Nem salários atrasados nem técnico incompetente. A chave para a misteriosa queda de rendimento do Atlético no Campeonato Brasileiro deste ano pode estar na área científica do clube.
Um trabalho que vem desagradando os jogadores e gerando uma série de cirurgias ocasionadas por contusões estranhas (púbis). Ao mesmo tempo, uma fogueira de vaidades, envolvendo profissionais dessa área, arderia dentro no CT do Caju, desmotivando ainda mais o elenco, que não consegue chegar perto do futebol mostrado no ano passado.
Segundo apurou a reportagem de O Estado, desde que o diretor-técnico Antônio Carlos Gomes e o assessor científico Oscar Erichsen assumiram seus postos no Rubro-Negro, nunca houve tantas cirurgias de jogadores no clube. Principalmente no púbis, que se tornou o principal vilão dos craques do Furacão nos últimos tempos. O atacante Ilan e o meia Rodrigo que o digam. Passaram pela faca e lutam até hoje para voltar aos seus melhores dias. E, Alex Mineiro, passou uma temporada no estaleiro se recuperando também da pubalgia. Nenhum deles fala abertamente sobre o assunto, mas nas entrelinhas deixam escapar o descontentamento. O pentacampeão Kléberson lançou mão do preparo físico para as más jornadas e foi seguido por Preto e Vital que “nunca” entram em forma.
Mas, o “privilégio” não atinge apenas os profissionais. Os estragos também estariam afetando os juniores. Uma fonte, que não quis se identificar, revelou também à Tribuna que três garotos das categorias de base foram para a mesa de cirurgia pelo mesmo problema. Essa fonte, no entanto, não culpa diretamente Gomes e Erichsen pela situação. Apenas constata que antes isso não acontecia e nem afetava o rendimento dos jogadores, mas questiona se não seriam os novos métodos aplicados os responsáveis pelo desastre que tem sido o ano até aqui.
O novo trabalho, baseado em tecnologia e estudos trazidos da Rússia por Gomes, entrou em choque com os antigos preparadores físicos, Riva Carli e Eudes Pedro. Mesmo elogiados pelo desempenho da equipe ao longo dos anos (e, com uma série de títulos conquistados), os dois foram dispensados após o supercampeonato paranaense. O processo de saída deles não foi nada agradável, já que a fritura teria começado no início do ano e culminado com a contratação de Solivan Dala Valle (ex-Paraná Clube). A fumaça foi tanta nas cercanias do Sítio Cercado que Riva e Eudes romperam amizade com Solivan. Agora, a mesma fonte, acredita que a chegada do diretor de futebol Antônio Clemente possa recolocar as coisas em seus lugares. “Espero que ele possa ver o que está acontecendo”.
Decadência chega ao topo com o Brasileirão
Quando o Atlético tinha tudo para fazer o melhor ano de sua vida, a maionese desandou e o time não conseguiu reengrenar e mostrar porque foi campeão brasileiro. De todas as competições disputadas até aqui, alcançou um vice-campeonato na Copa Sul-Minas e o título de tricampeão paranaense. Conquistas que não passaram de mera obrigação para o status que o clube adquiriu e muito pouco para quem esperava dominar a América.
Numa sucessão de erros políticos e estratégicos, o time naufragou na Libertadores diante de equipes modestas, levou como deu na Sul-Minas e, sem adversários à altura, levantou mais um caneco estadual tomando uma goleada do Paraná Clube, na Vila Capanema. Fora as pífias participações na Copa dos Campeões e na Libertadores. Campanhas que não animam nenhum torcedor e põem em xeque a capacidade do elenco. Será que aquela equipe que encantou o Brasil no ano passado desaprendeu como se joga futebol?
Difícil acreditar que atletas como Gustavo, Alex Mineiro, Alessandro, Kléber e o pentacampeão Kléberson não saibam mais jogar bola. Muito pelo contrário, já que em várias partidas o time mostrou um bom futebol e empolgou seus torcedores. Só não manteve a sequência devido ao excesso de contusões e ao fôlego que, aos poucos, começa a faltar em atletas antes incansáveis.
A parte mais visível desse processo acabou aparecendo na defesa da faixa de campeão brasileiro. Após um início animador, o time jogou um bolão contra o Botafogo, venceu por 2 a 0 e começou a decair na competição. Do futebol envolvente, a torcida só pôde reviver no jogo contra o São Paulo. Nas outras partidas, o que se viu foi um time sem alma, sem motivação e se arrastando em campo. Um dado que reforça esta teoria é o fato de que, no ano passado, o Atlético marcou gols nos últimos 15 minutos em praticamente 85% de seus jogos.
Coincidentemente, com uma nova equipe na preparação física, o desempenho rubro-negro não repete a mesma performance do ano passado. Uma situação que o maior ídolo do Atlético, Barcímio Sicupira, constatou na partida de quarta-feira contra a Ponte Preta em seu comentário na Rádio Banda B. Aos 30 minutos do primeiro tempo! Nem é preciso ser especialista para notar que o lateral-direito Alessandro não consegue mais repetir seus famosos dribles da vaca. Que Kléberson está atuando fora de forma e que Preto, Vital e Gustavo não conseguem mais retomar uma forma física condizente com jogadores profissionais.
Reunião lava roupa suja
Se nos bastidores a coisa está quente, no campo o diretor de futebol Antônio Clemente, do Atlético, resolveu arregaçar as mangas. Ontem, ele reuniu o elenco no centro do gramado e tratou de lavar a roupa suja. Cobrou dos jogadores mais vontade nas próximas atuações, reiterou a importância de uma vitória contra a Portuguesa e ouviu as reclamações dos atletas.
“Eles se abriram em algumas coisas, fizeram comentários e eu queria dizer o seguinte. Houve essa conversa, mas é uma conversa que tem que ficar entre nós”, destacou, cheio de mistérios. Ele não quis revelar se aconteceu alguma bronca ou cobrança. “A gente tem que ter essas conversas, se fica todo mundo calado a gente não sabe o que acontece. Numa frase, a gente pode detectar alguma coisa que possa consertar”.
Segundo o dirigente, o time está atuando com muito nervosismo. “O Atlético quer decidir o jogo nos primeiros minutos. À medida que o gol não sai, vai ficando mais nervoso e muda até a forma como joga, dá um desespero e todo mundo quer resolver por si”.
Trabalho
Hoje à tarde, os jogadores voltam a trabalhar sob o comando do técnico Gílson Nunes. Ele deverá realizar um treino apronto e definir os substitutos de Rogério Correia e Cocito, que tomaram o terceiro cartão amarelo. O treinador também não poderá contar com o atacante Kléber (vetado pelo departamento médico devido a uma contusão na coxa) e depende de um exame em Alessandro para saber se poderá utilizar o lateral. O jogador sofreu uma luxação no ombro direito e dificilmente irá à campo. Os prováveis substitutos deverão ser Gustavo, Douglas Silva, Dagoberto e Rogério Souza.