Arequipa, Peru (AE) – Mais do que garantir a classificação à segunda fase da Copa América, com uma vitória hoje, a partir das 17 horas (horário de Brasília) sobre a Costa Rica, a seleção brasileira tem um interesse logístico de lutar pelo primeiro lugar do Grupo C.
Permaneceria em Arequipa, onde dispõe de boa estrutura, por mais alguns dias. Se obtiver a liderança, o que vai depender ainda da partida de quarta-feira, contra o Paraguai, terá de enfrentar o adversário da quarta-de-final em Tacna, cidade de poucos recursos, vizinha de Arequipa. Assim só deixaria a região na véspera ou no dia do confronto.
A partida contra a Costa Rica será transmitida pela TV. O assunto da cidade para a qual a delegação brasileira viajaria após a primeira fase do torneio vem sendo discutido internamente pela comissão técnica e desperta o interesse de Carlos Alberto Parreira. “Quanto menos deslocamentos, melhor.” Mas o treinador quer, antes de tudo, levar o Brasil neste domingo a mais um bom resultado – na estréia, venceu o Chile por 1 a 0.
Parreira não anunciou a escalação do time. Ele quer mais tempo para definir algumas alterações. Certo é que Kléberson volta ao meio-de-campo, após se recuperar de uma leve contratura muscular. Para tanto, Dudu Cearense deve perder a vaga de primeiro volante, que passaria a ser ocupada por Renato. O técnico estava em dúvida sobre quem escolher para a lateral direita.
Mancini e Maicon travam uma disputa à parte pela posição. No ataque, Luís Fabiano é presença certa e Adriano leva vantagem sobre Ricardo Oliveira para começar jogando. Vagner Love ficará entre os reservas.
O técnico espera ver o time com mais velocidade e melhor entrosamento. Por isso, hesita em promover mais de uma mudança. Desde antes dos treinos para a competição, Parreira vem declarando que vai fazer da Copa América um laboratório para observar vários jogadores.
Ele afirmou diversas vezes que não teria um time titular no Peru. O que mais o incomodava nos últimos dias era o temor pela pressão da estréia. “Vencemos uma etapa complicada, com o agravante da altitude”, disse. “Agora, passado o primeiro teste, a equipe vai se soltar e correr mais.”
Arequipa está 2.350 metros acima do nível do mar e ainda é estranha aos jogadores da seleção. Eles só saem do hotel para o local dos treinos ou dos jogos e nem sequer aproveitaram meias folgas concedidas pela comissão técnica para visitar pontos turísticos, como a suntuosa Plaza de Armas, no centro histórico de Arequipa.
Reservas provocam dor de cabeça em Parreira
Carlos Alberto Parreira teve uma inesperada dificuldade em Arequipa às vésperas da partida de hoje contra a Costa Rica. O treinador da seleção brasileira se viu obrigado a explicar várias vezes porque não escalou Diego e Vágner Love. Eles estão treinando e jogando muito melhor do que Alex e Adriano. Maicon foi tão melhor do que Mancini diante do Chile que Parreira está dividido.
“Nem começou a Copa América e todos querem que tudo seja trocado. Sei o que estou fazendo. O grupo precisa de entrosamento. Se ficar trocando jogadores, todos ficarão sem confiança. É bom saber que a seleção possui ótimas peças de reposição que posso até utilizá-las, mas será de uma maneira consciente.”
Parreira tenta acalmar os jornalistas. Só que está difícil. Cada um com seu estilo, os jogadores vêm mostrando suas armas para justificar a vaga. “Eu estou fazendo o que tenho de fazer. Me esforçado nos treinamentos. A escalação fica por conta do nosso técnico. Ele sabe o que faz. Não vou reclamar de nada. Está tudo muito bom para mim”, afirma o artilheiro Vágner Love. O atacante fez nada menos do que sete gols nos coletivos e jogos treino que o Brasil vem fazendo em Arequipa.
O que aumenta a pressão é o fraco desempenho de Adriano da Inter de Milão. O atacante ainda não se acertou com Luís Fabiano. Ele se defende. “O time inteiro nunca havia jogado junto. Era lógico que não poderia render como conjunto o que rende individualmente. Eu estou tranqüilo, fazendo o máximo que posso. Só que é o nosso treinador é quem decide.”
Quanto a Diego, a questão não é tão simples. Não basta trocar um jogador por outro. Parreira levou duas semanas para definir que Alex além de ser o “número 1” – jogador que deve unir o meio-de-campo aos atacantes -, assumiria a tarja de capitão do Brasil.
Alex não foi nada bem diante dos chilenos. Sentiu a altitude de 2.330 metros e foi o grande prejudicado com a falta de entrosamento do time. “Nós corremos, mas não conseguimos produzir o que podemos. A falta de conjunto acabou prejudicando. Principalmente o meio-de-campo, que é de onde começam as jogadas ofensivas. Mas vamos melhorar”, promete o meia.
Diego entrou contra o Chile e “incendiou” uma partida morna. Ele entrou na vaga de Dudu Cearense. Jogou completamente fora de posição, pela direita. No Santos ele atua pela esquerda. O jogador sabe que a briga pela posição é com Alex. Só que para o meia, o que interessa é estar em campo. “Não vou me limitar a uma só posição. Onde o ?professor? Parreira me escalar, não terá problema. Estou treinando, tentando me aprimorar para fazer o que ele pede. Não tenho qualquer disputa de posição específica com o Alex.”
Diego é inteligente, abre o leque para que possa entrar no time onde for. Ainda mais porque Felipe, que deveria estar participando da briga, está entregue na reserva e não reage, para sutil e triste irritação de Parreira.
A dúvida na lateral direita do treinador para o jogo de hoje é imensa. A sua coerência aponta: Mancini continua. Mas a pressão dos jornalistas e o melhor futebol mostrado por Maicon podem pesar. “Eu estou atuando como o Parreira pediu. Acho que fui bem. Mas quem dá a palavra final é ele. Não importa se na Roma atuo diferente, mais à frente. Na seleção tenho de render no esquema tático montado pelo técnico”, reconhece Mancini, com o tom de voz de quem sabe que está perto de perder a vaga.
Maicon não quer se expor e correr o risco de se indispor com o treinador, Mancini ou o grupo. “Vou esperar. Não vou pedir a minha escalação. Mas como todos que estão aqui, gostaria muito de ser titular.” Com a palavra final, hoje à tarde, Parreira.