Um filme quase tão perfeito quanto Pelé

O produtor e diretor do filme Pelé Eterno, Aníbal Massaini Neto, tinha um objetivo claro quando começou a rodar o documentário: separar o mito do homem, e desse mito explorar o máximo possível. E ele conseguiu, porque as imagens e os depoimentos que preenchem as mais de duas horas de exibição colocam Pelé em seu devido lugar, o de maior jogador de futebol da história. E praticamente esquece Edson – ou melhor, esquece os equívocos de Edson.

Massaini não economizou esforços para preparar o filme. Ele coletou mais de duzentas horas de gravações sobre o Rei, e delas selecionou as mais espetaculares. E Pelé Eterno deixa os espectadores boquiabertos. Mesmo as pessoas que não gostam de futebol (geralmente as mulheres, que precisam ir ao cinema para acompanhar maridos, namorados e filhos) não deixam de soltar exclamações ao ver gols e jogadas de Pelé.

Neste aspecto, o filme é quase perfeito. Ele mostra lances pouco vistos, como os do Santos no final da década de 50, os primeiros gols do Rei pela seleção em 57 e as mágicas partidas no exterior. Há também cenas de bastidores, depoimentos de amigos de outrora (que fazem Pelé chorar) e histórias pouco lembradas, como a do zagueiro do Bahia xingado pela torcida por evitar o milésimo gol de Pelé, que acabou saindo contra o Vasco.

Aí aparece uma faceta estranha – não do filme, mas da situação. Fica claro que Pelé preparou seu caminho para marcar o milésimo gol no Maracanã. A partida foi no dia da Bandeira, data ideal para o regime militar aproveitar o momento para uma auto-exaltação. O período também é evocado com “Pra Frente Brasil”, da Copa de 70, gravado por Zeca Pagodinho especialmente para o documentário.

E o principal ??porém?? do filme acontece justamente na lembrança da Copa do México. O texto de Armando Nogueira foi visivelmente mutilado na pós-produção, para que fosse tirado o nome (e o gol) de Gérson na final contra a Itália. Só uma represália às recentes críticas do Canhotinha de Ouro pode explicar a ausência das imagens do segundo gol brasileiro nos 4×1.

O que mostra que Edson Arantes do Nascimento, assim como todos nós, é um ser humano. Ele tem família, filhos (durante o filme, há uma crítica velada a Sandra Regina, a filha que ele teve que assumir) e amigos. E também teve desafetos, inimigos (Maradona não aparece) e problemas financeiros (citados ?en passant?). Mas o documentário é sobre Pelé, e este não tem defeitos. Mesmo.

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