Geralmente, os clássicos são considerados jogos “de opostos”. Às vezes, é um time em alta contra outro em baixa. Ou então é o confronto de um forte ataque contra uma defesa bem postada.
Mas a partida entre Coritiba e Paraná, às 16h, no Couto Pereira, é o confronto entre mistério e abertura. De um lado, está uma equipe que guarda segredo da escalação, da tática e da forma de jogar. E de outro, um time que já é conhecido desde quarta-feira.
O Paraná Clube tornou-se a equipe mais ?escondida? do campeonato brasileiro. Durante a semana, jogadores e comissão técnica refugiaram-se na Associação Avelino Vieira para dois treinos secretos. Nem imprensa (que teve que buscar ângulos inusitados para acompanhar os trabalhos) nem os torcedores puderam ver a preparação de Paulo Campos. “Cada técnico tem seu método, e o Paulo prefere adotar este”, resume o goleiro Flávio.
Do lado do Coritiba, o técnico Antônio Lopes preferiu oficializar o time após o treino de quarta, mantendo a mesma formação da partida contra o Grêmio. “É bom trabalhar assim, porque você tem mais segurança”, explica o zagueiro Miranda. Com o time montado, o Delegado aproveitou os trabalhos para adequar o time às possibilidades táticas do tricolor, que pode entrar em campo com o 3-5-2 ou com o 4-4-2.
E os alviverdes garantem estar atentos às surpresas dos paranistas. “Eu acho que eles vão jogar com uma equipe bem marcadora, para tentar dificultar o nosso trabalho”, adverte o atacante Luís Mário. E os tricolores acham que, mesmo com tanta ?liberalidade?, os coxas terão armadilhas. “Eles com certeza têm algo preparado. Precisamos ficar atentos”, diz o zagueiro Fernando Lombardi.
A única coisa comum entre ambos é a necessidade de sair do Alto da Glória com três pontos. “Dentro de casa, nós temos que sempre impor nosso jogo, e buscar a vitória”, afirma o volante coxa Roberto Brum. “O professor Paulo Campos ainda não decidiu quem vai jogar, mas quem entrar em campo tem que lutar para conseguir vencer a partida”, resume o meio-campista tricolor Alexandre.
Para o Paraná Clube, ainda há um componente a mais: o jejum de vitórias sobre o Coritiba. São onze anos sem vencer em brasileiros, oito de tabu no Couto Pereira, e dois anos em todos os jogos. “A nossa obrigação é acabar com essa história”, diz o atacante Wellington Paulista. “Essa é mais uma coisa que nos dá ânimo para conseguir uma vitória”, responde o lateral alviverde Adriano.
Lopes aposta no entrosamento
O Coritiba entra em campo esta tarde para enfrentar o Paraná comemorando um ?feito?. Pela primeira vez neste campeonato brasileiro o técnico Antônio Lopes repete a formação da equipe. Para alguns, é apenas uma contingência, já que titulares como Aristizábal e Jucemar seguem fora. Mas, para o treinador, é a prova da evolução da equipe.
Lopes não escondeu o jogo, e confirmou o time na metade da semana. “Para nós, foi muito importante. Primeiro, porque confirmou o que nós pensamos, que o time está em um bom momento. E depois é bom para o nosso entrosamento”, afirma o atacante Luís Mário, principal personagem da semana. Ele confirmou o interesse de clubes estrangeiros, mas de quarta em diante não quis mais falar sobre o assunto. “Eu conversei com o Luís, e senti que ele está realmente tranqüilo”, elogia o capitão coxa Reginaldo Nascimento.
Para Antônio Lopes, outra boa notícia, já que ele pôde manter a equipe em mais uma partida. “É sempre positivo, porque reforça o entrosamento e melhora ainda mais o nosso rendimento”, afirma o técnico alviverde. “A tendência do meu trabalho é sempre manter a equipe. E como o time jogou bem contra o Grêmio, é mais do que justo eu não mexer em nada. E isso é muito bom”, completa.
Esquema tático é segredo de Campos
Irapitan Costa
Três zagueiros ou três volantes? Após uma semana de treinos secretos e poucas pistas, o mistério do Paraná Clube se restringiu à uma posição apenas. O técnico Paulo Campos assegura que o sigilo foi uma estratégia para resguardar os atletas do “clima” do clássico. Em busca de equilíbrio, o treinador testou a equipe no 3-5-2 (como na última partida), mas em boa parte dos coletivos voltou a trabalhar no 4-4-2, com uma alteração apenas. Fernando Lombardi deu lugar a Gilmar e esta dúvida vai persistir até o momento da equipe entrar em campo.
A quem aposte em Gilmar, mas Paulo Campos deixou escapar que a defesa é, hoje, o setor mais equilibrado do Paraná. Seria um sinal de que os três zagueiros serão mantidos? Isso, porém, não o obriga necessariamente a optar pelo 3-5-2. Com mais um volante, além de preencher o meio-de-campo com mais consistência, o treinador poderia dar liberdade ao meia-de-criação e aos atacantes. Os jogadores entraram no clima do “mistério” e não deram dicas sobre a formação que iniciará o clássico. “Isso é com o treinador. Espero ser escalado, mas…”, disse Lombardi.
Carlinhos é o defensor de melhor aproveitamento nas bolas aéreas e essa é a especialidade de Tuta. Paulo Campos não esconde que seu time terá cuidado redobrado não só com o centroavante, mas também com Luís Mário. Ao que tudo indica, a marcação será por setor e não individualizada. “É preciso marcar com inteligência, mas fazendo o nosso jogo, não ficando apenas na defensiva”, comentou o volante Beto, que volta ao time, junto com Axel.
No setor ofensivo, duas novidades. Alexandre deve ser a opção de criação, estreando neste Brasileirão. Nos últimos jogos, o Paraná teve Marcel nesta função e o treinador admite que ainda não encontrou a melhor formação do ataque. Por isso, Chokito terá nova chance. Adriano não conseguiu se firmar e Fernando, meia improvisado mais à frente nas duas últimas partidas, está suspenso. A presença de Chokito, na teoria, torna o time mais agressivo, com dois jogadores de presença de área. Galvão também tenta pôr um fim ao jejum de gols, ele não balança as redes desde o jogo frente ao Cruzeiro, pela quinta rodada do campeonato. Curiosamente, desde então o Tricolor não mais venceu.
Os técnicos trabalharam juntos
Corria o ano de 1983. Campeão carioca com o Vasco, Antônio Lopes foi sondado por Carlos Alberto Parreira, que estava por assumir a seleção brasileira pela primeira vez. Ele treinara o Kuwait na Copa de 82, na Espanha, e abria caminho para outro brasileiro. E cogitou Lopes. Nome aceito pelos príncipes, o hoje técnico do Coritiba montou sua comissão técnica. E ela incluía Paulo Campos, agora treinador do Paraná Clube.
A escolha de Antônio Lopes era natural. O técnico tricolor era, à época, um dos preparadores físicos do Vasco. “Ele já era, naquele tempo, um profissional muito competente. Por isso eu o convidei para trabalhar comigo no Kuwait”, conta o treinador coxa, responsável indireto pela longa permanência de Campos no Oriente Médio. “Eu acabei abrindo aquele mercado para ele”, reconhece.
Hoje, olhando para o rival da tarde, Lopes vê várias virtudes. “Eu fico feliz em ver o desenvolvimento dele como profissional. Com o tempo, e a experiência no Oriente, ele se transformou em um treinador de primeira linha, e por isso está no Paraná Clube. Considero o Paulo, hoje, um dos melhores técnicos do futebol brasileiro”, elogia rasgadamente o treinador coxa.
Reconhecimento
A admiração é mútua. Não apenas pelas portas abertas por Lopes para que Paulo Campos obtivesse hoje uma situação econômica tranqüila. Isso sem contar a condição profissional. “Quando o Lopes era o preparador físico do Vasco, ele me chamou para ser o seu assistente”, lembra o atual técnico tricolor. Foram dois anos de “parceria”, nas temporadas 79/80. A partir da amizade firmada neste período, Campos foi a opção natural de Lopes quando este seguiu para o futebol árabe.
“Aprendi a admirar o profissional e a pessoa. Nutro pelo Lopes só bons sentimentos, gratidão, amizade, respeito”, comentou Campos. Conhecendo a linha de trabalho do rival desta tarde, o técnico paranista não tem dúvida em definir o perfil do clássico. “Será um jogo honesto, limpo. Afinal, as duas equipes jogam na bola”.