Sábado, 16 de março de 2019. Um dia que começou com chuva em Curitiba e região, daqueles propícios a se ficar em casa com preguiça. Mas, por algum motivo, centenas de pessoas foram a São José dos Pinhais para um programa um tanto quanto atípico.
Logo cedo, por volta das 9h45, o estádio do Xingu já recebia um bom número de torcedores para a partida entre Botafogo e Panelão, válido pela primeira rodada do Cinquentinhas, do futebol amador da capital. Só que a atração não era o jogo em si, mas sim os participantes.
Pelos donos da casa, três nomes que marcaram a história do Botafogo original, do Rio de Janeiro, estavam escalados. O zagueiro Válber e os atacantes Donizete Pantera e Túlio Maravilha eram os reforços da equipe da região metropolitana. Os dois primeiros já sabiam o que era o torneio, uma vez que eram os veteranos da equipe.
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“É uma experiência nova, bem legal. Joguei ano passado e gostei muito. É muito organizado, com uma rapaziada muito legal. E aí, além de cuidar do corpo praticando esporte, faz aquilo que gosta. Fui campeão pelo Botafogo, com muitos ex-jogadores, e é muito bacana. A gente acaba sentindo o carinho da torcida e estou muito contente de participar de novo”, ressaltou Donizete.
No entanto, as atenções estavam para um novato nem tão novato assim. Aos 49 anos, Túlio estreava no futebol amador curitibano. Para os mais velhos, a chance de viver a nostalgia dos áureos tempos dos anos 1990, quando ele era um dos artilheiros do Brasil. Para os mais novos, a primeira oportunidade de ver ao vivo o ídolo botafoguense.
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“É uma emoção muito grande. O Túlio e o Donizete são meus maiores ídolos, vi eles no auge, foi fantástico, mas sem palavras pra descrever a emoção que estou sentindo hoje. Já os tinha vistos profissionalmente, mas conversar assim com eles, nunca, isso é de arrepiar. Fiquei louco quando soube“, disse o engenheiro mecânico Felipe Corrêa Frota, de 37 anos.
Dupla afinada
Em campo, a chance também de reviver a dupla Donizete e Túlio, que jogaram juntos por Botafogo, em 1995 e 2000, e Corinthians, em 1997. Quase 20 anos depois, eles estavam tabelando novamente, mostrando que o entrosamento seguia firme e forte. Antes mesmo de a bola rolar, o próprio Donizete já previa que o reencontro daria resultado.
“O entrosamento está em dia. Eu conheço o Túlio só de olhar, já sei como ele gosta de receber as bolas, é um cara muito inteligente, formidável profissional e é uma satisfação poder jogar com ele de novo”, disse o Pantera, um dia antes da partida.
E, de fato, a dobradinha deu certo. Donizete foi o primeiro dos dois a marcar, deixando zagueiro e goleiro para trás e saindo comemorar como nos velhos tempos, imitando uma pantera. Ele ainda deu quatro assistências no total. Mas quem estava inspirado mesmo era Túlio, que marcou nada menos do que cinco gols na partida, sendo três no primeiro tempo – dois deles com passes do antigo companheiro -, e mais dois na etapa final.
“Eu e essa mania de fazer gols. Até brinquei com o pessoal, porque eu tinha feito quatro gols e eles queriam me tirar. Eu falei que só saía quando fizesse o quinto e aí depois eu pedi para sair, para que todo mundo pudesse jogar. Foi uma estreia bacana, com a torcida apoiando e isso que é bonito no futebol. O objetivo foi alcançado”, disse Túlio, que, pra variar, fez mais uma promessa.
“Minha média agora é cinco por jogo. Antes era um por jogo, mas agora eu com 50 anos, jogando no Cinquentinha, número cinco…vamos ver se até o final do campeonato eu chego a 100 gols e batemos o recorde de artilheiro”, garantiu o atacante.
Tietagem e respeito
O placar final da partida? Um sonoro 11×1 para o Botafogo, com os outros gols sendo marcados por Dago, Irlan, Kremer, Anderson e Alexandre, que, na manhã de sábado, foram coadjuvantes das estrelas do time, mas com total orgulho.
“É muito prazeroso poder receber esse pessoal no nosso grupo, é uma honra jogar com profissionais que chegaram à seleção brasileira. E eles chegam aqui e mostram humildade, nos respeitam muito e foi muito gratificante jogar com eles, que são muito diferentes e não tem preço isso”, disse o lateral-esquerdo Ademir, de 53 anos, que fez toda a carreira no futebol amador.
Até mesmo os adversários não escondiam a empolgação de enfrentar os ex-profissionais. Antes e depois do jogo, os rivais eram admiradores. Praticamente todo o elenco do Panelão fez questão de tira foto com os craques. Principalmente com Túliio Maravilha, que no intervalo do jogo, quando o placar já estava 7×0, foi rodeado pelos adversários, que queriam uma palavra com ele.
“É uma motivação é muito grande ver o outro time com jogadores renomados. No campo é uma rivalidade sadia, mas seu usar da deslealdade. Tem que jogar com inteligência, não se apavorar, jogar com raça, dedicação, que conseguimos parar essa galera. Depois do jogo podemos tirar uma foto, pegar um autógrafo, pra engrandecer este momento”, afirmou o zagueiro Café, do Panelão.
A goleada foi construída rapidamente. Com apenas 11 minutos, o placar já estava 4×0. Porém, os marcadores não davam mole. Fechavam o cerco em cima de Donizete e Túlio. O goleiro aos berros a todo momento para chamar a atenção da defesa. Era a chance de parar nomes que já vestiram a seleção brasileira. E isso empolgava ainda mais quem estava em campo.
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Tanto que mesmo com os gols saindo naturalmente, não faltava vontade nas disputas de bola. Ninguém desistia facilmente ou se abatia com a derrota já escrita em pouco tempo. No entanto, tirando uma entrada mais dura ou outra, nada de botinadas, empurrões ou faltas mais duras, na tentativa de parar os ex-profissionais.
“Não bateram não, jogaram o futebol deles. Mas eu não dou chances não. A hora que vem pra bater eu já saio, dou meio toque na bola, evito choques. Eu pego a bola é um, dois passes e já me preparo pra finalizar”, disse Túlio Maravilha.
Na conta?
Com mil gols na carreira, a conta de Túlio sempre foi contestada, mas ele garante que tem essa marca registrada e que todos os gols foram marcados em jogos profissionais. Tanto que os cinco deste sábado não serão somados na lista.
“Não tem nada a ver. Isso é futebol amador. Oficialmente, no profissional, foram mil gols, que eu alcancei pelo Araxá. Espero ainda conseguir um contrato com algum time de terceira, quarta divisão para, aí sim, ir em busca do gol 1001, que é o gol da superação”, completou.
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