Recife (AE) – A surpreendente vitória da Espanha sobre a Rússia, por 3 sets a 2 (25/21, 23/25, 26/24, 23/25 e 19/17), ontem, em Recife, classificou o Brasil para as semifinais da Liga Mundial de Vôlei Masculino. Depois de ter vencido a Holanda por 3 a 0 (25/23, 25/18 e 25/23), a seleção brasileira obteve pontuação suficiente para garantir antecipadamente uma vaga no grupo E, mesmo que seja derrotada pelos russos hoje, a partir das 15h30 (com transmissão de Globo e SporTV).
Os resultados da rodada de ontem deixaram o Brasil na primeira colocação da chave, com 4 pontos. Espanha e Rússia estão empatados com 3 e disputam a outra vaga do grupo, enquanto que a Holanda, com 2, já está eliminada. Caso os brasileiros sejam derrotados pelos russos e os espanhóis vençam os holandeses hoje, pode haver um tríplice empate.
Na pior das hipóteses, mesmo com uma derrota por 3 a 0 para a Rússia, o Brasil já garantiu sua vaga por ter melhor set average, o primeiro critério de desempate. Afinal, os brasileiros ficariam com 6 sets ganhos e 4 perdidos – os russos passariam a ter 8 a 5. No caso de os espanhóis ganharem da Holanda também por 3 a 0, passariam a ter 7 a 5. Assim, na divisão dos sets ganhos pelos sets perdidos (set average), a seleção de Bernardinho levaria vantagem sobre a Espanha e a Rússia ficaria em 1.º lugar.
A classificação antecipada aliviou a tensão na seleção brasileira. “Aliviados, não felizes. Existia o clima de euforia porque jogamos em casa, mas poderia ter sido um desastre se o Brasil não se classificasse”, afirmou o técnico Bernardinho.
O treinador brasileiro lembrou que, desde o início do torneio, o time não treinava por mais de cinco dias seguidos por causa da tabela – na primeira fase, jogou em Brasília, Porto (Portugal), Goiânia, João Pessoa, Katowice (Polônia) e Córdoba (Argentina). “Meus jogadores não são astronautas”, reclamou.
Bernardinho observou que na última Liga Mundial -as finais foram na Polônia -, vencida pelo Brasil, a equipe disputou em casa todos os jogos em que era mandante e só depois foi para o exterior. “Um time só cresce se treinar e evoluiu nesse tempo em Belo Horizonte e Recife.”
O Brasil jogou ontem a sua melhor partida na Liga. O saque forte (foram nove aces) atrapalhou o levantador holandês Nico Freriks. “Fez a grande diferença”, admitiu o técnico holandês, Bert Goedkoop. A seleção marcou 41 pontos de ataque (a Holanda, 31), 5 de bloqueio (2) e 20 em erros do adversário (26). A vitória marcou o 500º jogo da carreira de Maurício com a camisa brasileira.
André e Dante atrás de dólares
Recife
– A cada ano, o número de atletas brasileiros que trocam a Superliga por campeonatos no exterior aumenta, principalmente por causa dos contratos em dólar. Na próxima temporada, dois novatos da seleção brasileira deixarão o País para atuarem na Grécia e na Itália. André Nascimento, de 23 anos que chegou à seleção adulta somente no ano passado, pelas mãos do técnico Bernardo Rezende, o Bernardinho, jogará no Panathinakos, da Grécia. E Dante, de 21 anos, aposta do ex-técnico Radamés Lattari (disputou a Olimpíada de Sydney, em 2000) deixou o atual campeão brasileiro Telemig/Minas para defender o tradicional Modena, da Itália.“Tenho certeza que para os dois será muito importante. Terão responsabilidade maior em suas equipes, já que o estrangeiro é contratado para decidir”, observou o técnico da seleção brasileira Bernardinho, que, no entanto, não “aprova” a troca da Superliga por torneios considerados fracos tecnicamente como o do Japão, da Grécia, da Bélgica… “O Campeonato Italiano é o mais forte do mundo e uma boa opção para os brasilerios. Mas não vale a pena, para atletas jovens, deixar o nosso torneio para jogar em competições fracas. Único crescimento que terão é o da conta bancária.?
Uma prioridade, que isolada, não é correta. Explica que esse não é o caso de Anderson, de 28 anos, e Gílson, de 34 anos, por exemplo, que renovaram respectivamente com o NEC e o Suntory, do Japão. “O Anderson teve oportunidade de jogar no exterior mais tarde, com a idade um pouco mais avançada, e tem de aproveitar.” André, que jogará ao lado de Cleber, ex-Suzano, e Murek Dawid, da Polônia, disse que a Grécia é só um degrau para chegar ao Campeonato Italiano -o assistente-técnico de Bernardinho, Chico dos Santos, recebeu convite para ser o treinador da equipe grega, mas não irá. “É só um passo para eu sentir como é jogar lá fora. Quero muito poder disputar o Italiano, quem sabe já na temporada seguinte”, comenta André, que diz querer buscar experiências diferentes na vida profissional e pessoal.
Para Bernardinho, Giba, que jogará pela segunda temporada seguida no Ferrara, cresceu tecnicamente atuando na Itália – “ganhou segurança em algumas bolas” -, assim como Gustavo, que agora só saca “viagem” e, atualmente, é o melhor no fundamento dentre os brasileiros. O meio-de-rede que tinha como certa a transferência para o Sisley Treviso, continuará em Ferrara. Não houve acordo entre as duas equipes em relação ao valor da rescisão de contrato.
Além de Dante, Giba e Gustavo, Nalbert, capitão da seleção, também jogará na Itália: voltará ao Macerata, após fraca temporada com o Panasonic, no Japão.
“Já tive a oportunidade de ir antes, mas não queria jogar na Itália sem ter, pelo menos, o título brasileiro”, conta Dante, que terá como companheiros de time o levantador Ball (Estados Unidos), o ponteiro russo Iakovlev e os italianos Gardini, Bovolenta e Cantagalli. O jogador brasileiro vai até antecipar o casamento para setembro com a namorada Sibele, de 19 anos. “Não acho precipitado. Quero ir com ela, a mulher certa para mim.”
Os outros atletas da seleção defenderão times brasileiros: Maurício e Henrique renovaram com o Minas. Rodrigão jogará no Banespa, ao lado de Escadinha. Ricardinho transferiu-se para a Ulbra, Marcelinho e Giovane atuarão no Suzano e André Heller permanecerá na Unisul.
“Estrangeiros”
O atacante Kid, ex-seleção brasileira, está de volta. Após cair nas semifinais do Campeonato de Porto Rico (dez equipes), com o Vaqueros/Bayamon, disputará a Superliga pela Unisul. O time de Florianópolis havia diminuído seu salário por contenção de gastos e em troca liberou-o para atuar em Porto Rico – o torneio pode terminar amanhã: Lares/Patriotas lidera a série melhor-de-sete contra o Naranjito/Changos por 3 a 2.
O destaque entre os estrangeiros é o espanhol Rafael Pascual, no Playeros de San Juan. Pascual foi dispensado da disputa da Liga Mundial.
“Os brasileiros sempre foram requisitados, mas hoje surgem propostas de vários países difentes”, comenta o empresário Jorge Assef, que cita como a mais “esquisita”, para Pinha (também ex-seleção). “Era da Bulgária, mas não aceitou os US$ 35 mil.
Preferiu ir para Bento Gonçalves, ganhando menos, mas com a mulher, que está grávida”. Afirma que vários de seus atletas já foram sondados por alemães, austríacos, turcos.