Lucas Lima é uma unanimidade no futebol brasileiro. Criativo, mas se esforça para marcar. Habilidoso, mas joga para o time. Considerado o melhor camisa 10 do Brasil por Muricy Ramalho, o atleta de 24 anos já despertou interesse do Palmeiras e Cruzeiro, mas diz que só sai do Santos para atuar na Europa.

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Mas essa admiração é coisa recente. Aos 16 anos, saiu de Marília, rodou 800 quilômetros para iniciar a carreira na Chapecoense. Depois, rodou pelo interior paulista. Em vários clubes, recebeu salários com atraso e recorreu ao pai para pagar as contas. Foi parar no Racing, da Espanha, mas não se adaptou e voltou a Limeira.

Poderia ter sido do Palmeiras. Em 2011, recusou um convite para jogar pela equipe B do clube. Dois anos depois, recebeu uma proposta inferior à do Santos, seu clube atual. Teve uma oportunidade no Inter de Porto Alegre, de Dorival Júnior, mas foi emprestado ao Sport em 2013. Foi aí que ele começou a ser notado.

Foi um dos destaques do acesso do time à Série A, com sete gols e nove assistências em 47 partidas. Esses números e a capacidade de organização chamaram a atenção do Santos, que o contratou no início de 2014 por R$ 5 milhões. Precisou de uma temporada e meia para o ocupar o status de principal jogador do Santos, rótulo que disputa, ombro a ombro, com o atacante Robinho.

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Nesta entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira, esse jogador com poucos defeitos mostra uma insatisfação. “Meu objetivo é fazer mais gols”, diz.

Estadão – Na semana passada, você fez uma tatuagem do pênalti que cobrou e deu o título paulista o Santos. Por que?

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Lucas Lima – Foi um momento que marcou a minha vida e fiz questão de registrar. Será sempre uma lembrança muito boa, tão boa que vai ficar marcada na minha pele.

Estadão –Depois de receber tantos convites, por que continuou no Santos?

Lucas Lima –Eu fiquei para alcançar o objetivo de chegar à seleção brasileira e conquistar títulos. Conseguimos o título paulista neste ano. Sei que tenho muito a percorrer, mas acho que estou no caminho certo. Eu me sinto muito bem no Santos.

Estadão –Só sai se for para a Europa?

Lucas Lima –Tenho vontade de jogar na Europa e deixei bem claro que quero sair uma hora. O primeiro pensamento é só sair do Santos para fora do Brasil.

Estadão –Nem sempre você foi admirado como hoje. Como foi o seu início?

Lucas Lima –As grandes dificuldades que vivi foram antes de chegar ao Internacional. Rodei pela Chapecoense, José Bonifácio, América, Inter de Limeira. É difícil se manter em um clube grande.

Estadão –Quais eram essas dificuldades?

Lucas Lima –Eu joguei muito tempo sem receber. Às vezes, não tínhamos a mínima estrutura de trabalho. Essa realidade foi superada, mas me ajuda muito a valorizar um pouco as coisas que estou conquistando.

Estadão –Pode dar algum exemplo dessas dificuldades, no cotidiano?

Lucas Lima –Um dos meus amigos desistiu da carreira porque o jantar era arroz com mortadela frita.

Estadão –Sem receber, como pagava as contas?

Lucas Lima –Minha família me ajudava. Foram meus pais (Roberto Carlos, metalúrgico, e Sueli, enfermeira) que me deram apoio. Sou muito grato por isso.

Estadão –Isso significa que sua família nunca teve grandes dificuldades financeiras?

Lucas Lima –Meus pais sempre trabalharam e não tínhamos uma vida com exageros, mas nunca deixaram falta nada.

Estadão –Quais as lembranças que você tem da infância?

Lucas Lima –Eu até falo sobre isso com minha mãe. Lembro de um parquinho perto de casa e que gostava muito de chuteiras. Jogava bola na rua todos os dias.

Estadão –Era bom aluno na escola?

Lucas Lima –Não gostava muito de estudar. Faltava muito. Ainda bem que a bola deu certo, porque não gostava de estudar.

Estadão –Nos momentos de lazer e nas entrevistas, você mostra que se preocupa com a imagem. Você é vaidoso?

Lucas Lima –Gosto de me vestir bem e me cuidar. Gosto de roupas de estilo.

Estadão –Você se incomoda com as comparações com o David Beckham?

Lucas Lima –Não. Ele é meu ídolo. Fiz uma tatuagem na nuca inspirada numa que ele tem. A imagem é importante para o jogador, sempre estamos na televisão.

Estadão –Beckham é uma inspiração para dentro de campo também?

Lucas Lima –Sim, é um grande jogador. Como cobrador de faltas, era excelente.

Estadão –Qual é o seu ponto forte hoje?

Lucas Lima –Procuro ser um jogador dinâmico. Ao mesmo em que estou atacando, procuro estar pronto para defender também. Além disso, tenho um bom passe, bom lançamento.

Estadão –Como você pode melhorar?

Lucas Lima –Acho que tenho de aparecer mais na cara do gol. Posso fazer mais gols. Quero dar um pouco mais de profundidade ao meu jogo.

Estadão –Por que o Brasil tem poucos meias de qualidade?

Lucas Lima –O problema principal é o treinamento da base. Falta uma orientação desde as escolinhas. Sempre busquei e gostei de armar o jogo, dar a assistência. Em muitas vezes, deixei o gol em segundo plano. Existem muitas formas de ajudar o time, além do gol.

Estadão –Você fala tem facilidade para se expressar. Gosta de ler?

Lucas Lima –Eu leio pouco. Leio mais a Bíblia (é evangélico). Até tento ler os outros livros, mas acabo esquecendo e trocando o livro pelo videogame. Acompanho as notícias também pela internet. Claro que é bom sempre ler alguma coisa para melhorar, mas não tenho o hábito de ler todos os dias.

Estadão –Gosta de política?

Lucas Lima –Até um certo ponto. Não sou aquele cara que vai atrás e procura saber de tudo o que acontece. Mas temos de nos interessar pelo Brasil e fazer nosso papel como cidadão.

Estadão –Como cidadão, o que acha da situação do País hoje?

Lucas Lima –É difícil viver no Brasil. Hoje, nós, jogadores de futebol, temos uma condição muito boa, mas sabemos que não é assim com todo mundo. Tem muita pobreza no Brasil, isso é fácil de ver.

Estadão –Qual seria a solução?

Lucas Lima –Diminuir as diferenças que existem entre pobres e ricos. Acho que uma saída seria aumentar o número de emprego. O governo precisa dar oportunidades para todo mundo, não só para alguns.