Com o apoio de oito vereadores, o projeto para a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de Curitiba começou a tramitar ontem na Câmera Municipal. A venda e o consumo ficam permitidos exclusivamente em bares e lanchonetes, sendo que somente antes do início, durante os períodos de intervalo, e após o término das partidas – também fica permitido o consumo em camarotes e áreas VIP. A ideia é de Pier Petruzziello (PTB), que também é presidente do Conselho Deliberativo do Coritiba.
O vereador pretende aprovar a proposta em, no máximo, dois meses. “A gente sabe que depende da política, mas espero que esteja aprovado para o Brasileiro. São quinze dias para chegar a comissão de legislação, passa por outras comissões e depois a plenário”, explica, lembrando que a Série A começa no dia 9 de maio.
As bebidas têm que ser servidas em copos ou garrafas plásticas e com teor alcoólico, no caso de cervejas industrializadas ou artesanais, de até 14%. Advogado de formação e pós-graduado em gestão pública, Petruzziello critica a forma como é proibida o consumo de bebidas nas praças esportivas, que acontece desde 2008. “Até onde o Estado tem gerência na vida das pessoas? Qual o direito que eu tenho que dizer o que se deve ou não fazer? O Estado é opressor e não educa”, pontua.
No projeto proposto, a empresa responsável pela comercialização precisa passar medidas educativas aos torcedores, como não dirigir embriagado e evitar a violência entre rivais. A ideia de utilizar bafômetro na entrada dos estádios para medir o grau alcoólico do torcedor, por outro lado, está descartada. “Bafômetro não é obrigado em blitz, quem dera no estádio”.
Citando a Copa do Mundo realizada no Brasil em 2014, o conselheiro do Coritiba lembra que os problemas envolvendo bebidas foram praticamente nulos. “O público esportivo é consumidor de bebida, no mundo todo. Na Copa, quase não teve incidente. Perto do zero”, relembra. As torcidas organizadas também foram lembradas. Mesmo com a proibição, as brigas continuam acontecendo nas ruas e, dentro dos estádios, apenas esporadicamente. “Tem gente de boa índole que faz confusão. Organizada tem de tudo dentro dela. Se alguém quer brigar, vai ser com ou sem bebida”, completa.
O otimismo é grande, pois projeto semelhante foi aprovado na semana passada na Câmara de Porto Alegre, precisando apenas da sanção do prefeito José Fortunati. Na Bahia e no Rio Grande do Norte, as bebidas já são permitidas nos locais de jogos. O Estatuto do Torcedor, lei federal de 2003, proíbe a comercialização, enquanto uma resolução da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também diz o mesmo. Nada que preocupe Petruzziello. “Estudei essas ideias. É uma lei que se sustenta, pois o Estatuto não diz nada específico a isso e sim sobre o porte de bebidas acondicionadas em garrafas de vidro, que não será o caso. Não vejo problema, pois a lei municipal se sobrepõe à resolução da CBF”, finaliza.
Polícia diz que proposta é ‘um erro’
Para Clóvs Galvão, da Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos (Demafe), a proposta é um erro que não deve ser levado a sério. O delegado justifica que a cultura e o perfil do torcedor brasileiro é beber antes das partidas, em churrascos de amigos ou família, e a liberação no estádio vai agravar a situação. “Com todo o respeito, a proposta é um incentivo à violência. Temos ocorrências que comprovam que a bebida alcoólica serve de instrumento para brigas, crimes, lesões corporais. É um absurdo, somos contra”, protesta.
Galvão diz que tem lutado incansavelmente contra isso e que o vereador pode comparecer ao Demafe para ver as estatísticas que envolvem o esporte e a violência. “Ele deve desconhecer esses fatos, é mal informado. Isso &eac,ute; um grande erro, pois tem que ser revista. Estamos à disposição para ele”, completa. Procuradas, as diretorias de Atlético, Coritiba e Paraná Clube não atenderam aos telefonemas.