Rio de Janeiro – Antes mesmo do Equador, a grande preocupação da comissão técnica da seleção brasileira foi proteger Júlio César, do Flamengo. Zagallo já assumiu ser o principal escudo do goleiro que foi agredido e agrediu com toda violência possível – com direito a socos e pontapés – torcedores do Flamengo domingo à noite, após derrota para o Atlético Mineiro por 6 a 1.
"O Júlio César revidou como deveria. Ele foi agredido primeiro e mostrou que tem sangue nas veias. Entendo perfeitamente a sua atitude. Ele está de parabéns, mostrou que é homem. O que aconteceu não afetará o seu desempenho na seleção brasileira. Se precisarmos escalá-lo contra o Equador, o faremos de olhos fechados. Ele continua com toda nossa confiança e não vai se abater por ter dado uns socos em bandidos que fingem ser torcedores do Flamengo", dizia irritado Zagallo, no saguão do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
"Nós, jogadores, daremos todo o apoio que ele merece. O Júlio César reagiu. Ele não foi atrás do torcedor para bater. Foi perseguido no aeroporto", dizia Pedrinho.
Mas apesar de todo apoio e confiança, Júlio César se mostrava abatido e ainda muito revoltado com o que aconteceu no domingo à noite. "Eu fui vítima de um ato crocodilagem. O sujeito me deu um soco nas costas. Fiquei louco e o puxei, joguei-no chão e passei a agredí-lo também. Não se faz isso com ninguém, muito menos comigo que sou pai de família. Tive que tomar uma atitude. Não sou idiota", desabafava Júlio César.
O goleiro deixou escapar sua desconfiança de que tudo foi facilitado pela diretoria do Flamengo, irritada com a derrota para o Alético. "Não acreditei quando não vi seguranças ou guardas assim que desembarquei no aeroporto. Os torcedores tiveram toda facilidade para chegar perto dos jogadores. Quando viram as câmeras de televisão serem acesas eles ficaram mais confiantes e passaram a nos agredir. O que é mais injusto é que todos os jogadores foram agredidos e revidaram. A TV só mostra eu e o Zinho brigando com os torcedores. Mas isso não vai me intimidar não. Vou continuar jogando no Flamengo e na seleção brasileira", prometia Júlio César.
O preparador de goleiros Wendel disse que já sabia o que fazer com o Júlio César. "Nós não vamos tratá-lo de maneira diferente. Ele não precisa de escudo de que ninguém fique tomando conta dele. Ele é jovem, mas há muito tempo é goleiro titular do Flamengo. Temos de ser profissionais e pensar na vitória da seleção brasileira contra o Equador. Esse é nosso principal objetivo. O Júlio tem personalidade forte e vai saber suportar essa pressão. O Júlio já conseguiu ganhar a confiança não só minha como do Parreira e do Zagallo. Ele não sai da seleção por causa de briga no seu clube não", avisava o preparador de goleiros.
Zagallo fazia questão de destacar o principal mote de tanta confusão em relação a Júlio César. "O que acontece é que os torcedores perderam o respeito e a admiração que deveria ter aos seus ídolos. Taí a mãe do Robinho que foi seqüestrada e agora essa agressão estúpida aos jogadores do Flamengo. Mas eu conheço bem a Gávea e se isso tivesse acontecido comigo, eu revidaria também à altura. Não sou pastel de tomar um soco e ficar dando risada."
No embarque da seleção para o Equador, a CBF não reservou qualquer segurança aos jogadores. Tanto que Júlio César acabou deixando escapar uma frase significativa. "Não é à toa que não dormi ontem à noite. Os jogadores de futebol estão muito expostos no Brasil. Eu estou com medo de andar na rua", confessou.
O contrato de Júlio César com o Flamengo termina em dezembro e ele já adiantou a amigos que depois que tudo aconteceu no domingo ele apenas terminará o campeonato brasileiro na Gávea. Quer ir de qualquer maneira para a Europa ou São Paulo em 2005. Seu período no Flamengo já acabou.
Seleção: malandragem contra altitude
Rio – Usar a malandragem é a receita da seleção para derrotar o Equador e a altitude de Quito, no confronto de amanhã, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006. Com este discurso, jogadores e comissão técnica embarcaram no início da tarde de ontem no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, com destino a Guayaquil, onde a equipe ficará concentrada até o dia da partida.
"É difícil ter que jogar na altitude, mas vamos usar a malandragem, a nossa experiência e saber correr", disse o meia Pedrinho, do Palmeiras. O jogador retorna à seleção após duas convocações, uma em 98, quando se contundiu e não pôde se apresentar, e a outra este ano, para o amistoso contra o Haiti. "Agora é diferente, porque o jogo tem valor. Vou aproveitar todo o tempo, até quando não estiver treinando, para mostrar ao Parreira (Carlos Alberto, técnico) que posso ficar no grupo."
Além de Pedrinho, embarcaram no Rio outros três atletas: os meias Ricardinho, do Santos, e Kléberson, do Manchester United, além do goleiro Júlio César, do Flamengo. O jogador da equipe inglesa não viajou direto da Europa para o Equador, como o restante dos convocados, porque foi liberado para participar das comemorações do aniversário de seu filho, em Curitiba (PR), no sábado.
Após um período de contusões, Kléberson contou estar se esforçando para conquistar uma vaga de titular no Manchester United e na seleção. Atualmente, o jogador vem participando de um rodízio no time inglês. "É muito bom estar de volta à seleção, porque para mim ela é uma grande vitrine", destacou Kléberson. Em seguida, o meia comentou o problema dos efeitos da altitude no desempenho do grupo e como superá-lo. "A altitude a será um fator positivo para outra equipe, mas precisaremos trabalhar bem a bola e fazer valer a qualidade individual dos nossos jogadores."
O desfalque na comissão técnica da seleção foi Parreira, que viajou direto dos Estados Unidos, onde participou da festa de despedida do artilheiro Romário com a camisa da seleção, para o Equador.
Já o coordenador-técnico Zagallo, embarcou, com seu constante bom humor, lembrando a recente eliminação do Santos, na Copa Sul-Americana, para a equipe equatoriana LDU. "Esperamos vencer, mas sabemos as dificuldades que teremos. Viram o que aconteceu com o Santos? Eliminado em casa pela LDU" frisou Zagallo, lembrando que a ida para Quito horas antes da partida é a mesma tática utilizada na disputa da Copa América de 1997.
Hoje a seleção realiza um treino previsto para as 19h (horário de Brasília). "Não vamos fazer da altitude um bicho de sete cabeças. Ela existe desde o início do mundo, mas podemos amenizar seus efeitos. Tocar a bola com calma e não correr muito no início do jogo."