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1ª retrospectiva de Volpi na Europa conquista princesa e colecionadores locais

Aberta no dia 8 pela princesa Caroline de Hanover, no Novo Museu Nacional de Mônaco, a primeira retrospectiva do pintor Alfredo Volpi na Europa, La Poétique de la Couleur, conquistou colecionadores de prestígio como Silvia Fiorucci, dona de um dos melhores acervos de arte do continente europeu. Mas, acima de tudo, seduziu a própria princesa, que, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, concedida durante almoço na casa da família Fiorucci, discorreu com erudição sobre a exposição que acabara de ver.

“Penso que Volpi foi um artista incrivelmente sintonizado com seu tempo”, disse Caroline, a filha mais velha da princesa Grace Kelly e também duquesa de Brunsvique-Luneburgo. Formada em Filosofia na Sorbonne, Caroline disse que ficou fascinada pela pintura de Volpi, “especialmente por sua construção cromática”. Bem informada sobre a influência do cromatismo de Matisse na pintura de Volpi, a princesa observou ainda que identificou claramente a ligação do pintor com os pintores pré-renascentistas italianos, citando Giotto e Cimabue.

A esses dois pintores do Trecento italiano, o curador da retrospectiva, Cristiano Raimondi, acrescentou um pintor florentino do Quatrocento, Paolo Uccello, referindo-se ao tríptico A Batalha de San Romano, pintado entre 1435 e 1460. “É possível ver na série de pinturas com mastros e bandeiras que Volpi certamente se inspirou nessa obra de Uccello, o que desfaz o mito de que ele era um pintor ingênuo”. De fato, em sua visita à capela de Scrovegni, em Pádua, Volpi ficou tão impressionado com os afrescos em têmpera de Giottto que é possível dizer, segundo o curador, que há um antes e depois na pintura volpiana após essa viagem, em 1950.

“Poderia citar outros pintores italianos com os quais Volpi se identificou, tanto pré-renascentistas, como Margheritone d’Arezzo, como os modernos, especialmente Morandi, com o qual tinha afinidade, considerando sua exploração de uma espacialidade anti-ilusionista na tela, que deve algo à pintura metafísica.” Volpi ficaria feliz ao ouvir essas observações do curador Cristiano, filho do grande baixo e maestro italiano Ruggero Raimondi, presente à inauguração em Mônaco. Muitas vezes reduzido ao estereótipo de pintor naïf e iletrado, que reproduzia bandeirinhas de festas juninas, Volpi foi elevado com a retrospectiva em Mônaco, que vai seguir para outros países europeus, ao mesmo patamar de suas grandes referências – de Matisse a Morandi.

Organizada pela galeria paulistana Almeida e Dale com o apoio do Instituto Volpi, a retrospectiva do pintor apresenta um conjunto com mais de 70 obras, cobrindo quase todos os períodos, de 1940 aos anos 1970. Há desde as paisagens que representam o prelúdio de suas composições geométricas abstratas até os mastros e bandeirinhas da fase final, passando pelas fachadas dos anos 1950 e 1960 (período mais reforçado pelo curador).

Vários colecionadores brasileiros contribuíram para a realização da mostra, emprestando obras raras e premiadas do artista, entre eles a família de Pedro Mastrobuono, diretor do Instituto Volpi – uma das suas telas, A Sereia, de 1960, ilustra o outdoor que anuncia a mostra no Jardin Exotique de Mônaco, ao lado do museu. Mastrobuono destaca a importância da retrospectiva para a divulgação da obra de Volpi na Europa, pois o pintor, que teve trabalhos expostos na Bienal de Veneza de 1962 e em galerias europeias, nunca havia sido contemplado com uma exposição em um museu do continente, apesar de ter nascido lá, em Luca, Itália, em 1896.

A pincelada volumétrica de Volpi e sua poética cromática já começam a dar frutos comerciais na Europa. Antes mesmo da mostra (não comercial) ser inaugurada no Museu de Mônaco, três colecionadores do principado haviam comprado obras da galeria que organizou a exposição. No dia 16, uma outra mostra (desta vez comercial) será aberta na galeria S2 da Sotheby’s, em Londres, organizada pela galerista paulistana Luisa Strina.

Na exposição, as obras que mais chamaram a atenção da princesa foram as telas da fase concreta de Volpi (anos 1960), especialmente aquelas que traduzem uma nova articulação formal depois do seu contato com os concretos paulistas. A princesa ficou um tempo razoável diante da uma tela com um triângulo vermelho sobre fundo branco (uma bandeirinha na horizontal, que explora a opacidade da têmpera). As telas dessa fase – curta e difícil para o artista pela reação às cores chapadas – são as mais disputadas (e caras) de Volpi.

A diretora do Museu de Mônaco, Marie-Claude Beaud, a esse respeito, destaca a autonomia de Volpi diante de movimentos que tentaram sua filiação. “Esta é uma das mostras mais originais que já exibimos e isso se deve justamente à singularidade de Volpi, muito ligado à tradição pictórica europeia, é certo, mas livre”.

O REPÓRTER VIAJOU A MÔNACO A CONVITE DA GALERIA ALMEIDA E DALE

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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