Cidade do Cabo – Depois da alegre ceia de Natal, que reuniu cerca de 60 pessoas na noite de sábado no hotel dos velejadores, e dos passeios feitos em família ontem, dia de descanso geral de toda a equipe, a preocupação dos tripulantes do Brasil 1, o primeiro barco nacional a participar da Volvo Ocean Race, é com os fortes ventos que sopram desde sábado na Cidade do Cabo e que ameaçam até mesmo a realização da in-port race, a regata local, marcada para hoje, contando pontos para a classificação geral.
Vice-líder da mais tradicional regata de volta ao mundo, o Brasil 1 terminou em segundo lugar na primeira in-port race, disputada na Espanha, com ventos fracos. Agora, a situação é totalmente diferente. "As rajadas em mar aberto chegaram a 38 nós, o que, em condições normais, impossibilitariam a realização da regata", comenta o comandante Torben Grael. "Ventos tão fortes submetem os barcos a riscos de acidentes, danos materiais e até a contusões de tripulantes. Isso não é prudente, ainda mais a apenas uma semana da largada da segunda perna."
Torben e sua tripulação, porém, estão prontos para a disputa da prova, que tem largada prevista para as 13h locais (9h de Brasília), numa extensão de cerca de 35 milhas náuticas (64,8 quilômetros aproximadamente), na Baía da Cidade do Cabo. Os treinamentos do time terminaram no sábado e o barco está todo regulado para a competição.
"Tivemos três dias de preparação depois que o barco voltou para a água. Não é o tempo ideal, mas acho que deu para fazer o melhor possível dentro do prazo. A equipe de terra trabalhou duro, fez uma série de reforços no Brasil 1, já pensando nas duas próximas etapas, que serão as mais difíceis da competição", lembra Grael.
A tripulação terá duas novidades na prova: o navegador holandês Marcel van Triest e o timoneiro norueguês Knut Frostad. Eles substituem a australiana Adrienne Cahalan e o brasileiro Horácio Carabelli, coordenador técnico do projeto Brasil 1. O 11º. tripulante será o brasileiro Alan Adler. Na in-port race, as equipes competem com 11 integrantes. Nas etapas normais, cada tripulação tem dez homens.
Para a regata de hoje, o timoneiro será o espanhol Chuny Bermudez, como ocorreu em Sanxenxo. Torben e Marcel ficarão na tática. Os brasileiros Marcelo Ferreira, André Fonseca e Alan Adler, o neozelandês Stuart Wilson e o norueguês Knut Frostad trabalharão na regulagem das velas, enquanto o brasileiro Kiko Pellicano e o neozelandês Andy Meiklejohn serão os proeiros.
"Esta será uma regata totalmente diferente da primeira. Certamente, as manobras serão muito mais difíceis por causa do vento, que deve ficar em torno de 25 nós. Com essa velocidade, é muito difícil fazer um barco desse tamanho passar por um portão para as bóias de 100 metros. Em Sanxenxo, tivemos de 6 a 8 nós. Fizemos uma má largada e mesmo assim conseguimos nos recuperar, chegando em segundo. Acho que a regata está aberta, sem favoritos", comenta Chuny Bermudez, que conta com a companhia da mulher e dos filhos na Cidade do Cabo.
Os velejadores tiveram um fim de semana em família. O Natal foi animado pelo Papai Noel Knut Frostad, o tripulante nascido mais perto do pólo Norte. A festa teve direito a troca de presentes, tanto entre os adultos como entre os filhos dos integrantes da equipe.
O dia de Natal foi de folga. Os velejadores tiraram o domingo para passear com a família pelos pontos turísticos da Cidade do Cabo, como Table Mountain, a praia de Camps Bay e o aquário de Waterfront. O bicampeão olímpico Marcelo Ferreira, por exemplo, aproveitou para fazer um minissafari.
A segunda perna da Volvo Ocean Race começa no dia 2 de janeiro e vai até Melbourne, na Austrália. Nos cerca de 11.000 km da etapa, os competidores passarão por dois portões de pontuação, nas Ilhas Kerguelen e na ilha Eclipse. Assim como as in-port races, os portões dão metade dos pontos das etapas normais, ou seja 3,5 pontos para o vencedor.
O Brasil 1 divide o segundo lugar na classificação geral da Volvo Ocean Race com o sueco Ericsson, com 10,5 pontos, vencedor em Sanxenxo. O líder é o holandês ABN Amro One, com 11,5. O ABN Amro Two está em quarto lugar, com 9,5 pontos, seguido do australiano Sunergy and Friends (5,5), do norte-americano Piratas do Caribe (3,5) e do espanhol movistar (3,0 pontos).
Como surgiu a competição
A Volvo Ocean Race nasceu em 1973, quando a Marinha Real Britânica e a Whitbread, uma tradicional marca de cerveja inglesa, resolveram apostar em uma regata de volta ao mundo, testando os competidores nas áreas mais inóspitas e desafiadoras do planeta.
Desde então, verdadeiras lendas da vela como o holandês Cornelius van Rietschoten, os neozelandeses Peter Blake e Grant Dalton ou os norte-americanos Paul Cayard e Dennis Conner se arriscaram na competição.
Nesta edição, a Volvo Ocean Race terá oito meses e os competidores navegarão por 31.250 milhas náuticas, mais de 57 mil quilômetros. A regata começa em 5 de novembro, com uma prova local em Sanxenxo, na Espanha. A primeira perna terá largada em Vigo, também Espanha. A competição passa ainda por Cidade do Cabo (África do Sul), Melbourne (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), Rio de Janeiro (Brasil), Baltimore, Annapolis e Nova York (Estados Unidos), Portsmouth (Inglaterra), Roterdã (Holanda) e Gotemburgo (Suécia).
O Brasil 1 terá seis concorrentes de cinco países: os barcos holandeses ABN Amro 1 (comandado por Mike Sanderson/NZL) e ABN Amro 2 (Sebastien Josse/FRA); Ericsson Racing Team (Neil McDonald/ING), da Suécia; Piratas do Caribe (Paul Cayard/EUA), dos Estados Unidos; Movistar (Bouwe Bekking/HOL), da Espanha; e Premier Challenge (Grant Wharington/AUS), da Austrália.