Praias vetadas e a rodoviária fechada. Sobram poucos lugares gratuitos para abrigar os turistas que fazem de tudo para aproveitar a Copa do Mundo no Brasil. Eles comem mal, ficam dias sem tomar banho, dormem no chão e pedem carona nas estradas. O importante é estar perto e apoiar a seleção (seja brasileira ou estrangeira). Para esse grupo, resta buscar abrigo no Terreirão do Samba, no centro, e na Fun Zone do Aeroporto Internacional do Galeão, ambos espaços gratuitos.
Hospedados no Terreirão, sete jovens colombianos de Bucaramanga chegaram ao Rio pedindo carona, andando de ônibus e a pé. A viagem foi longa, porém barata: em 30 dias, gastaram juntos R$ 2,7 mil.
Para reduzir os custos, eles se dividiram em dois grupos durante a viagem. Antonio Becerra, de 23 anos, partiu com um amigo de ônibus até a Argentina, onde ficaram por 15 dias. Para entrar no Brasil, pediram carona para caminhoneiros até Cascavel (PR), de onde seguiram a pé por dois dias (70 km nos cálculos deles). Pediram então outras caronas até Belo Horizonte, que recebeu o primeiro jogo da Colômbia.
No outro grupo, cinco jovens vieram direto para o Brasil (de carona e de ônibus). Alguns tinham ingressos para as partidas (em Belo Horizonte, Brasília e Cuiabá) comprados pelo preço real de colombianos que não conseguiram vir para o País. Banho e alimentação os sete conseguiam quando paravam em postos de gasolina. Para dormir, barracas, albergues e casas de amigos.
SEM INGRESSO – Eles chegaram ao Rio há seis dias, mas não conseguiram ingressos para a partida contra o Uruguai por causa do alto preço dos cambistas. Caso a Colômbia passe para a semifinal, querem viajar para Belo Horizonte. “Valeu a pena pelo futebol, para conhecer o País e para aumentar nosso conhecimento cultural”, disse Becerra.
Sem dinheiro para pagar as caras hospedagens da cidade, eles passaram a primeira noite na Rodoviária Novo Rio, como vários estrangeiros. Antes de chegar à cidade, receberam orientação para não acampar nas praias, o que é proibido no Rio. Na rodoviária há lojas de comida, chuveiros (por R$ 5) e segurança. Até sábado, os turistas podiam dormir à noite em um espaço criado para assistir aos jogos. Depois veio a proibição.
No domingo, o chileno Carlos Alvial, de 27 anos, estendeu o saco de dormir no chão da rodoviária para passar a noite, mas foi informado que não poderia dormir no local. A volta para casa, depois de um mês no País, não tem relação com a eliminação da seleção chilena da Copa. “Meu dinheiro acabou. As coisas aqui são caríssimas”, disse, acrescentando que gastou R$ 2 mil no Brasil.
O Aeroporto Internacional Tom Jobim também montou um espaço para abrigar os turistas. Na Fun Zone (no Desembarque do Terminal 2), há televisão para transmissão dos jogos, videogame, mesa de pebolim e futebol de botão. Lá, os turistas também podem dormir. A maior reclamação dos “hóspedes” do Tom Jobim é que, sem banheiros com chuveiros, eles têm de improvisar um “banho de gato”.
SONHO – O caso de Sônia Maria dos Santos, de 58 anos, vale registro. Brasileira, ela mora no Uruguai há 32 anos, mas está sempre no Rio. Há 10 dias vivendo na Fun Zone, ela ganhou ingresso para a realização de um sonho: assistir à partida final de uma Copa do Mundo, no Maracanã. Sônia procurou hospedagem em diversos locais, mas como estavam muito caros, ficou no aeroporto. Lá ela tem um acordo com os estrangeiros que querem conhecer a cidade. Ela os orienta sobre pontos turísticos e vigia as bagagens. Em troca, eles pagam café da manhã, almoço e jantar dela.
Todos os dias ela sonha com a final, mas não arrisca os finalistas. “Posso morar a vida inteira fora, mas sempre vou torcer para o Brasil.” A maior emoção, até agora, foi a partida contra o Chile. “Só não tive um enfarte porque quero ver a final.” Depois de tantos dias vivendo no Galeão, Sônia vai para uma cidade no interior porque, segundo ela, foi assediada por cambistas. Ela voltará ao Rio às vésperas da partida. “Por segurança”, diz.
Há dois dias na Fun Zone, três colombianos tentam comprar passagens para voltar para casa. Eles estão em uma lista de espera porque só há um voo diário do Brasil para Bogotá. “Não temos passagem para voltar para casa”, afirmou Alex Mendes, de 32 anos, acrescentando que não pensa em voltar ao Brasil.