Artista/Autista

Influencer Nadime traz o autismo ao debate sob diferente ponto de vista: o de quem tem o espectro

Imagem mostra a influencer Nadime, traz o autismo para o debate sob um diferente ponto de vista: o de quem tem o espectro.
Influencer Nadime traz o autismo para o debate sob um diferente ponto de vista: o de quem tem o espectro. Foto: Reprodução.

As redes sociais apresentam conteúdos que vão do humor às discussões acaloradas sobre diversos temas. Influencers do mundo inteiro falam de moda, saúde, educação, finanças, notícias e por aí vai. Dentro desse universo das postagens, a musicista Nadime Samaha, 27 anos, atrai seguidores ao trazer o autismo para o debate do ponto de vista de quem foi diagnosticada com o transtorno.

Recentemente, ela confirmou o que já suspeitava desde sempre: se enquadra no nível 1 do transtorno do espectro autismo (TEA). Ao compartilhar suas angústias pelo Instagram, TikTok e YouTube, a jovem ressalta o tema da inclusão e mostra que é possível superar desafios sem perder o bom humor. Só no Instagram são mais de 50 mil perfis seguindo a @nadimesamaha, que descreve como “Artista/Autista”.

O nível 1 do TEA, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), apresenta alguns sinais do autismo clássico, só que de forma mais branda, podendo afetar, inclusive, a capacidade intelectual ou necessariamente se manifestar em pessoas com uma inteligência acima da média. São dificuldades em situações sociais, tendência a não sair da zona de conforto ou experimentar coisas novas, dificuldade de sair da rotina, de estar em lugares barulhentos. O DSM-5 traz três classificações para o autismo. O nível 2 é o moderado e o nível 3 o severo.

“Sempre senti isso. Dificuldades que afetaram a minha qualidade de vida sem eu saber direito o porquê. Até que, no começo do ano passado, passei por uma bateria de testes, em uma neuropsicóloga, e recebi o diagnóstico. Foi o ponto de partida para a minha vida começar a melhorar”, conta a Nadime.

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E foi o que aconteceu. No meio da pandemia de coronavírus, a influencer passou a dividir o seu cotidiano de uma forma bem-humorada nas redes sociais. As postagens vêm sendo um modo para preencher o tempo livre e aliviar as angústias. Ela só não esperava tanto retorno positivo das pessoas. “Foi uma surpresa pra mim. Quando eu tive os primeiros virais, as pessoas começaram a me seguir, foi bem legal. Eu não imaginava que as pessoas estavam interessadas no assunto, queriam saber sobre isso e achavam o meu humor interessante. Fui trazendo o assunto do autismo com calma”, explica.

O conteúdo fala um pouco de tudo. Comentários sobre filmes, comportamentos, música, testes de aplicativos, passeios com o namorado e, claro, o modo como ela lida com o diagnóstico do autismo. “Essa parte do diagnóstico do autismo é bem complexa. Para a família, para as pessoas, não muda nada na experiência que elas têm com você, ainda mais se tratando de nível 1. Eles sempre me viram como alguém muito capaz de fazer as coisas. Mas eu sofria com o esforço para mascarar as dificuldades. Hoje, minha família compreende isso melhor e há um cuidado um pouco maior comigo”, detalha a influencer.

Mas o sucesso nas redes foi inesperado. “Eu estava fazendo um negócio para me divertir e acabou chamando a atenção das pessoas. Muitas me mandam mensagem falando que descobriram o diagnóstico ou foram até o diagnóstico de autismo graças a vídeos que eu postei falando sobre isso. Eu fico emocionada por poder levar essa informação que eu não tive. Se eu tivesse, quem sabe minha vida seria diferente”, diz a jovem.

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Por outro lado, ela sempre levou uma “vida normal”. Escola, família, amigos, faculdade de Direito até o sétimo período e amor pela música. “Até a metade da pandemia, trabalhava em uma escola de música, com aulas de canto, mas saí porque minhas questões pessoais com o autismo estavam me atrapalhando. Também tocava em barzinho com meu namorado”, conta.

Agora, além de dividir sua rotina de influencer com o seguidores, Nadime conta que pretende retomar aos poucos sua vida de “artista/autista”. A sua paz emocional está na música, onde mora o seu “hiperfoco”. A jovem compartilha suas canções no Youtube e Spotify. “Eu não conseguiria sem ajuda, sem apoio e compreensão. As pessoas falam muito do autismo na infância. Na vida adulta, parece que o autismo desaparece. E não é assim. Essas crianças vão crescer e terão necessidades, dificuldades com a rotina. O apoio tem que ser para a vida toda. A música me ajuda a entender tudo isso”, reflete.

imagem mostra Nadime contou que o diagnóstico de autismo a fez procurar formas alternativas para extravasar a sua arte.
Nadime contou que o diagnóstico de autismo a fez procurar formas alternativas para extravasar a sua arte. Foto: Reprodução.

Para conseguir seguir em frente com a música, ela conta que o diagnóstico a fez procurar formas alternativas para extravasar a sua arte. “Dentro da música, eu tinha grandes expectativas, queria fazer muitas coisas que eu, na verdade, não conseguia. Isso me deixava desconfortável. Agora, compreendo que posso buscar outros caminhos, com atividades mais caseiras, com o uso das redes sociais, e estou bem mais tranquila em relação a tudo isso”, analisa ela.

A Nadime tem dois videoclipes no Youtube e três músicas no Spotify. “Com orientação, com terapia, com ajuda, a demanda que era exigida, que não estava sendo legal para mim, pode ser trabalhada de uma forma mais leve, dentro de objetivos que eu possa alcançar. É muito bom poder dividir isso com as pessoas que talvez se enquadrem no meu caso, para que elas também possam seguir em frente”, finaliza a influencer.

LIVE com a Nadime e especialista

Para falar mais sobre seus projetos, sua relação com o autismo e trajetória na música, a Nadime estará em uma live com o repórter Alex Silveira e com Ester Cardoso de Moraes Galter, que é psico pedagoga e mãe de autista da Associação de Atendimento e Apoio ao Autista (Aampara). A Live será na terça-feira que vem, dia 18, às 19h, no Instagram da Tribuna, da Nadime e do Instituto GRPCOM. Participe e tire suas dúvidas.

Projeto Inspir “AÇÃO”

Como falar com o público jovem e despertar o interesse dele para as notícias? O Instituto GRPCOM e a Tribuna do Paraná se uniram para pesquisar tendências e reunir um grupo de influenciadores digitais para provocar pensamento, reflexão e ação.

Pesquisas mostram que os jovens, na faixa etária de 16 a 24 anos, utilizam, cada vez mais, as redes sociais como principal meio de socialização, informação e conscientização. Através de quatro influenciadores digitais das áreas de leitura, educação financeira, sustentabilidade e inclusão –  temas contemporâneos transversais na BNCC – pretendemos “conversar” com esses jovens, com uma linguagem acessível e aberta para interação.  

O projeto pretende ainda contribuir contra a desinformação, ajudando os jovens a buscarem informações em fontes confiáveis, diferenciando fatos de opiniões.

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