Paris (AE) – Três dias depois da final da Copa do Mundo, Zinedine Zidane, escolhido o melhor jogador da competição, abandonou seu silêncio para explicar seu gesto considerado imperdoável, atingindo com uma cabeçada o defensor italiano Marco Materazzi, o que causou sua expulsão do campo e pode ter comprometido uma eventual vitória francesa.
"As vezes os gestos são mais duros do que as palavras", disse Zidane, referindo-se aos insultos dirigidos à sua família pelo defensor italiano, principalmente à sua irmã e sua mãe. Zidane lamenta sua reação e pediu desculpas públicas aos milhares de crianças e educadores que assistiram à partida, mas não se arrepende de sua reação, tendo afirmado: "Prefiro tomar um soco na cara do que ouvir as palavras proferidas por esse jogador". As ofensas e insultos, segundo Zidane, foram mais morais e familiares e não propósitos racistas.
O jogador francês, que descarta inteiramente sua volta ao futebol, contou como ocorreu o incidente dizendo que Materazzi começou tentando agarrá-lo insistentemente pela camisa, travando com ele um diálogo irônico: "Se você está tão interessado na minha camisa, basta esperar pelo fim da partida que eu poderei oferecê-la", disse Zidane.
Imediatamente começaram os insultos do italiano, repetidos numerosas vezes e que resultaram na perda do sangue frio e na agressão. "Ele respondeu com palavras muito duras causando a minha revolta, pois essas são coisas que são decididas rapidamente sem tempo de pensar." Afinal, disse Zidane, "as palavras me atingiram profundamente envolvendo minha família, pois antes de tudo sou um homem como qualquer outro".
Na sua entrevista, concedida separadamente a dois canais da televisão francesa, Zidane repetiu suas desculpas aos telespectadores, mas em particular, às crianças: "Quero pedir desculpas por meu gesto, pois reconheço que ele foi intolerável para as crianças, mas o jogador italiano não tinha razão de dizer o que disse", acrescentou.
"Minha reação pode não ter sido digna", prosseguiu Zinedine Zidane, "Mas é preciso que os dirigentes da Fifa entendam que para haver uma reação é preciso que haja uma provocação. Hoje, pune-se pela reação, mas não se toma conhecimento das provocações", disse, pedindo que sejam aplicadas sanções também contra os provocadores.
Quanto ao fato de ter sido chamado de arrogante pelo atleta italiano, Zidane lembrou que nunca a arrogância fez parte de sua vida, desmentindo, entretanto, que nesse episódio tenha sido atacado com propósitos racistas, mas apenas familiares. "Isso ocorreu, mas não no momento do jogo, mas sim após a partida, através de declarações de certos políticos italianos em relação à equipe francesa constituída de negros, islamitas e terroristas", disse Zidane, lembrando o que afirmou o vice-presidente do Senado italiano.
O capitão da seleção vice-campeã do mundo não se orgulha de seu gesto, mas não o lamenta, nem se mostra arrependido, lembrando que os insultos foram graves e não poderia aceitá-los, mesmo não tendo nenhum interesse nesse fim triste de carreira – estava a apenas 10 minutos do final de sua trajetória. Perguntado se sua presença no final da partida poderia mudar o resultado, disse que não sabe dizer e que tudo poderia ter acontecido. "Não tenho certeza, se tivesse cobrado o meu penal o resultado poderia ser outro."
A partir de agora, Zidane pretende se dedicar a sua família, seus filhos, e pensar na sua nova vida. Ele encerra sua carreira com 800 partidas disputadas, 31 gols na seleção francesa e 14 cartões vermelhos, o que demonstra que o chamado "anjo azul" do futebol francês é também um homem como outro qualquer.