Alguns dizem que nada nesta vida acontece por acaso, então, certamente, foi obra do destino que Geane Chu nascesse em 1985, o ano do título Brasileiro do Coritiba. A arquiteta, que tem 32 anos, guarda em suas memórias de infância o som característico das rádios que transmitiam jogos na AM no início da década de 1990. Com a companhia dos pais, os domingos eram reservados a acompanhar o time do coração. Frequentadora das arquibancadas do Couto Pereira desde os nove anos, ela teve certeza de que reservaria em seu coração um lugar vitalício ao time depois de um Atletiba.

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“Meus pais me levaram a primeira vez ao Couto pra ver um jogo contra o Paraná Clube quando eu tinha 9 anos. A segunda vez foi um Atletiba. Ganhamos os dois e me apaixonei. Quando fiz 16 anos meus pais passaram a me deixar ir sozinha ao estádio e comecei a ir a quase todos os jogos. Entrei pra bateria da Império Alviverde e comecei a me envolver mais com o clube”, contou Geane, que não se contentou em dedicar apenas seus braços e sua voz, na geral, para empurrar o time.

Quando tinha 24 anos, a arquiteta decidiu que poderia ser importante para o Coritiba, atuando diretamente nas decisões do clube. Em 2010, ela se candidatou ao Conselho Deliberativo. Na ocasião, teve o segundo maior número de votos no pleito e tornou-se a conselheira mulher mais nova na história do time.

“Estou agora no meu quarto mandato, que começou este ano. Para mim é uma honra poder participar ativamente da política do clube e tenho vontade de evoluir nela conforme for tendo tempo e experiência”, disse.

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Atualmente, o Coritiba tem em seu conselho 160 membros eleitos, 28 natos e 60 vitalícios. Desse número, apenas duas são mulheres. Outro número expressivo que liga a história de Geane ao Coxa é do número de camisas que ela tem em seu acervo: são 110 mantos.

Geane é uma das únicas duas mulheres que fazem parte do Conselho do Coxa. Foto: Arquivo Pessoal

“Comecei a colecionar quando o Coritiba estava próximo de completar 100 anos e lançou camisas comemorativas aos aniversários. A primeira foi a de 94 anos, em 2003. Depois juntei com as camisas que já tinha, mas que não considerava como uma coleção, e comecei a procurar peças mais antigas, a comprar os lançamentos e buscar camisas usadas em jogos”, falou a torcedora, que também coleciona momentos marcantes que viveu por conta de sua paixão pelo Alviverde. O título Paranaense de 2004 está entre eles.

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“Ganhamos a primeira partida no Couto e fomos campeões na Baixada com um empate, 3×3, dois gols do Tuta. Nessa época eu tocava na bateria e a torcida teve uma participação extraordinária na conquista. Os torcedores sempre ajudam, mas poucas vezes vi tanta paixão como nesse dia. Fomos bicampeões na casa do nosso rival em um jogo muito difícil, foi inesquecível”, detalhou.

A conselheira garante que nunca foi desrespeitada enquanto torcedora. Pelo contrário, sempre foi incentivada a emitir suas opiniões sobre o time pelos pais e pelos amigos.

“Hoje em dia existem mais mulheres que gostam de ir ao estádio em comparação à época em que comecei e acho que isso se deve em parte ao respeito que recebemos nas partidas. Acredito que quando se é apaixonado por algo fica fácil falar sobre. Adoro conversar sobre o time em si e o que acontece com ele. Sempre gostei, desde criança, quando entrava em discussões sobre futebol na escola, geralmente com os meninos”, explicou a aficionada pelo Coritiba, que tem profunda admiração por Alex e Dirceu Kruger e vislumbra o dia que uma mulher possa ocupar a presidência do Coritiba.

“O que importa para o clube é que seus presidentes sejam comprometidos e honestos e que tenham uma boa equipe por trás. O gênero é apenas um detalhe”, finalizou.

Rhaissa

As opiniões da jornalista Rhaissa Sizenando da Silva sobre o desempenho do Atlético nos jogos podem ser conferidas semanalmente nos vídeos do maior canal de Youtube dedicado ao Furacão: a Trétis TV. Ela divide a bancada com as torcedoras Thais Guisi e Fernanda Oliveira,  que também entendem muito quando o assunto é o Rubro-Negro. Rhaissa tem 25 anos e acompanha o Atlético desde os sete.

“A primeira vez que fui ao estádio foi em 2000, num jogo Atlético x Prudentópolis. Meu pai disse que íamos ao meu tio, que mora perto da Arena, mas acabou me levando à Baixada. Nunca na vida vou esquecer a sensação de entrar naquele estádio. Chorei litros e me arrepio até hoje em lembrar”, contou.

Nem só de momentos de alegria vive o torcedor e, por isso, a jornalista recordou de dois momentos marcantes e opostos que vivenciou com o time.

Rhaissa atualmente participa do Trétis TV, no YouTube. Foto: Arquivo Pessoal

“Não tem como não citar o título de 2001. Apesar de ser muito pequena (tinha 9 anos na época), sempre fui completamente apaixonada pelo Atlético. Assisti a final na casa do meu avô, sozinha, porque meu pai saiu pra caminhar, pois estava nervoso. Gritei muito quando ganhamos. Foi sensacional. Outro momento importante, porém triste, foi a final da Libertadores em 2005, a qual perdemos. Chorei demais porque senti raiva, tristeza e decepção. Tudo levava a crer que ganharíamos, tínhamos um timaço (Diego, Fernandinho, Marcão, Lima) e até hoje não me conformo”, detalhou.

Acostumada desde pequena a defender seu ponto de vista sobre o Atlético, a jornalista nunca ‘abaixou a cabeça’ para quem contestava sua opinião.

“Era criança e meus primos queriam falar somente do Coritiba, queriam fazer com que eu perdesse a paciência. Sempre debati e bati de frente com eles, nunca fiquei para trás”, contou a atleticana, que fez muitas amizades por conta do time do coração.

“Faço parte de diversos grupos nas redes sociais para falar do Atlético. Fiz muitos amigos por conta disso. Nos reunimos, fazemos churrasco, tudo para estar sempre vivendo o time”, disse a torcedora, que admira muitos ex-jogadores que deixaram sua marca no Furacão.

“Tivemos muitos nomes marcantes. Sicupira, Nilson Borges (que está até hoje no clube), Alex Mineiro, Cocito e Kleberson, por ter levado o nome do Atlético durante o pentacampeonato na Copa de 2002”, comentou.

Na Trétis TV desde janeiro, a bancada feminina do programa, o Trétis por Elas, tem seus vídeos divulgados todas as sextas-feiras. Apesar de comentários machistas pontuais, a repercussão do quadro comandado pelas mulheres tem sido muito positiva.

“Tivemos cerca de quatro comentários machistas, inclusive alguns pesados, mas os demais são sempre nos elogiando e reconhecendo que sabemos, sim, de futebol e, às vezes, mais que muito marmanjo da torcida. Observei, também, que com o Trétis por Elas, as meninas tomaram coragem de falar também e isso é incrível!”, finalizou.

Itauana

Itauana Morgenstern, 35 anos, prova que a paixão por um time nem sempre vem desde a infância. Gaúcha, ela via todos os seus familiares torcerem para o Grêmio, mas nunca se animou a acompanhar o tricolor gaúcho ou qualquer outra equipe. Isso mudou em 2007. Itauana veio morar em Curitiba e começou a namorar Júnior, seu marido. Ele, paranista, levou a então namorada para um encontro em pleno Estádio Durival Britto e Silva. Mal sabia ele o risco que corria em perder espaço no coração da amada para seu time de futebol.

“Foi amor à primeira vista! Nunca mais quis sair da Vila Capanema e hoje sou mais apaixonada pelo Paraná do que ele mesmo. Depois que fui ao primeiro jogo, não parei de ir mais. Já desmarquei compromissos, mudei horário de trabalho, escutei jogo pelo fone em um casamento e até saí de um velório para não perder o jantar de aniversário do Paraná. Depois que comecei a torcer, o Tricolor passou a ser prioridade na minha vida”, contou Itauana, que viu no time um apoio fundamental para enfrentar um momento crítico em sua vida, quando descobriu que tinha uma doença rara chamada esclerodermia.

“Eu era muito ativa, fazia musculação cinco vezes por semana e tinha uma alimentação saudável.  Comecei a sentir dores nas articulações e logo em seguida falta de ar insuportável ao menor esforço. Foi tudo muito rápido. A esclerodermia me atacou forte e quase me matou.  Depois de uma gripe, quase morri e fiquei 18 dias na UTI. Saí de lá usando o oxigênio e com o pensamento em voltar ao estádio, o que aconteceu menos de 3 meses depois”, lembrou a jovem, que ficou conhecida pela torcida paranista depois que sua foto, no jogo do Paraná com um cilindro de oxigênio, viralizou na internet.

Itauana já recebeu a visita de jogadores do Tricolor, como Leandro Vilela e Róbson. Foto: Arquivo Pessoal

“Chegamos cedo na Vila Capanema e batemos fotos para recordação, como sempre fazíamos. Postamos no Facebook com a legenda emblemática ‘não é só um jogo’. A foto teve muitas curtidas, comecei a receber muitas mensagens e resolvi criar uma página intitulada ‘Quem disse que eu não posso?’ para falar não somente do meu amor pelo Paraná e das dificuldades, mas também da minha doença, que é rara e pouco conhecida até mesmo entre os médicos”, detalhou.

Hoje aposentada por conta da doença, Itauana escreve sobre o Tricolor da Vila em um blog chamado Mulheres em Campo.

“Fui convidada por uma torcedora do Coritiba, a Patricia, porque ela soube da minha história, viu que eu sempre ia aos jogos e resolveu me convidar para representar o Tricolor na página. Imediatamente aceitei e já escrevo há um ano para o blog, o que me ajuda também a enfrentar minha doença, pois me sinto feliz em participar do projeto”, disse a paranista, que se sentiu abraçada pelos tricolores no ano passado, quando lançou uma campanha para comprar um oxigênio portátil.

“Foi incrível! Precisava arrecadar R$15 mil para comprar esse oxigênio que tornaria minha ida aos jogos mais fácil. Lancei uma campanha para que as pessoas fizessem doações voluntárias e também fiz uma rifa em que o prêmio era uma camisa autografada pelo goleiro Marcos. Depois de apenas 12 dias consegui arrecadar o dinheiro necessário. Jamais terei como agradecer tudo o que os paranistas fizeram por mim!”, contou emocionada a fã do Tricolor, que já inaugurou o “presente” no primeiro jogo de 2018.

Assim como todos os torcedores do Paraná, Itauana lembrará para sempre da marcante campanha do acesso à Série A em 2017.

“Ano passado tive muitas gratas surpresas relacionadas ao Paraná, recebi em minha casa o Biteco, o Vilela e o Robson, participei de um treino com todos os jogadores e tive o apoio de muitos torcedores. Jamais imaginei que fosse receber tanto carinho e admiração. Contra o Londrina, ano passado, no jogo que nos colocou no G4, não pude ir, mas chorei demais com o gol do Renatinho aos 46 minutos do segundo tempo, pelo outro lado da telinha. Foi um momento emocionante na história do Paraná”, contou, com alegria.