Zico reclama do imediatismo do futebol

Nuremberg (AE) – Zico está recuperado. O abatimento demonstrado na segunda-feira, quando viu a vitória do seu Japão sobre a Austrália esvair-se em oito minutos já é passado. Os japoneses perderam por 3×1 e se complicaram. Hoje, precisam ao menos empatar com a Croácia para continuarem com esperanças – nesse caso remotíssimas – de chegar às oitavas-de-final.

Mas o Galinho não se entrega. "Eu sou guerreiro", disse ontem, em entrevista exclusiva à Agência Estado, após o treino de reconhecimento do campo em Nuremberg, local do jogo com os croatas.

Endeusado pelos japoneses, ele considerou normal as críticas recebidas após a estréia, se irritou com os comentários de que os dirigentes teriam interferido na escalação do time e fez uma constatação: "O Japão que é um país de paciência, parece que no futebol já começa a não ter mais essa cultura."

AE – O que você fez para recuperar o moral dos jogadores?

Zico – O futebol é superação. Isso já aconteceu com o Japão, nas Eliminatórias, depois que perdemos do Irã, e na Copa das Confederações, quando perdemos do México na estréia e depois ganhamos da Grécia, a campeã européia, e fomos decidir a vaga com o Brasil. Usei esses exemplos com os jogadores.

AE – E você, como superou o seu próprio abatimento?

Zico – Estou acostumado a essas situações. Eu não me entrego, não. Eu sou guerreiro, vou para o pau. Acaba um jogo, você fica chateado, para baixo. Mas dormiu, acordou, vamos em frente, tentar superar isso. Só sou novo como técnico, mas como alguém do futebol já vi acontecer essas coisas um monte de vezes.

AE – Você foi muito criticado pela imprensa…

Zico – Fazer o quê, vou receber elogio depois de levar três? Isso é assim mesmo.

AE – Mas também falaram que os dirigentes estavam interferindo na escalação…

Zico – O dia que passar essa coisa (ingerência externa na escalação) pela minha cabeça, você vai me ver trabalhando num banco, não como técnico. O dirigente está trabalhando há quatro anos comigo. Não é nenhum burro. Sabe o que eu faço, penso, o que pode acontecer. Lógico, se você perdeu, o dirigente sabe que vai mexer no time. Aí, ele faz um comentário: "Eu acho que vai mexer no time". E daí? Agora vir dizer: "tem que fazer isso…" comigo, ninguém, meu irmão. AE – A pressão sobre o treinador no Japão, então, é tão grande quanto no Brasil?

Zico – É, porque o Japão veio esperando muito coisa. Pelos resultados que aconteceram, todo mundo esperava muito. O Japão pela primeira vez em sua história chega a uma Copa com esperança, porque criou uma geração de bons jogadores. Então, você perde, é lógico que vem a pressão.

AE – Defina o Zico treinador.

Zico – Eu estou aprendendo, vou acertar, vou errar. Agora, em quatro anos eu classifiquei em primeiro nas Eliminatórias, fui campeão da Copa da Ásia. Aí, estreei na Copa do Mundo e não fui bem. Qual o problema? Então, é o imediatismo que atrapalha? É. Eu nunca escondi de ninguém que o Japão era um time que podia ganhar três partidas, mas podia levar três porradas também. Espero que fique só numa.

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