O interminável clima de ebulição política do país não vem afetando um pequeno grupo de venezuelanos, reunidos desde segunda-feira em Fort Lauderdale, nos Estados Unidos. São os membros da comissão técnica e um punhado de jogadores da seleção nacional. Em preparação para a disputa da Copa América, eles procuram deixar de lado, pelo menos publicamente, preferências ou posições políticas. Fazem esforço para se concentrar no objetivo principal do momento, que é fazer papel digno no torneio. A Venezuela está no Grupo do Brasil – se enfrentam dia 18 de junho, em Salvador.
A preparação na Flórida deixa a equipe vinotinto bem longe da confusão e também dos “perrengues” que o povo venezuelano tem enfrentado no dia a dia. A Federação Venezuelana providenciou uma boa estrutura de treinamento para a seleção.
Mas nem tudo é paz. Embora estejam evitando manifestações, alguns jogadores já se posicionaram contra o regime de Nicolas Maduro ao defender, por exemplo, a entrada de ajuda humanitária no país. Entre eles estão o atacante Rondón e o capitão do time, Tomás Rincón.
Os dois fazem parte do grupo que ainda não se apresentou para os treinamentos. Atuam na Europa – Rondón, no Newcastle, e Rincón, no Torino – e, por isso chegarão com as atividades já iniciadas. O técnico Rafael Dudamel chamou 40 jogadores e cortará 17.
De maneira geral, os jogadores que estão fora do país têm mais liberdade para se manifestarem. Mas muitos de seus familiares continuam na Venezuela e isso os inibe. Além disso, Dudamel, ex-goleiro da seleção que desde 2016 treina a seleção principal, tem se esforçado para evitar o uso político da equipe.
Em março, após a histórica vitória do time por 3 a 1 sobre a Argentina de Lionel Messi, em amistoso realizado em Madri, ele chegou a colocar o cargo à disposição em protesto pelo uso político da visita à concentração de um diplomata ligado ao autoproclamado presidente interino Juan Guaidó.
Confrontado com o fato de, no ano passado, a seleção ter sido visitada no Chile por um embaixador aliado de Maduro, Dudamel disse que receber autoridades é um ato de respeito ao povo venezuelano, mas que não admitia o uso político da seleção.
Contornada a crise, Dudamel ficou e fixou como meta utilizar a Copa América como preparação para as Eliminatórias à Copa do Mundo do Catar, em 2022. “A mensagem é muito clara. É preparação, se ganharmos ou perdermos”, disse.