Perseguindo a artilharia do futebol japonês, Washington, ex-Atlético-PR, já planeja o futuro para quando se despedir do futebol: tornar-se presidente do Caxias (RS). A Agência Placar entrevistou o atacante. Confira alguns dos principais trechos da conversa.
Você esteve recentemente em Curitiba para exames de rotina. Como está o Coração Valente?
Washington – Estive aí (em Curitiba) com o doutor Costantini (cardiologista Costantino Costantini, que foi quem operou Washington em 2003) e está tudo bem. Os exames deram tudo certo.
Então o Coração Valente está 100%?
Washington – Está 100%. (rindo)
O seu caso continua servindo de referência em palestras de cardiologistas ou já surgiu um caso mais surpreendente para os cardiologistas, envolvendo atletas?
Washington – Olha, se tem, eu ainda não estou sabendo. Realmente, que exista um atleta que tenha algum problema, e que esteja praticando esporte profissionalmente como eu, não conheço ainda. Que bom se tivesse alguém que tenha se recuperado como eu me recuperei e que esteja jogando ou praticando outro esporte. Torço muito para que aconteça isso também, mas por enquanto eu não estou sabendo.
Pelo que mostrou na Copa, o futebol japonês ainda tem muito a evoluir. Comparando o campeonato deles com os estaduais do Brasil, eles estão mais para um Paulistão ou não passam de um competitivo campeonato capixaba?
Washington – Não, não. O futebol japonês cresceu muito nos últimos anos. Infelizmente este ano eles não foram bem. Eles decepcionaram. Ninguém esperava esta atuação que eles tiveram. Mas é uma seleção muito boa. Até a Copa do Mundo eles tinham feito grandes jogos. Antes da Copa, contra a Alemanha, eles estavam ganhando de 2 a 0 e deixaram empatar no final. Eles tinham feito grandes jogos. Na Copa não sei o que aconteceu. Talvez tenham sentido o peso e não conseguiram jogar. Mas o campeonato japonês é muito bem disputado. Consideraria ele como uma Série B de Campeonato Brasileiro. Mas é um campeonato muito bem disputado.
Depois de passar pelo Tokyo Verdy você agora está no Urawa Reds. É um bom clube para jogar?
Washington – O Urawa Reds é uma equipe que está num melhor momento, está numa fase maravilhosa. É o time de maior torcida do Japão. Dá para dizer que hoje é o Flamengo do Japão, mas só em termos de torcida, pois está disputando o título desde o começo do campeonato.
Você está adaptado ao estilo de vida japonês?
Washington – A comunidade de brasileiros é muito grande lá. Há concentração de brasileiros em várias cidades. Nas cidades próximas, há mercados brasileiros, churrascarias brasileiras. Então, isso facilita a adaptação. A gente está muito bem lá.
E a vida social?
Washington – Estou lá com minha filha e minlha esposa. Procuramos manter uma rotina como se estivéssemos no Brasil. Vamos a shopping, vamos a restaurantes. A gente se encontra sempre com os brasileiros. Temos amizades com as famílias de outros jogadores brasileiros. Nos reunimos quase todo final de semana para fazer um churrasco na casa de cada um. Então estou sempre junto com os outros brasileiros.
Você acha que sua marca de gols em uma só edição do Brasileiro (34 gols, em 2004, pelo Atlético-PR) tende a durar por muito tempo ou vê alguém com potencial para quebrá-la ainda nesta edição do campeonato?
Washington – Tem jogadores que têm potencial para quebrá-la, com certeza. No Brasil, sempre tem jogadores bons, principalmente atacantes com condições de quebrar o recorde. É claro que é um pouco difícil, pois o número de gols foi muito grande. Tive uma média excelente no campeonato de 2004. É difícil que a marca seja batida logo, mas pode acontecer, sim.
Está acompanhando o futebol brasileiro lá do Japão?
Washington – Acompanho, acompanho direto. Nós temos lá a Globo Internacional, que passa ao vivo os jogos de domingo. Só que eles passam às 4h da madrugada de segunda-feira. Às vezes, fico acordado para assistir aos jogos. Mas só quando tem folga na segunda-feira.
E o ritmo de treinos no Japão, é mais sossegado que no Brasil?
Washington – É mais ou menos parecido com o do Brasil. Acho que no Brasil é um pouco mais puxado. No Brasil, quando começa o campeonato, sempre tem treinamento em dois turnos. Lá, quando começa o campeonato, só um dia da semana que a gente faz dois turnos. Nos outros dias é um turno só.
Você chegou a montar uma livraria em Caxias do Sul. Você continua neste ramo ou está diversificando os negócios?
Washington – Diversifico um pouco. Tenho uma franquia da Siciliano, que é uma livraria em um shopping de Caxias, e a Steca, uma construtora. O nome vem do meu sobrenome, Stecanela.
Seu plano é continuar por quanto tempo no futebol japonês?
Washington – Tenho contrato até o final de 2007. Falta um ano e meio ainda e não sei o que pode acontecer até lá. Pode ser que renove. Eles têm um carinho muito grande por mim. Fui artilheiro de um campeonato e vice-artilheiro de outro. Mas vou ter de esperar até mais ou menos o ano que vem, para ver se renovo ou volto para o Brasil.
Você tem recebido propostas para voltar a jogar no Brasil?
Washington – Sempre tem o interesse de times em me contratar. Sempre no meio ou no fim do campeonato alguns clubes falam no meu nome. Algumas vezes eles chegam a fazer uma proposta; outras vezes só sondam. Mas sempre tem o interesse de alguns times do Brasil. Mas hoje é um pouco difícil eu voltar, pois o salário que eu ganho hoje no Japão é difícil de ser coberto por um clube no Brasil.
Pensa em encerrar a carreira no Brasil ou após seu contrato acabar no Japão pode pensar em pendurar as chuteiras?
Washington – Quando tiver de voltar ao Brasil, com certeza vou avaliar as propostas de clubes brasileiros. Mas tenho um projeto para o Caxias. Tenho o pensamento de dirigir o Caxias como presidente ou diretor de futebol. E quem sabe futuramente a gente possa encerrar no Caxias e já continuar ali para ser um diretor ou presidente.
Então o Washington vai virar um cartola?
Washington – Vamos ver, quem sabe? Mas tem que ter uma parceria boa para realizar um bom trabalho. Não adianta ir lá só para ter dor de cabeça. Tem que ter uma parceria boa para reestruturar o clube.
Você acha que vai ser um caminho natural do futebol brasileiro ter ex-jogadores em cargos diretivos nos clubes, como já acontece na Europa (por exemplo o Leonardo no Milan)?
Washington – Não sei se está sendo o caminho, mas o futuro tem que ser este. Ex-jogadores, e principalmente jogadores que foram bem-sucedidos nas suas equipes, com inteligência e que sabem fazer negócios, podem sim passar a dirigir clubes. Até porque eles entendem muito mais que os dirigentes que estão hoje em dia, por exemplo. O ex-jogador viveu a vida no futebol, jogou, sabe, como jogador, quando um bom dirigente dá suporte. Então, como ele passou a vida com jogador, se for dirigente vai saber lidar com os jogadores. Vejo que o caminho tem que ser esse: ex-jogadores dirigindo o futebol.
Ex-rubro-negros brilham no Japão
Washington retorna aos gramados neste sábado, contra o Kashima Antlers, do técnico brasileiro Paulo Autuori, pela 18.ª rodada da J-League – Liga Japonesa. O atacante do Urawa Reds estava sem jogar desde 19 de julho, se recuperando de uma distensão na coxa. A contusão aconteceu na pré-temporada que a equipe japonesa fez na Alemanha. O Urawa divide a liderança do campeonato com o Gamba Osaka, do meia Sidiclei, ex-Atlético. As duas equipes estão com 36 pontos ganhos, mas a equipe do Coração Valente fica em primeiro lugar pelo saldo de gols.
Mesmo sem jogar há cinco rodadas, Washington, com 10 gols, em 12 jogos, é o vice-artilheiro do campeonato. Os brasileiros Lucas, ex-Atlético, hoje no FC Tokyo, e Magno Alves, ex-Fluminense, no Gamba Osaka, com 11 gols, lideram a artilharia da competição.
(Shinichiro Nakaba, de Tóquio, Japão, especial para o Paraná-Online)
