Se há um torcedor que pode ver o mundo acabar, como se George Bush resolvesse explodir tudo que visse pela frente, é o do Coritiba. Com a melhor campanha no campeonato brasileiro nos últimos dois anos, atual campeão paranaense e prestes a iniciar sua segunda participação na Copa Libertadores da América, o Coxa parte como favorito à conquista do bicampeonato estadual. E os outros times tem um alvo claro: dinamitar, tal como Bush, a hegemonia alviverde.
Mais que todos, é o Atlético quem tenta soterrar a vantagem coxa. Depois de quatro anos que ficaram na história do clube, o Rubro-Negro teve duas temporadas de insucesso – o único título no período foi justamente o supercampeonato paranaense de 2002. Para este ano, as contratações de dez jogadores e principalmente a volta de Washington prenunciam uma equipe forte. E a ordem partiu do novo presidente, João Augusto Fleury da Rocha: o Atlético tem que jogar o Paranaense para ganhar.
O pensamento do Paraná Clube é semelhante. O time é o maior vencedor de campeonatos paranaenses nas últimas temporadas (seis, desde sua fundação, em 1989), mas ao mesmo tempo não leva a taça há seis anos. De lá para cá, o clube passou por profundas transformações, sofreu com ameaças de rebaixamento até no Estadual e agora adota a fórmula dos “pés no chão”, contando com jogadores desvinculados e atletas da casa. A favor, o carisma de Saulo de Freitas e a experiência do goleiro Flávio.
Ambos os times precisam muito do título. Afinal, deixar o Coritiba “tomar conta” do campeonato estadual, justamente em um ano que o Alto da Glória está em evidência, seria um pecado mortal. E os dois times precisam, antes de mais nada, buscar a recuperação no Paranaense. Mas e os clubes do interior? São treze “condenados”? Na verdade, o último campeonato provou que não se pode menosprezar qualquer equipe. Quando mais se esperava que eles seriam coadjuvantes, Paranavaí, Prudentópolis e Londrina chegaram às semifinais – e, por isso, serão nossos dignos representantes na Copa do Brasil. O Tubarão, com a marca do presidente Carlos Alberto Garcia e do diretor-técnico Raul Plasmann, é o principal postulante do interior.
Mas não se pode menosprezar a força do Paranavaí, que manteve Itamar Bernardes, e do Rio Branco, que conseguiu reforçar a base do ano passado. O Malutrom virá com um time extremamente jovem, e o Iraty também aposta na garotada, que disputou a última Copa São Paulo. Grêmio Maringá, Roma, União Bandeirante, Adap, Beltrão, Prudentópolis e os novatos Cianorte e Nacional também entram em campo a partir desta semana querendo mostrar força – e acabar com a festa do Coritiba.
Erro estratégico espanta o público
Sabe aquele aperitivo sem graça, que você evita para esperar o prato principal? É o Paranaense-2004, que começa na próxima quarta-feira, cheio de formulismos e com poucos atrativos para a torcida, “mal-acostumada” com os pontos corridos do último Brasileirão. O erro é estrutural (ou seria político?). A Federação Paranaense de Futebol prefere quantidade à qualidade e a competição terá 16 participantes, muitos deles clubes de empresários e sem identidade alguma com suas sedes.
Para “acomodar” tudo isso, retrocederam aos anos 60, com a divisão das equipes em duas chaves regionalizadas na tentativa de reduzir custos. Teremos um mês de competição para “selecionar” doze times entre dezesseis. Pior do que isso é o tal “quadrangular final”, um torneio da morte criado para justificar um calendário para os times eliminados após a fase classificatória. Este “torneio paralelo” define dois rebaixados, mas seu campeão representará o estado na Série C, enquanto clubes mais estruturados, que estarão disputando a segunda fase, ficam de fora da competição nacional.
Com um produto como esse, não é de se estranhar que nenhuma emissora de televisão tenha decidido investir em transmissões. Será um ano para o torcedor voltar ao estádio ou acompanhar seu time pelo rádio ou pelo jornal. O único real atrativo é buscar uma das três vagas para a Copa do Brasil. Os doze times classificados na primeira fase serão divididos em dois grupos agora sem regionalização e jogam em turno único. Os dois primeiros de cada chave fazem as semifinais. Os vencedores disputam o título da temporada.
Como é permitido o registro de novos atletas até a véspera do início das semifinais (terceira fase), é possível um time se reforçar apenas para as etapas decisivas. Com o término do Paranaense previsto para o dia 18 de abril, os finalistas caso sejam times da Série A (Coritiba, Atlético e Paraná) terão ainda o ônus de encarar a estréia no Campeonato Brasileiro (este sim o “prato principal”) três dias após a decisão.
Serão utilizadas, no total, 16 datas neste “samba do crioulo doido”. Com apenas mais duas rodadas, poderíamos ter uma competição equilibrada, em turno e returno, e com somente dez clubes. Um número mais racional para a realidade do nosso futebol. Sonhar pode não custar nada, mas imaginar equilíbrio e ponderação da cartolagem está mais para utopia do que para sonho…
Otimismo e reforços para 32.ª conquista
Ande nas ruas de Curitiba e rapidamente você vai perceber quem torce para o Coritiba. Nos últimos dias (ainda mais depois da contratação de Aristizábal), os coxas andam sorridentes, animados com a temporada mais importante do clube nos últimos 18 anos, e esperançosos pela conquista do 32.º campeonato paranaense e por uma boa campanha na Copa Libertadores da América. No discurso dos jogadores, da comissão técnica e da diretoria, só se fala em “ganhar tudo” em 2004.
Os reforços contratados aumentaram a expectativa. Principalmente Luís Mário e Aristizábal, que no papel formam uma das melhores duplas de ataque do futebol brasileiro. Se outros setores da equipe parecem ter sido negligenciados (a defesa, especialmente), a força ofensiva alviverde contrasta com a dificuldade que a equipe tinha no ano passado, quando teve o ataque menos efetivo entre os times que chegaram à Libertadores.
Mas o ano passado só serve como boa lembrança, o ano que levou o Coxa ao mais importante torneio interclubes do continente. Agora, as atenções estão voltadas para a temporada cheia. “Sem saber a fórmula da Copa Sul-Americana, já temos 68 jogos garantidos”, avisa o vice-presidente Domingos Moro. “Se quisermos manter esse nível, temos que entrar nas quatro competições querendo ganhar”, completa o atacante Josafá.
E o primeiro é o campeonato paranaense, que para o Coxa teve dimensões exacerbadas no ano passado, quando o time conseguiu o título invicto, feito que não acontecia desde 1936. “Vamos entrar para conquistar o bicampeonato”, diz o presidente Giovani Gionédis. “Não vamos priorizar nenhuma competição. O campeonato paranaense é importante, e é meu interesse particular ganhar o título”, confessa o técnico Antônio Lopes, que foi campeão estadual em 96, pelo Paraná Clube.
Mas é claro que haverá atenção maior para a Libertadores no primeiro semestre. Por isso, a partir do dia 10 de fevereiro (quando o Cori estréia na competição) serão vistos jogadores jovens e em busca do estrelato. Com as ?feras? poupadas para o torneio continental, Lopes terá que usar o time B – ou mesmo o C, em algumas partidas – para conseguir a classificação nas duas primeiras fases.
Mas nem isso aflige os otimistas torcedores coxas. Para eles, o Paranaense é o primeiro passo para um dos melhores anos da história do clube. Conscientes da empolgação – e da pressão que ela gera -, os jogadores tentam manter a calma. “É uma competição importante, que nós temos que encarar com muita seriedade”, resume Luís Mário, uma das esperanças da torcida – e uma das estrelas do campeonato paranaense, que começa para o Cori na quinta, contra o Iraty, no Couto Pereira.
Time-base: Fernando; Danilo, Esmerode (Juninho) e Nivaldo; Reginaldo Araújo, Reginaldo Nascimento (Roberto Brum), Luís Carlos Capixaba e Eder (Marcel); Aristizábal e Luís Mário.
Lopes, o comandante disciplinador
Antônio Lopes chegou ao Coritiba para ser o “comandante” da arrancada alviverde na Libertadores. Com experiência comprovada e títulos que vão do campeonato carioca até a Copa do Mundo, o treinador terá a responsabilidade de guiar o Coxa pelas tortuosas ciladas da América do Sul, sem esquecer dos problemas domésticos. Lopes é o único treinador que pode ser bicampeão paranaense neste ano, assim como o time que treina.
Os métodos de Lopes diferem – e muito – dos de Paulo Bonamigo. Rígido na disciplina e no trato com jogadores e imprensa, o treinador diz manter seu estilo graças ao “trinômio disciplina, união e trabalho”. Ao contrário do antecessor, não se preocupa em cultivar amizades no círculo de trabalho, e é um amante da hierarquia. Natural, para quem é delegado aposentado.
Mas Antônio Lopes é um vencedor. São inúmeras conquistas, quase todas elas pelo Vasco – incluindo o título brasileiro de 97, a Libertadores do ano seguinte e dois campeonatos cariocas. Por isso, o treinador é uma das grandes esperanças do Coritiba em 2004. Caberá a ele dar o rumo para a nau alviverde não afundar nem em nossos rios ou em mares nunca dantes navegados.
Elenco do Coritiba para 2004
JOGADOR | IDADE |
Goleiros | |
Fernando | 25 |
Fernando Vizzotto | 25 |
Douglas | 23 |
Júnior | 21 |
Laterais | |
Reginaldo Araújo | 26 |
Tesser | 21 |
Adriano | 19 |
Lira | 20 |
Ricardo | 18 |
Badé | 20 |
Zagueiros | |
Danilo | 21 |
Juninho | 21 |
Esmerode | 28 |
Nivaldo | 23 |
Miranda | 19 |
Meias | |
Roberto Brum | 25 |
Ataliba | 24 |
Reginaldo Nascimento | 29 |
Pepo | 21 |
Cacique | 18 |
Márcio Egídio | 18 |
Tiago Santos | 18 |
Luís Carlos Capixaba | 30 |
Rodrigo Batatinha | 26 |
Éder | 23 |
Alexandre Fávaro | 20 |
Atacantes | |
Luiz Mário | 27 |
Marcel | 22 |
Ricardo Malzoni | 19 |
André Nunes | 18 |
Aristizábal | 32 |