Weggis, Suíça – Imagine largar o carro aberto com um laptop e uma câmera de última geração. Não trancar sua casa. Ou deixar a chave do quarto do hotel à mostra no saguão de entrada. Esse tipo de situação parece impensável no mundo de hoje, mesmo nos lugares menores. Parece para quem não conhece Weggis, essa simpática e tranqüila cidadezinha à margem do Lago Lucerna, local da concentração do Brasil antes da Copa da Alemanha.
Weggis lembra comunidades de várias décadas atrás, em que não havia violência nem maldade. As pessoas são simples e surpreendentemente inocentes. Além de tranqüilas e pacientes. Ficam assustadas, por exemplo, com a agitação dos jornalistas brasileiros, já há alguns dias no local. "Por que tanta pressa? O mundo não vai acabar", disse a funcionária de um restaurante, sorrindo, a um repórter brasileiro.
O risco de você ser assaltado é praticamente nulo. Por isso, para facilitar a vida dos hóspedes, vários hotéis costumam deixar as chaves do quarto ao alcance de todos, na recepção. Qualquer um pode entrar na sua habitação, mas a cultura e a educação na região não permitem que isso aconteça.
"Nunca ocorreu de alguém entrar no quarto de outra pessoa", afirma Joseph Wölly, de 56 anos, proprietário do Hotel Rössli há 31, estranhando a pergunta.
Na semana passada, um fotógrafo recém-chegado à cidade lhe consultou se poderia deixar o equipamento fotográfico no carro. Joseph lhe respondeu que sim e ainda disse não haver necessidade de trancar a porta. "Nunca tranquei meu carro aqui, não há motivos para isso."
Joseph comprou o Rössli em 1975 e em poucas ocasiões viu tanta agitação como agora com a presença dos brasileiros – embora seu estabelecimento tenha ocupação média de 70% da capacidade por ano. Os habitantes de Weggis nasceram respirando ar puro e convivendo com a tranqüilidade, a paz e o silêncio. Os 4 mil habitantes não sentem necessidade de mudança. Ao contrário esperam que os problemas das metrópoles não os atinjam.
"Vivemos bem, todas as pessoas se conhecem, temos paz", ressalta o suíço, casado e pai de três filhos. "Não há coisa melhor do que poder criar os filhos com tranqüilidade, sem ter preocupação", prossegue. "Aqui há colégios e universidades por perto."
Em Weggis há uma delegacia que funciona apenas duas vezes por semana e possui quatro policiais. Nas ruas não é difícil trombar com Ferrari, Jaguar ou modelos sofisticados de BMW. E nada incomum encontrar belas garotas, com olhos bem claros. Como papel de parede, a Montanha Rigi e o Lago Lucerna. Qualquer foto vira cartão postal. E a recepção é de primeira. O povo trata os turistas da melhor maneira possível, com educação e simpatia, nas ruas ou nos estabelecimentos comerciais. Só falta um pouquinho de agitação… Mas aí os brasileiros se encarregam do serviço.