Videogame, pingue-pongue e pagode agitam a seleção

Neymar é o homem a ser batido. Thiago Silva também incomoda. Com Luiz Felipe Scolari ninguém se mete. Não, não se trata de uma guerra de vaidades ou de desavenças no grupo. Neymar é imbatível no pingue-pongue; Thiago Silva manda bem no videogame; Felipão não abre mão de suas caminhadas diárias e não há quem o aconselhe a se poupar, mesmo sob frio intenso. Esses são apenas alguns hábitos de três personagens importantes da seleção brasileira durante o dia a dia da Granja Comary, em Teresópolis.

O grupo está hospedado desde 26 de maio no centro de treinamento reformado pela CBF ao custo de R$ 15 milhões. O CT ganhou, entre outras dependências, sala de jogos com mesas de sinuca, pebolim e pingue-pongue e uma sala de convivência. São locais frequentados pelos jogadores quando não estão treinando ou envolvidos em atividades propostas pela comissão técnica, como palestras e análises dos adversários.

Nos momentos de lazer, o videogame é praticamente unanimidade entre os atletas. Vários jogam bem, mas Neymar é o campeão. É quase imbatível e não se cansa de ironizar os fregueses. “O cara é uma fera. É muito difícil vencê-lo”, conta um integrante da comissão técnica da seleção. “Tem gente que até desiste de jogar com ele, porque sabe que vai perder mesmo.”

Thiago Silva não é um desses que abandonam a disputa. Aliás, também bate um bolão no videogame. Há quem diga que só não é melhor, no grupo da seleção, do que Neymar. Como quase todos os boleiros, os jogadores da seleção preferem os games de futebol. Mas os jogos da série “Call of Duty”, a maioria deles ambientada na Segunda Guerra Mundial, também fazem sucesso. O capitão da equipe é um dos fãs da série, assim como o meia Willian.

Neymar também é parada indigesta no pingue-pongue. E de novo tem em Thiago Silva um oponente à altura. O goleiro Julio Cesar e o zagueiro David Luiz são considerados eficientes com a raquete, enquanto Willian é presença constante na mesa. Mas Neymar é mesmo o campeão da grande maioria das disputas entre os atletas.

No grupo da seleção há ainda os que preferem aproveitar parte do tempo livre para ouvir música enquanto pensam na vida e no desafio – e na glória – de ser campeão mundial diante da torcida. Daniel Alves é um deles. Costuma pegar seu fone de ouvido, acomodar-se num banquinho de madeira, de preferência voltado para o verde das montanhas, e, às vezes, passar horas ouvindo pagode. Um de seus grupos preferidos é Revelação.

RITMO PREFERIDO – O pagode está em alta também na atual seleção. Quase todos os jogadores curtem o ritmo e têm amizade com cantores como Dilsinho (Julio Cesar) e Thiaguinho (Neymar). E, claro, as músicas que cantam também “frequentam” a Granja Comary, embora, na maioria das vezes, fiquem restritas aos fones de ouvido.

Há espaço para a batucada, liderada pelo zagueiro Dante, habilidoso no pandeiro e no cavaquinho, segundo Felipão. Willian toca pandeiro (pelo menos diz que toca), o preparador físico Paulo Paixão se vira no tamborim e Daniel Alves, no tantã. De acordo com o técnico, quando sobe o som, é um desespero para os ouvidos mais sensíveis. “Eles são ruins demais, emendam uma música na outra, tudo errado”, disse. Felipão, porém, anda mais flexível com a turma do pagode.

Hernanes não é muito chegado ao ritmo. Prefere músicas gospel, como as do Bethel Music e Colton Dixon, e também curte o rapper Drake – de quem Willian é igualmente fã. O meio-campista da Inter de Milão aproveita para se dedicar à leitura (sempre lê a Bíblia e tem com ele um exemplar de “Agarrando o Espírito da Fé”, do pastor norte-americano Scott Webb) e aproveita para estudar idiomas.

Quando se trata de trabalho, as atividades dos jogadores não se limitam aos treinos em campo e na sala de musculação. Com alguma frequência, são convocados pelo treinador para assistir a vídeos editados sobre os adversários da seleção. Durante esses encontros, discutem-se as qualidades e os defeitos dos rivais e a melhor maneira de superá-los.

É comum interrupções de Felipão e do coordenador técnico Parreira para destacar um ou outro detalhe. Os jogadores também expressam suas opiniões. Os que mais se manifestam são David Luiz, Thiago Silva, Fred, Neymar e Julio Cesar. Os vídeos são preparados pelo analista de desempenho da CBF, Thiago Larghi. Os atletas ainda assistem a palestras para se preparar técnica e psicologicamente.

O plano é que todos permaneçam no local até o final da Copa. E pingue-pongue, videogame e pagode vão ajudar a levar a vida. Pode até rolar um churrasco, sob o comando de Felipão e do auxiliar técnico Murtosa, especialistas que são. Os dois, por sinal, não dispensam um bom papo antes do jantar, regado por boas talagadas na cuia de chimarrão.

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