O nome de Adoniran Barbosa aparece no centro de um projeto ambicioso a partir desta quarta-feira, 34 anos depois de sua morte. Um disco e um DVD, lançados pela Gravadora Eldorado sob o título Adoniran – Se Assoprar Posso Acender de Novo, trazem 14 faixas nunca gravadas, com letras creditadas ao autor de Trem das Onze. A produção é grandiosa e trabalha em várias frentes de intérpretes. Ney Matogrosso canta Passou (que aparece assinada por Adoniran e Pepe Avila); Criolo interpreta Até Amanhã (Adoniran e Wilma Camargo); Liniker é a voz de O Barzinho (Adoniran com Renato Luiz); e Fernanda Takai com Leo Cavalcanti cantam O Rostinho de Maria (outra de Adoniran com Pepe Avila).

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O material começa a ser mostrado nesta quarta, com exclusividade, pela Rádio Eldorado (FM 92,9), em boletins que entram às 9h30 e 15h30. Isso até o dia de lançamento, em 25 de novembro. A produção do áudio ficou com Lucas Mayer e a de vídeo (o DVD traz clipes das canções), com Cássio Pardini.

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As músicas consideradas perdidas de Adoniran são uma questão antiga que ainda levanta poeira no meio artístico. Mesmo sem provas, pessoas que conheceram bem o sambista do Bixiga não sentem que ele passou de fato por ali. Alguns versos soariam rebuscados demais, ou pertencentes a um universo estranho ao compositor. A música defendida por Ney Matogrosso seria uma delas. “Passou como deve passar o que passou, e como passou só sei que deve passar como a onda sobre o mar, como a ave sobre o mar, o rio nas pedras lisas, as árvores sentindo a brisa, o vento pelas folhagens, as flores e as aragens… Passou o ódio que ficou de alguém de estar só sem ninguém / Passou ontem, passa hoje, também amanhã vai passar.”

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Ney diz que não sabia da polêmica até a reportagem ligar. “Eu não fazia ideia disso, e essa música me parece dele (Adoniran). Outra questão é que ninguém está cantando com aquele tipo de dialeto que Adoniran criou, isso pode fazer diferença”, diz. Eduardo Gudin disse não às letras duas vezes. A primeira foi quando procuravam parceiros para musicarem o material deixado pelo sambista depois de sua morte. A segunda foi mais recente, quando os produtores do projeto o convidaram para gravar um depoimento sobre o músico. “Eu não tive a certeza de que aquilo era de Adoniran. Por isso, preferi ficar de fora”.

A qualidade do material é o que o defende e, ainda que não houvesse o nome de Adoniran, seria um bom disco. Há momentos em que o sambista parece se fazer mais presente, como na graciosa Receita de Pizza (musicada pelo sambista Jorge Costa e defendida por Mauricio Pereira): “O pizzaiolo de branco amassa a massa e a farinha / soco, murro e bofetada na coitada da bolinha.” Em Encalacrado, assinada só por Adoniran, Marco Matolli e Fabiana Cozza dividem um tempo que lembra muito Martinho da Vila. O violonista Paulinho Nogueira, morto em 2003, também deixou música para uma das letras. Ninguém Pode Negar é cantada por Eduardo Pitta. “Mas ninguém pode negar por abstêmio que seja que a melhor coisa do mundo é tomar uma cerveja”.

O responsável pela Gravadora Eldorado, Murilo Pontes, diz que foi feito um exame grafotécnico para se ter a certeza de que as letras seriam de Adoniran. “Pelo exame, as letras são dele.” Os responsáveis pelo projeto querem ainda fazer um documentário e um longa sobre o maior sambista de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.