Sem saber ao certo sequer a placa do ?caminhão?, o Paraná Clube tenta impedir que o desastre do Morumbi tenha efeitos futuros. Sem exceção, jogadores e comissão técnica se dizem envergonhados com o que aconteceu em São Paulo. Numa noite infeliz, o time viu sua reação no Brasileiro ser abrupta e impiedosamente detonada pelo São Paulo, na base do ?três vira, seis ganha?. Foi a pior goleada sofrida pelo Tricolor em quinze anos de disputa da Série A.
Com extrema sinceridade, o técnico Lori Sandri não eximiu ninguém de culpa. Nem mesmo a si próprio. ?Erramos em tudo. Não me excluo desse processo. Devo ter errado também na escalação e na estratégia de jogo?, afirmou o treinador, logo após o seu primeiro revés em sua segunda passagem pelo Paraná. Na primeira, em 2005, sua despedida ocorreu numa goleada para o próprio São Paulo, por 4×0, jogando em Maringá.
Se o mais otimista paranista talvez não acreditasse em vitória diante do líder, nem o mais pessimista imaginaria um revés desse porte. Se a melhor colocação do Paraná na primeira divisão foi o 5.º lugar do ano passado, mesmo em momentos da mais profunda crise é possível contar nos dedos as goleadas sofridas pelo time da Vila Capanema. Até o último sábado, a pior derrota havia ocorrido em 2004, quando o Tricolor levou 6×1 do Vitória, jogando no Barradão, em Salvador.
No geral, a regularidade defensiva sempre foi uma das características do time paranaense. Ao longo de 407 jogos válidos pela Série A, o time sofreu apenas 25 derrotas, levando 4 gols (considerando-se, nessa somatória, quatro placares de 4×2, que nem são considerados goleada, e um 4×3). Somente em quatro oportunidades o Tricolor sofreu 5 gols, com um jogo de 5×3, contra o Fortaleza, em 2003. No último sábado, conheceu a sua segunda derrota com seis gatos no balaio.
?Estou triste. Triste e envergonhado. Mas é um jogo para a gente jogar no fundo do baú?, disse Lori Sandri. ?A derrota seria até aceitável, mas não da forma como ocorreu. Peço desculpas à torcida do Paraná.? O treinador, mesmo após a goleada, não baixou a guarda. Reafirmou sua confiança no elenco, mas garantiu que cobranças mais fortes ocorrerão internamente e garantiu a volta por cima nos dois jogos que o Paraná disputará em casa, contra Náutico e Corinthians, adversários diretos na luta contra o rebaixamento.
Torcida organizada protesta no aeroporto
Valquir Aureliano |
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Toninho e Vandinho (de amarelo) são os mais cobrados pelos torcedores, após a vergonhosa goleada no Morumbi. |
?Vergonha, vergonha…Time sem vergonha…?. Esse foi o som que embalou a chegada da delegação paranista, ontem, no Afonso Pena. A torcida Fúria Independente, indignada com a vexatória goleada para o São Paulo, a maior deste Brasileiro, foi até o aeroporto ?recepcionar? os jogadores. ?Não podíamos aceitar passivamente uma atuação medíocre como essa?, desabafou o vice-presidente de facção, João ?Quitéria? Carvalho.
Aproximadamente 40 integrantes da Fúria estiveram no local para o que eles rotularam de ?protesto pacífico?. Porém, com medo de incidentes como os que ocorreram no ano passado entre torcedores e jogadores do Coritiba, seguranças da Infraero impediram o confrontamento. A delegação tricolor saiu do avião direto para o ônibus, sem passar pala área interna do aeroporto. Mesmo assim, os torcedores se manifestaram ao longo de todo o trajeto, pela Avenida das Torres.
?O ônibus tinha escolta policial. Mas mostramos toda a nossa insatisfação. Tem jogador aí que não merece vestir essa camisa?, disse João Carvalho. Os manifestantes foram até a Vila Capanema, onde seguiram com músicas e palavras de ordem contra o grupo. Alguns nomes, como o de Toninho e Vandinho, foram os mais visados. ?Temos o João Paulo, um garoto da casa. E ficam dando chance para esse Toninho, que está enterrando o time?, dasabafou o torcedor.
Em relação a Vandinho, João Quitéria disse que o atacante, apesar do esforço, já é chamado pelos integrantes da Fúria de ?Joelson Branco?, numa referência ao ex-meia tricolor (hoje no Avaí) que não conseguiu se firmar no time, apesar de toda a expectativa criada em torno do atleta. ?Fizemos barulho, mesmo. Até agora, estávamos apoiando, dando a cara pra bater. Até contra outros torcedores. Agora, chega. Queremos atitude?, desafiou o dirigente da torcida.
Apesar de todo o protesto, João Quitéria garantiu que a Fúria estará ao lado do Paraná no jogo desta quinta-feira. ?Isso, eu posso assegurar?, disse. ?Serão 90 minutos de paz.? É sob esse lema que a facção promete ir à Vila Capanema no jogo frente ao Náutico, agindo como nos jogos recentes. ?Vamos incentivar, gritar durante o jogo inteiro. Mas queremos o mesmo comprometimento lá dentro de campo.? O torcedor disse com clareza, que, após o jogo de sábado, teme o pior.
?Se não houver atitude, vamos cair. Não queremos acordar muito tarde para a realidade. A reação tem que ser imediata?, frisou. A rigor, após a goleada para o São Paulo, a única meta do Tricolor neste Brasileiro é se manter na primeira divisão. Dependendo do poder de fogo do time nas 15 rodadas restantes, poderá receber como prêmio de consolação uma vaga na Copa Sul-Americana. Nada mais do que isso.
