Teve chute errado na cara do goleiro, cabeçada perigosa, pancada de fora da área, pênalti não marcado. Por 94 minutos o Paraná Clube buscou o gol do São Caetano. Uma pitada de sorte no lance derradeiro premiou a insistência do time de Caio Júnior – a bola desviada providencialmente na barreira, após falta cobrada por Edmílson, deu ao Tricolor sua nona e talvez mais suada vitória no Brasileirão.
O triunfo por 1 a 0, conquistado aos 49 do segundo tempo, reconduziu o Paraná à vice-liderança do Brasileiro e o credenciou a uma espécie de decisão simbólica do primeiro turno. O jogaço contra o São Paulo, quinta-feira, no Morumbi, define quem termina a primeira metade do campeonato na ponta – e ela será do Tricolor da Vila em caso de vitória.
Depois de perder a decisão do Módulo Amarelo da Copa João Havelange, em 2000, o São Caetano sempre complicou a vida do Paraná. E veio ontem ao Pinheirão disposto a manter tradição. O esquema sólido do estreante técnico PC Gusmão, baseado na marcação implacável e, vez ou outra, num contragolpe com o avanço dos meias, deixou o jogo amarrado e chato.
O jogo poderia ser outro se Sandro aproveitasse a chance de ouro, logo a um minuto. Mas o goleiro defendeu e aos poucos o Azulão implantou seu estilo defensivista, com apenas um atacante e atenção redobrada aos articuladores paranistas.
Maicosuel e Leonardo eram marcados individualmente, Sandro não fazia boa atuação e os alas também não conseguiam avançar. Assim, o Tricolor tinha muita dificuldade em penetrar na área adversária, embora criasse as melhores chances. No segundo tempo, o jogo melhorou à medida que o São Caetano arriscou um pouco mais. O Tricolor pôde usar a velocidade, acertou mais passes e exerceu certa pressão contra o ferrolho do time do ABC paulista. E também correu riscos, uma vez que os poucos contragolpes do adversário traziam perigo.
Mas a partida seguia encardida, quando, num lance muito discutido, Leonardo caiu na área após ser tocado pelo goleiro Mauro. O árbitro nada marcou e o Paraná parecia fadado a amargar o segundo empate seguido em casa. Edmílson e o acaso se encarregaram de encerrar os nove jogos de invencibilidade do São Caetano e manter o Tricolor nas alturas. Foi o primeiro gol de falta do zagueiro tricolor.
Edmílson, o iluminado
O gol que novamente levou o Paraná ao segundo lugar do Brasileirão surgiu de uma espécie de premonição do zagueiro Edmílson. ?Na concentração minha esposa pediu um gol para ela e meu filho. Sonhei que nesse jogo havia algo preparado para mim?, disse o zagueiro, que veio do Noroeste (SP) com fama de artilheiro em tiros livres, mas não havia acertado nenhuma falta com a camisa tricolor. ?Quando você fala que tem qualidade e as coisas não acontecem, as pessoas duvidam de seu potencial. Mas tive tranqüilidade no momento decisivo e fui feliz com o desvio na barreira?, comemorou.
O lance selou a vitória mais difícil do Paraná no Brasileirão, na opinião do técnico Caio Júnior. ?A estratégia do São Caetano é marcar forte, roubar a bola no meio-de-campo e sair com dois meias rápidos no contra-ataque. Até em casa jogam assim. Tivemos muita dificuldade, por causa do campo e pela proposta do adversário?, disse. ?Maicosuel foi marcado individualmente em toda a partida e não conseguimos muitas jogadas pelos lados. Mérito também para o adversário, que não perdia há nove jogos?, acrescentou Caio, que terminou o jogo com quatro zagueiros para explorar as jogadas aéreas.
Sobre a esperada estréia do meia Joelson, que substituiu Sandro aos 13 minutos do segundo tempo, o treinador deu um desconto pelos seis meses de inatividade do jogador. ?Ele vai adquirir ritmo aos poucos. Será lançado aos poucos nos jogos, pois tem grande potencial?, disse o treinador paranista.
A consolidação no pelotão de elite do Brasileirão – mesmo com um jogo a menos que a maioria dos concorrentes, o Paraná está três pontos atrás do líder São Paulo e quatro acima do Cruzeiro, primeiro time fora da zona da Libertadores – faz o técnico projetar objetivos ousados. ?Não custa lembrar que nossos dois últimos jogos em casa serão contra Inter e São Paulo. Temos direito de sonhar?, falou, referindo-se aos principais favoritos ao título.
Campeonato Brasileiro
18.ª rodada
Gol: Edmílson (49-2º)
Local: Pinheirão, ontem
Árbitro: Luís Antônio Silva Santos (RJ)
Assistentes: Aristeu Leonardo Tavares (Fifa-RJ) e José Orlando Hortêncio Gomes (RJ)
Cartões amarelos: Emerson e Ângelo (P) e Gustavo
Público: 20.562 pagantes (total: 21.088)
Renda: R$ 68.780,00
Paraná 1×0 São Caetano
Paraná
Flávio; Gustavo, Emerson e Edmílson; Ângelo (Neguete), Pierre, Batista, Sandro (Joelson) e Edinho; Maicosuel (Jeff) e Leonardo. Técnico: Caio Júnior
São Caetano
Mauro; Thiago, Gustavo e Neto; Anderson Lima, Rafael Muçamba, Marabá, Elton (Fabiano Gadelha), Leandro Lima (Diego Tardelli) e Triguinho; Gustavo Gaúcho. Técnico: PC Gusmão