Atuais campeãs olímpicas na classe 49er FX, as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze já trabalham forte visando os Jogos de Tóquio-2020. A preparação inclui as tradicionais (muitas) horas de treinamento e longos períodos de preparação e de competições fora do País. Neste ano, a dupla de velejadoras ainda terá de encarar uma maratona que inclui duas viagens para a Ásia e, entre elas, a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Lima, marcados para o fim do mês de julho, no Peru.
Vice-campeã da edição de 2015, disputada em Toronto, Canadá, a dupla agora vai ao Pan em uma situação inusitada: querendo vencer ao mesmo tempo em que considera que a competição atrapalha suas pretensões olímpicas. Isso porque a disputa continental acontece poucos dias antes do evento-teste na raia olímpica de Enoshima, na baía do Japão, onde serão disputadas as provas de vela nos Jogos do próximo ano.
“O Pan atrapalha a nossa preparação para o evento-teste do Japão. Mas, como o próprio nome diz, é um teste apenas, não os Jogos”, compara Martine. “Vamos chegar muito cansadas. É uma viagem muito longa e a gente chega praticamente em cima do campeonato.”
A logística da dupla brasileira não é das mais fáceis. Ela inclui um período de aclimatação no país asiático antes dos Jogos Pan-Americanos de Lima, uma viagem de lá até a sede sul-americana do torneio peruano às vésperas da competição e o retorno depois ao Japão assim que encerrarem as provas no Peru. Tudo isso tendo de se adaptar a uma diferença de fuso horário de 14 horas em poucos dias. “Vai ser pesadinho pra gente”, reconhece a velejadora.
Martine e Kahena sabem que elas têm chances de ouro nas duas competições, em Lima e Tóquio, e não pensam em abrir mão de brigar pela medalha. A dupla foi prata no Pan de 2015 e ouro nos Jogos do Rio. “O último Pan foi bem sofrido pra gente. Tínhamos vindo de uma série de treinos fora com vento forte e chegamos a Toronto em condições totalmente opostas às que estávamos treinando na época”, lembra Kahena. Mesmo assim, ficar em segundo lugar não chegou a ser uma decepção. “Foi importante perder naquele momento para aprimorarmos nossas qualidades também com o vento fraco.” No Rio de Janeiro, onde vivem, não decepcionaram e chegaram em primeiro lugar. Querem repetir o feito na disputa do Japão.
IMPRESSÕES – Acostumadas a disputar competições na Europa, Martine e Kahena aos poucos vão se adaptando às provas em águas na Ásia. A dupla já esteve no Japão no ano passado, e saiu impressionada de lá.
“A gente passou um mês e meio no último ano, para um evento-teste, e já deu para perceber que é tudo muito diferente do que estamos acostumados, a cultura, as pessoas, o ambiente, tudo é diferente”, pondera Kahena. “Lá é muito úmido. A gente está acostumada com o calor aqui no Rio de Janeiro, mas lá a gente sua o dobro. Foi importante passar por aquele período. Vai nos ajudar.”
A boa receptividade dos japoneses também encantou as velejadoras. “É um povo com o qual a gente tem de aprender muito. As pessoas são muito educadas, solícitas, querem sempre te deixar o mais confortável possível”, destacou Kahena. A expectativa é que essa receptividade aumente durante dos Jogos.
Um detalhe também chamou a atenção das brasileiras, mas esse é negativo: a chance de ocorrerem tufões em Tóquio durante a disputa da Olimpíada. “A possibilidade é bem grande, mas os japoneses estão bem preparados para isso”, acredita Martine, que já sabe o que será preciso fazer caso isso aconteça durante os Jogos. “Tem de desmontar e guardar tudo”, frisa, demonstrando tranquilidade.
A parceira de embarcação, por sua vez, até brinca com a chance de um tufão aparecer durante a competição. “Eu estou super ansiosa para ver 67 nós ou não sei quantos de vento. É muito vento”, sorri Kahena. Os Jogos de Tóquio serão entre 24 de julho e 9 de agosto de 2020.