Madri – Vanderlei Luxemburgo, o novo técnico do Real Madrid, coloca Ronaldo para praticar a pontaria, põe o resto da equipe para treinar fundamentos e, depois de uma semana em Madri, muda o dia-dia dos galácticos. "Antes, éramos um grupo. Hoje, somos um time", afirmou o lateral Roberto Carlos.
Ontem, depois do fim de um treino coletivo marcado por várias interrupções para corrigir o posicionamento da equipe, Luxemburgo pediu que Ronaldo, Raúl e Owen permanecessem em campo para aprimorar a pontaria.
A iniciativa chamou a atenção da imprensa espanhola, que confessa que há muito não via o Real fazendo esse tipo de treinamento. "Isso quase nunca ocorria antes. Há uma mudança significativa na forma de treinar", revelou um jornalista espanhol, que debochava da dificuldade de Ronaldo em cabecear. De fato, dos vários cruzamentos recebidos, o atacante brasileiro não concluiu sequer um ao gol.
Poucos momentos antes, Luxemburgo deixou Beckham em uma saia-justa. Foi ensinar ao inglês como deveriam ser feitos os cruzamentos, a maior especialidade do astro inglês. Em sua demonstração, o treinador colocou a bola na cabeça de Ronaldo. César, o goleiro reserva, evitou o gol.
Depois, Beckham tentou por cinco vezes realizar o que Luxemburgo havia feito e não conseguiu. O técnico optou então por continuar com o treinamento, observado com atenção pelo grande público que compareceu ao centro de treinamento do Real e pagou seis euros (R$ 20,00) para ver os craques de perto.
Entre os torcedores, estava um grupo de cerca de 30 crianças de Salvador, que estavam em Madri para apresentações de música baiana.
Durante o treino coletivo de quase uma hora, na preparação para o clássico de amanhã contra o Atlético de Madri Luxemburgo orientou os jogadores em um novo desenho tático. Ele quer o time mais compacto, com o meio-campo e o ataque mais próximos e defesa mais adiantada.
Segundo Roberto Carlos, a equipe está "feliz" com o método de trabalho de Luxemburgo e admite que os treinos táticos e de fundamentos não eram freqüentes. "Tínhamos mini-coletivos. Havia um treino tático por semana, no máximo", contou o lateral brasileiro, lembrando que Vicente del Bosque foi o último a realizar tais treinos com freqüência, em 2002.
"Luxemburgo está posicionando o time. Quando tínhamos a bola, estávamos desorganizados. Os adversários não vão chegar com a mesma facilidade no nosso gol", explicou Roberto Carlos.
Com relação a Ronaldo, Roberto Carlos aponta que o atacante terá de mudar seu comportamento em campo. "Não é que Ronaldo não corra, mas agora ele vai ter que correr mais e um pouco mais a favor do time, ajudando o meio-campo", disse.
Para o lateral, a surpresa da equipe quanto aos métodos de Luxemburgo está relacionada à imagem de que o Brasil tem um futebol alegre, mas irresponsável. "Quando eles vêem um treinador com a mentalidade do Luxemburgo se surpreendem. Os brasileiros têm uma mentalidade diferente de todos os técnicos espanhóis e Luxemburgo vai ganhar muito títulos aqui. Alguns jogadores já vieram me dizer que agora entendem porque o Brasil é pentacampeão", disse Roberto Carlos, que quer organizar um churrasco em sua casa para integrar a equipe e o novo treinador.
Após uma semana de treinamentos liderados por Luxemburgo já ficou claro também que o brasileiro espera contar com a ajuda de Ronaldo e de Roberto Carlos para se adaptar. "Se o treino não dá certo, a culpa é minha e do Ronaldo. Se der certo, Luxemburgo fica como o responsável", ironizou o lateral.
Seleção
Para muitos, um dos desafios do time será o de lutar contra o pouco tempo de descanso entre as três competições que disputa "O Real é como a seleção brasileira: tem que ganhar tudo", afirmou Roberto Carlos.
Para complicar, o time de Luxemburgo perde a cada convocação das seleções nacionais cerca de 14 jogadores para times de todo o mundo. "Quando sai uma convocação, quem sempre é prejudicado é o jogador", disse Roberto Carlos.
Imagem já pertence ao clube
Madri – Vanderlei Luxemburgo teve de ceder 50% do valor comercial de sua imagem ao Real Madrid em seu contrato assinado há pouco mais de uma semana. Caso o técnico brasileiro seja convidado a fazer qualquer tipo de comercial para um produto ou alugar sua imagem para alguma promoção, metade do valor do negócio irá para o clube espanhol.
No Real Madrid, um simples treino ou o transporte de um jogador dentro da cidade é alvo de um acordo comercial. A Audi, por exemplo, obriga os jogadores a circularem pelas ruas de Madri com seus carros, salvo quem tenha um contrato separado com outra marca de veículos. Esse é o caso de Roberto Carlos, que tem um acordo com a BMW. "Esse foi um contrato pessoal que assinei", afirmou o lateral.
Uma mera ligação telefônica também é alvo de publicidade. Os jogadores usam celulares da Siemens, empresa que também tem seu nome estampado na camisa do time. Roberto Carlos, mais uma vez é exceção e tem um acordo com a Motorola, mas não escapa de levar o nome da Siemens em sua camisa. O lateral ainda conta que até o ano passado era dono de sua imagem, mas acabou negociando um acordo para ceder parte dela na renovação de seu contrato com o Real, no ano passado.