Zetti já mostrara nas partidas contra Iraty e J. Malucelli que tem estrela – suas substituições não só ajudaram a construir resultados como foram protagonistas deles. Sábado, no 3 a 1 sobre o Nacional, ele demonstrou duas facetas: a de treinador ousado, que não abdica do poder ofensivo mesmo com um resultado definido, e a de comandante pleno do grupo, assumindo o controle do elenco em pouco tempo.
Outra característica de Zetti ajuda a entender o Paraná Clube de 2007. Ele é franco, direto, e não esconde defeitos e possíveis problemas que aconteceram ou que venham a acontecer. Ouvir uma coletiva do treinador tricolor remete a Telê Santana, por conta da franqueza do goleiro campeão do mundo pelo São Paulo comandado pelo Mestre. ?Nós menosprezamos o adversário, começamos a perder jogadas e demos espaço para o Nacional. Isso não pode acontecer?, avisou o técnico paranista no intervalo da partida do último sábado.
A franqueza ficou mais evidente ao confirmar que teve uma altercação com o zagueiro Aderaldo – experiente, o jogador cobrou em demasia os companheiros durante o jogo, e acabou discutindo até com Zetti no 2.º tempo. ?Ele ficou cobrando o Gérson por causa de um lance, e enquanto isso o Marcos (Leandro, goleiro) não tinha com quem jogar. Disse a ele que o lance tinha acabado, que não havia por que continuar falando?, resumiu.
Zetti mostrou o controle do elenco – e também autocontrole – ao conversar com Aderaldo logo depois do jogo, antes que ele e o zagueiro passassem pelos repórteres. ?São coisas que acontecem, e que o mais importante é deixar passar. Sempre há disso nas partidas, e todos fazem para buscar o melhor do Paraná?, afirmou.
Contagem regressiva pro Chile
Irapitan Costa
Só faltam dez dias. É a reta final de preparação do Paraná Clube para um dos jogos mais importantes de sua história. No próximo 1.º de fevereiro, no Estádio Municipal de Calama, no Chile, o Tricolor representará o Estado e País na Libertadores. Com uma base pré-definida, o técnico Zetti pretende aproveitar esse tempo para ajustes táticos e um melhor entrosamento, que até o último sábado havia sido deixado de lado, em favor de uma necessária evolução física dos atletas.
?Mais do que um risco calculado, foi um risco premeditado?, comentou Zetti, que aos 42 anos – completados no último dia 10 de janeiro – disputa seu primeiro torneio continental na condição de treinador. Um segundo sonho em sua carreira, já que o primeiro foi ter participado do torneio como goleiro. Participado e conquistado, por duas vezes (1992/93), tendo ainda um vice-campeonato no ano subsequente. Experiência não lhe falta e foi este quesito que pesou no momento de sua contratação.
Zetti – ao lado de Silas, seu auxiliar-técnico, outro atleta de seleção brasileira, com grande ?rodagem? em jogos internacionais – é a ?cara? do Paraná nesta Libertadores. Com seu estilo ponderado e pacato, nos treinos e também à beira do gramado em dias de jogos, o ex-goleiro conquistou a confiança do grupo. ?Eles nos mostraram o caminho a seguir.
Nós preparamos para chegar no Chile com um condicionamento físico aceitável para um jogo deste porte?, lembrou o capitão Beto, numa referência ao trabalho dos preparadores físicos do clube.
Fernando Moreno chegou ao Paraná por indicação de Zetti, com quem trabalhara em quase toda a sua recente história como treinador.
O entrosamento com Marcos Walczak, Lori Sandri Jr. e Fernando Gibran, ocorreu sem traumas. O quarteto montou uma estratégia de preparação na busca por um lastro físico suficiente para ?dar pernas? ao grupo de trinta jogadores visando a largada da competição continental. ?De nada adiantava acertar um time, se esses jogadores não tivessem fôlego para executar a missão?, lembrou Zetti.
O técnico não se cansa de frisar que a Libertadores não o ?bicho de sete cabeças? que muita gente pinta.
?Em grau de dificuldade, nada se compara ao Brasileiro. A Libertadores é competição de tiro curto. Começamos já com um mata-mata?, disse Zetti. ?Passando – e tenho certeza da classificação – teremos seis jogos para acertar e fortalecer o time. A partir daí, é só decisão?. No total, no caso do Paraná, que disputa a fase eliminatória inicial, são dezesseis jogos para o título. ?É um torneio de paciência e de força. Você deve estar preparado para as dificuldades fora de casa, onde um empate ou até mesmo uma derrota com pequena margem de gols não pode abalar a confiança do grupo?, frisou o comandante paranista.
Zetti pretende aplicar na Libertadores aquela que foi detectada como a principal virtude desse grupo: a velocidade de meias e atacantes. Por isso, o que se percebe nessa fase inicial de preparação, é que o técnico aposta numa estratégia teoricamente mais agressiva, mais ousada. Lembra, no entanto, que esse posicionamento só dará resultado com participação coletiva. ?Disciplina tática e bom posicionamento são ingredientes obrigatórios?, destacou. ?Hoje em dia, meias e atacantes têm que ajudar na marcação?. Esse sentido coletivo será posto à prova, em data e local definidos: no Chile, dentro de dez dias.
Paraná mostra coragem nas substituições e aos poucos vai acertando o pé
A ousadia foi confirmada quando, com o resultado assegurado – a partida já estava 3 a 1 para o Tricolor -, ele testou uma arriscada formação, com Lima substituindo o lateral Alex. Naquele momento, Gérson passou para a lateral, Henrique para o meio e Lima juntou-se a Vinícius Pacheco no ataque – e, com um alteração, Zetti pôs o Paraná com cinco jogadores de forte presença ofensiva.
?É bom saber que os jogadores estão se sentindo bem com essas variações. Já posso usá-los em posições em que acredito que eles vão render?.
E o técnico também não se furta a avaliações individuais -ao contrário de muitos ?professores?, que dizem que não querem ?falar sobre assuntos que só podem ser comentados no vestiário?. ?Gostei muito do Gérson, acho que o Henrique está se sentindo muito bem, e o Dinélson é um jogador muito inteligente e rápido. Deus não deu altura para o Dinélson, mas lhe deu inteligência?, disse Zetti, que aproveitou o desfecho da entrevista para avisar o lateral Egídio que ele deve ser o jogador do 2.º tempo, e não da 1.ª etapa.
?O Egídio adora tocar de três dedos, e ele sabe que vou ficar pegando no pé dele e cobrando. Quando ele jogou com seriedade, fez um passe perfeito para o Gérson no lance do primeiro gol. É assim que tem que ser?, finalizou o treinador.
Laboratório final pra Libertadores
A Federação Paranaense de Futebol – FPF deve confirmar hoje os jogos do Paraná para esta semana – quarta, às 17 horas, contra o Engenheiro Beltrão, no João Cavalcante Menezes, e sábado, no mesmo horário, contra o Londrina, no Durival Britto. Logo depois da partida com o Tubarão, a delegação tricolor inicia a viagem para Calama, local do jogo de ida com o Cobreloa pela Libertadores, no dia 1.º de fevereiro.
Para os jogos que antecedem a ida ao Chile, Zetti tentará utilizar o máximo de titulares possível – mas sem exigir muito deles, para que todos estejam prontos para o desafio com o Cobreloa.
Um que deverá ser poupado é o goleiro Flávio, que sentiu dores na virilha e foi substituído no intervalo da partida de sábado contra o Nacional.
?Ele estava com um desconforto, e resolvemos poupá-lo?, afirmou o médico Rafael Kleinschmidt, que preferiu não fazer prévias de recuperação antes do resultado dos exames a que o Pantera será submetido. ?O que eu posso dizer é que o caso preocupa?, resumiu.