Valquir Aureliano |
Para Hagebock, presidente do TJD, ?prazos já venceram?. |
11 de outubro de 2005: um dos julgamentos mais importantes da história da justiça desportiva paranaense acaba com resultado decepcionante. Após 2 meses de produção de provas, depoimentos bombásticos e acusações sérias de um esquema de compra de resultados, apenas 4 dos 13 denunciados foram punidos – mais tarde, revisões de resultados e o julgamento definitivo ampliariam o número para 8. Um ano depois do grande momento do caso Bruxo, resta uma sensação de meia-justiça. O segundo inquérito instaurado na mesma época para apurar novas denúncias incluiu no meio do rolo o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Moura, mas foi estrategicamente engavetado no meio do caminho entre o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) e o Ministério Público (MP).
O inquérito que ficou conhecido como ?Bruxo 2? saiu do TJD para as mãos do procurador geral de justiça, Milton Riquelme de Macedo, passou pela Promotoria de Investigação Criminal (PIC), pelo 1.º Distrito da Polícia Civil, voltou à PIC e agora retornou à Procuradoria de Justiça, para que algum promotor criminal reassuma a investigação. ?A PIC diz que tem outras prioridades. O MP tem estrutura para investigar se havia envolvimento da cúpula da FPF, mas na verdade o inquérito está parado?, lamenta o promotor de justiça e auditor do TJD Octacílio Sacerdote Filho, presidente do processo ?Bruxo 1?, que levou 8 denunciados à condenação.
O ex-presidente do TJD, Bortolo Escorsim, prometia reativar o caso na justiça esportiva assim que o MP ou a polícia entregassem o resultado das investigações. Agora, José Roberto Dutra Hagebock, que assumiu o TJD em julho, nem isso cogita. ?Soube há pouco tempo que o Bortolo levou o segundo inquérito à PIC. Mas a maioria dos prazos venceu. Para nós o caso está encerrado?, disse Hagebock, contrariando posição anterior de Escorsim. O antigo presidente do TJD dizia que os prazos não contariam enquanto a papelada estivesse nos outros órgãos.
No Bruxo 2, o presidente do inquérito no TJD, Paulo César Gradella, denunciou, além de Moura, os ex-presidentes da comissão de arbitragem da FPF Fernando Luiz Homann e José Carlos Marcondes, e o diretor da escola de árbitros da FPF, Nelson Orlando Lehmkuhl. O inquérito foi aberto para apurar as denúncias feitas à Tribuna por um ex-jogador do Eng. Beltrão, que acusou o clube de ter subornado árbitros para subir à Série Ouro do Paranaense, em 2004.
As investigações mudaram de rumo com as declarações de José Francisco de Oliveira, o ?Cidão?, que acusou Moura de vender ao Ponta Grossa o resultado de uma partida contra o Prudentópolis, no Estadual de 2000, por R$ 50 mil. Foram incluídas gravações de uma conversa em que Fernando Homann relata ao ex-árbitro Amoreti Carlos da Cruz o envolvimento de Moura e de José Carlos Marcondes em manipulação de escalas de arbitragem e favorecimento a times envolvidos no esquema de corrupção.
Punidos esperam revisão da pena e sonham em voltar
A suspensão não calou alguns dos denunciados do caso Bruxo. Afastados ou eliminados do futebol, árbitros ainda tentam reformar a decisão da Justiça e reconstruir a imagem no futebol.
É o caso de Antônio Oliveira Salazar Moreno, que busca através do advogado Domingos Moro a revisão da pena de 2 anos de suspensão aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva. A hipótese é improvável, mas o árbitro não se incomoda em esperar até agosto de 2007, quando termina de cumprir a pena, para retomar as atividades. Então terá 43 anos, dois a menos que a idade máxima para apitar. ?Nem que só tivesse mais 10 dias. Voltar é questão de honra?, diz, enfático.
Salazar foi um dos acusados pelo árbitro Evandro Rogério Roman, hoje uma espécie de aspirante ao quadra da Fifa, de integrar a ?máfia do apito? no futebol local. Além disso foi afastado de um jogo do Estadual de 2000 por suspeita de corrupção e teria confirmado a uma colega de apito que realmente recebe suborno das equipes. Todas as acusações são negadas por Salazar, que se diz vítima da ânsia por punições. ?A Federação quis fazer média. Tinham que tomar alguma atitude daquele bafafá. Mas o tiro sairá pela culatra. Buscarei na Justiça o ressarcimento por todos os danos que sofri?, fala o ex-membro do quadro da CBF, que é representante comercial e hoje tem uma revenda de aparelhos celulares no centro de Curitiba.
Outro que promete processar responsáveis diretos e indiretos pela condenação é Amoreti Carlos da Cruz, ex-apitador e fundador do Sindicato dos Árbitros do Paraná – entidade que não conseguiu representatividade. Amoreti também busca no STJD a revisão da sentença de eliminação do futebol, proclamada após acusações de chefiar a máfia do apito e receber propina para beneficiar o Marechal Cândido Rondon na Série Prata de 2003. Na prática, a mudança da pena não mudaria nada, pois o ex-árbitro já era inativo na época da condenação. ?Tenho amigos, filhos, parentes, sou conhecido na cidade. Tenho que dar uma satisfação a eles?, afirma, dizendo estranhar o silêncio dos colegas de ?gancho?. ?Fomos bodes expiatórios, punidos sem provas. O Fernando (Luiz Homann, ex-presidente da comissão de arbitragem) falou mais que o Evandro, mas quando o inquérito chegou nos grandes, engavetaram?, detona.
Além de Amoreti e Salazar, foram punidos o ex-árbitro José Francisco de Oliveira (Cidão) e os dirigentes Genézio de Camargos, Sílvio Gubert e Gílson Pacheco (eliminados do futebol), além de Homann, o ex-diretor de arbitragem Antônio Carvalho, o árbitro Marcos Tadeu Silva Mafra e o ex-diretor da FPF, Johelson Pissaia (2 anos de suspensão).
Sacerdote: ?Caso mudou o apito?
Para o auditor Octacílio Sacerdote Filho, responsável pela condução do inquérito que resultou nas condenações, o caso Bruxo trouxe conseqüências benéficas ao futebol paranaense. ?As punições poderiam ser maiores. De qualquer forma, dali para frente a comissão de arbitragem mudou e não se ouviu mais falar em escândalo. A imprensa e o público cobraram e os corruptos e corruptores agora se sentem intimidados.?