Faixas, bandeiras e o incansável grito da galera na arquibancada. Foi nesse clima que o Paraná Clube realizou seu último treinamento para a final do Paranaense-2006. Aproximadamente quatrocentos torcedores – a maioria integrantes da Fúria Independente – fizeram uma ?prévia? daquilo que o time irá encontrar amanhã. Uma mobilização total dos paranistas, empolgados com a real possibilidade de quebra do incômodo jejum de quase nove anos sem um título estadual.
?É legal, esse incentivo vai fazer a gente correr mais, mas sem euforia dentro de campo?, comentou o capitão Beto. As palavras do meia ecoam tudo aquilo que o técnico Luiz Carlos Barbieri apregoou durante a semana. O técnico não esconde que a preparação da equipe foi focada na ?quebra? do oba-oba que tomou conta dos torcedores após a goleada imposta à Adap no primeiro jogo, em Maringá. Insistindo na política ?pés-no-chão?, o treinador afastou o grupo do clima festivo – os atletas relacionados, por exemplo, foram impedidos de participar do jantar ?Vila, tá na hora!?, na quinta-feira – e desde ontem vinte atletas já vivem ritmo de concentração.
?Quero o time jogando com a mesma simplicidade, que foi a nossa marca até aqui?, afirmou Barbieri. ?Torcedor é só emoção. Nós temos que administrar esse momento com a razão. Para atingirmos o objetivo, os jogadores sabem que terão que ralar?, avisou. O fato de poder perder por dois gols de diferença e mesmo assim fechar a competição com o título foi pouco alardeado pela comissão técnica. Barbieri prefere não falar em ?numerologia? e, vantagem à parte, comandou treinos intensos para o aprimoramento técnico e tático. ?Fizemos ótimos trabalhos e os jogadores me deram uma prova de que estão centrados, mobilizados naquilo que precisamos fazer.?
É com essa confiança que o técnico escalou o time, que terá apenas uma alteração em relação à equipe-base. João Paulo entra na vaga de Neguete, lesionado.
A presença de Maicosuel foi encarada com naturalidade pelo treinador. ?Não me surpreendeu, pois ele sempre me disse que estaria em campo. E só vai porque está 100%. Em uma decisão, não colocaria em campo um jogador que estivesse meia-boca?, disse. Recuperado de uma lesão no joelho, Maicosuel correu muito nos treinos, chutou a gol e cobrou faltas. ?Tô legal. Agora, é esperar o jogo?, disse.
O Paraná, amanhã, mantém a mesma estrutura tática de jogos anteriores. ?Nosso estilo não pode mudar. Marcaremos forte, mas saindo sempre com velocidade?, disse Rafael Muçamba. Como já ocorrera nas outras fases disputadas em sistema eliminatório, o Tricolor largou na frente e em casa só precisou administrar a vantagem. Assim, o time de Barbieri pode até jogar no erro do adversário, que obrigatoriamente precisa se lançar à frente. Ainda mais a Adap, que precisa de pelo menos três gols para levar a decisão para a prorrogação e para os pênaltis.
Como Maicossuel conseguiu ser liberado
Cristian Toledo
Atenção para a cena.
Local: gramado do Pinheirão, na tarde de quinta. Protagonistas: Maicosuel, o médico Mohty Domit (chefe do DM do Paraná Clube), o técnico Luiz Carlos Barbieri e um joelho direito. A dúvida: o camisa 11 tricolor vai ou não para a finalíssima contra a Adap? Parece até um roteiro de filme dramático, mas o final foi feliz, e Maicosuel vai estar na decisão do Paranaense.
?Meu santo é forte?, avisa o armador de apenas 19 anos, mas com muita personalidade. Ele sabia que havia sido vetado no dia anterior – uma quarta-feira que parecia boa para ele, pois chegara à Vila Capanema sem dores no joelho, mas que se tornara triste com a decisão dos médicos. Decisão natural -lesão de ligamento, jogador vetado.
Só que Maicosuel resolveu lutar para jogar a final.
?Eu falava com o (zagueiro) Neguete, que era muito ruim a gente jogar o campeonato todo e na hora do filé mignon ficar de fora?, diz o meio-campista. Apesar de constatada a lesão, ele sabia que era o grau mais leve. Mediu as conseqüências e foi para a conversa decisiva.
Antes, pensou no que já fizera dentro do Paranaense. ?Foi a primeira vez que eu tive uma seqüência de jogos no Paraná e posso dizer que foi a melhor competição da minha carreira?, confessa Maicosuel, um dos destaques do Tricolor no campeonato. De aposta, ele passou a ser realidade – e com a incumbência de ser o cobrador oficial de faltas e pênaltis.
Não fugiu à pressão nem mesmo quando foi para a marca da cal na primeira partida da decisão – quatro dias depois de errar um pênalti na semifinal com o Rio Branco. Maicosuel foi, cobrou, e abriu o caminho da vitória que deu ao Tricolor uma enorme vantagem para o confronto de amanhã.
Ele também pensou no que espera os jogadores do Paraná Clube no Pinheirão. ?A gente se motiva muito ao saber que serão 25 mil pessoas no estádio nos empurrando. Por mais que a gente queira ajuda fora de campo, somos jogadores, queremos estar lá apoiando o time e buscando o título?, revela. Maicosuel se encheu de confiança e foi.
Voltamos à cena. A decisão de vetar o jogador parece mantida. ?Conversei com ele, fiquei correndo perto deles para mostrar que eu estava pronto. Aí o doutor Mohty falou que eu poderia treinar,
e deu tudo certo. Minha recuperação foi rápida?, festeja Maicosuel, que não se cansa de repetir: ?Meu santo é forte?.
Recomeço de um herói na Vila Capanema
?Eu tentei voltar três vezes. Este é o meu verdadeiro recomeço.? A frase é de Leonardo, grande candidato a herói do título estadual do Paraná Clube.
O atacante marcou dois gols na primeira partida da final do Campeonato Paranaense contra a Adap – gols que consolidaram a vitória por 3×0 em Maringá e deram uma enorme vantagem ao Tricolor. Um prêmio esperado pelo jogador, que teve na Vila Capanema o apoio que precisava para conseguir voltar a jogar depois de quase um ano parado.
Uma lesão séria de tornozelo fez Leonardo ficar longe dos gramados, quando estava no Criciúma. Ele estava surgindo para o futebol, depois de dois anos no Vitória. ?Lá, eu estava começando a jogar. Fui campeão em 2004, mas nem joguei, ficava na reserva do Obina. E em 2005 fiz quatro gols na campanha do bicampeonato?, conta ele, que imaginava que sua chegada no sul seria decisiva.
Seria, mas não em Criciúma. Lá Leonardo viveu dias complicados, por conta da lesão. ?Eu me sentia pronto para voltar, aí tentava e me machucava de novo. Isto aconteceu duas vezes?, confessa o atacante.
O recomeço acabou sendo no Tricolor, que foi o clube que apostou em seu futebol. ?Foi o lugar certo, pois aqui todos me incentivaram?, reconhece o jogador de 23 anos, nascido em Nova Lima, Minas Gerais.
A resposta de Leonardo começou a ser dada em campo. Depois de um tempo de readaptação (?Fiquei oito meses fora, e mais o final do ano passado tentando voltar?), o jogador começou a render na fase decisiva.
Com senso de oportunismo e qualidade técnica, o atacante passou a ser um dos principais jogadores do Paraná Clube.
A boa fase da equipe, segundo ele, é explicada no dia-a-dia. ?Aqui todos se gostam, não tem aquela coisa de um grupo para um lado e outro para outro. Os mais experientes, como Flávio, Emerson e Beto, são fundamentais para este bom ambiente?, comenta Leonardo, que também elogia a diretoria. ?Eles sempre estão juntos da gente, e merecem que esta recuperação do Paraná aconteça exatamente agora. Depois do jogo em Maringá, o presidente (José Carlos de) Miranda veio me abraçar e eu senti que ele estava emocionado. Aquilo me deixou feliz?, revela o jogador.
Mas não pense que Leonardo está satisfeito. ?Acho que eu ainda posso render mais. Depois deste tempo, acho que mudei um pouco de estilo. Quando era mais jovem, tinha mais velocidade. Hoje, uso os espaços e me posiciono melhor. Mas tenho que melhorar muito?, avisa. Melhor para o Tricolor.
Pode pintar um conhecido
Daniel Marques na área? O que antes parecia uma possibilidade remota ganhou corpo após incidentes que determinaram a dispensa do zagueiro do Internacional.
O clube gaúcho alegou ?atos de indisciplina? para romper o contrato com o jogador, que tem seus direitos federativos vinculados ao Palmeiras. Destaque do Paraná na temporada passada, o zagueiro não conseguiu se firmar no Colorado e há tempos revelava descontentamento em contatos freqüentes com a diretoria tricolor.
O maior obstáculo estaria na questão salarial, já que quando foi para o Inter, teve seu salário triplicado. Sua dispensa é um fato novo que já mobiliza dirigentes do Paraná e da LA Sports. ?É um bom jogador e que aqui além de jogar com garra, foi extremamente profissional?, disse o vice de futebol José Domingos. O Tricolor, que já apresentou Cuca e Aílton como reforços para o Brasileiro, deve trazer mais sete jogadores para completar seu elenco. Um deles, o meia Joelson, que já está treinando no clube.
