Belém (AE) – A festa de despedida da seleção descambou para tragédia. A menina Elinele dos Santos, de 10 anos morreu em conseqüência de traumatismo craniano, depois de ser atropelada na Rodovia Augusto Montenegro, em frente ao Estádio Mangueirão, na tarde desta terça-feira. Houve tumulto provocado por milhares de pessoas que não conseguiram entrar para assistir ao treino do Brasil e muitas ficaram feridas.
Mas o Governo do Estado do Pará defende que o atropelamento de Elinele dos Santos foi nas cercanias do estádio e nada teve a ver com a confusão.
Segundo dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no começo da noite havia mais de 100 torcedores feridos ? três deles com gravidade, um menino de 9 anos com traumatismo craniano e duas adolescentes com fraturas em pernas e braços. Cerca de 60 foram atendidos no setor médico do próprio estádio. Mais de 40 foram removidos para hospitais da cidade.
Belém agitou-se desde o início da tarde, só para ver em campo as estrelas do Brasil, que nesta quarta-feira enfrentam a Venezuela, no encerramento das Eliminatórias Sul-Americanas para o Mundial de 2006. Milhares de pessoas queriam a todo custo entrar no Mangueirão, para ter o prazer de acompanhar o bate-bola dos astros do time de Carlos Alberto Parreira.
Uma hora antes de o treino começar, o estádio estava superlotado. Cerca de 10 mil pessoas que não conseguiram entrar começaram a gritar para a Polícia Militar liberar os portões. A ordem, porém, foi a de reforçar as entradas para evitar invasão. Revoltados, torcedores passaram a atirar pedras e a chutar os portões. A PM mandou a cavalaria dispersar a multidão, mas a confusão piorou. Além disso, policiais dispararam para o alto e usaram bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para conter os mais exaltados. Portões foram quebrados e quem tentou entrar apanhou de cassetete.
Houve muito corre-corre. Mulheres e crianças foram pisoteadas e tiveram de receber atendimento médico no próprio local e no setor de pronto-socorro de vários hospitais. Dentro do estádio havia pelo menos 50 mil pessoas que, para ver o treino, tiveram de colaborar com um quilo de alimento não perecível.
O Samu mandou para o campo dez ambulâncias, sendo duas equipadas com UTI móvel, para prestar socorro imediato aos feridos.
Segundo o tenente-coronel Osmar Silva, a PM não agiu com violência e "apenas evitou que o estádio fosse quebrado" pelos descontentes que não conseguiram ter acesso às arquibancadas. "Não havia lugar para mais ninguém, mas tinha gente que insistia em entrar, o que colocaria em risco a segurança de todos", explicou o oficial. Um policial contou que foi agredido com chutes e socos por vários torcedores que não se conformavam com a frustração de terem sido barrados no portão.
"São despreparados e não sabem tratar o povo com respeito!", reagiu com indignação o motorista de táxi Ercílio de Jesus Ferreira. Ele disse que os PMs perderam o controle durante a invasão dos torcedores e saíram batendo em quem encontrassem pela frente. Isso teria aumentado a confusão.
A Secretaria de Esporte e Lazer (Seel), que administra o Mangueirão, começou a limpar as dependências do estádio logo depois do treino, no começo da noite. Operários foram convocados para passar a madrugada, se necessário, na recuperação dos portões quebrados na tentativa de invasão dos fãs. Ainda não existe estimativa do prejuízo provocado pela destruição dos acessos.
Os organizadores do jogo desta quarta-feira garantem que não haverá problemas para os torcedores. Foram vendidos 46 mil entradas.