York, eu fui realmente muito influenciado por artistas que utilizavam um alto contraste entre preto e branco, que faziam uso de pesadas sombras. Uma escola de fontes de luz muito dramáticas. Depois, quando me tornei fã de quadrinhos, fui muito influenciado por artistas como Alex Toth, Frank Miller, Mike Mignola, para mencionar alguns. É interessante isso: por causa do alto contraste, as pessoas me perguntam todo o tempo: como você desenvolveu seu estilo?”
Sobre um certo sabor de jazz que escorre de seus desenhos, o artista assume que é um dos seus universos preferidos. “Acabo de desenhar uma graphic novel que se passa entre os anos 1920 e 1930, em parceria com Joseph Illidge, durante a renascença do Harlem. Sou um grande fã do jazz, de onde vêm muitas das minhas influências. Adoro esse campo clássico das artes gráficas. Eu me inclino a pensar como Jack Kirby, que dizia que o jeito standard de desenhar é mais efetivo.”
Embora aborde sempre a estética noir, Martinbrough garante ser mais influenciado pela TV e tem grande apreço pelo gibi 100 Bullets, de Brian Azzarello e Eduardo Risso.
Segundo a organização, entre os convidados que são destaques desta edição estão quadrinistas brasileiros que são pouco conhecidos no Brasil, mas já conquistaram o mercado internacional. São os casos de Will Conrad e Joe Bennet. Joe Bennett já desenhou praticamente todos os principais sucessos da Marvel, e da DC Comics: Homem-Aranha, Liga da Justiça, Incrível Hulk, Quarteto Fantástico, Wolverine, Thor, Homem de Ferro e Capitão América. Will Conrad fez diversos trabalhos para as editoras Marvel, Dark Horse, Dynamite, Top Cow e, atualmente, DC Comics. Ilustrou personagens como Wolverine, Homem-Aranha, Novos Vingadores, Serenity, Kull, X-23, Pantera Negra, Capitão América, X-Men, Novos Titãs, Stormwatch, Lanternas Vermelhas e Asa Noturna. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.