Valquir Aureliano/Arquivo
Clubes, Federação e patrocinador oficial tentam se entender. Mas não falam a mesma linguagem.

Faltando pouco menos de um mês para o seu início, o Campeonato Paranaense de 2008 continua sendo uma incógnita para muitos. Por mais que se tente dar um mínimo de organização e credibilidade para o Estadual, as pendências administrativas e jurídicas que cercam a Federação Paranaense de Futebol – FPF – começam a deixar em suspenso o início da competição. A possibilidade de uma nova troca de comando na direção da federação é outra preocupação de clubes e também dos possíveis patrocinadores do campeonato.

continua após a publicidade

Se na capital o trio de ferro tenta contornar crises internas – denúncias de desvio de dinheiro e disputas eleitorais, com excesso e falta de candidatos na sucessão – conversando em paralelo com a RPC ? Rede Paranaense de Comunicação – sobre as cotas para a transmissão do Estadual, que neste ano deverá girar entre R$ 2 a R$ 2,5 milhões. O valor citado é para o todo da competição, sendo que Atlético, Coritiba e Paraná receberiam uma quantia diferenciada e maior que os outros 13 clubes. O Paranaense de 2007 foi vendido por R$ 350 mil. O trio de ferro deveria receber R$ 40 mil. O Atlético não aceitou o dinheiro, e também vetou que fossem mostrados seus jogos pela TV. O valor que seria repassado para os clubes acabou desviado para bancar a FPFTV, empresa ligada ao ex-presidente Onaireves Moura, que transmitiu pela internet boa parte das partidas do Estadual.

Segundo o jornalista Gil Rocha, editor e coordenador de esportes da RPC, e que representa a empresa nas negociações com a FPF e clubes, o ?Estadual de 2008 deverá ser transmitido a partir do dia 16 de janeiro?. ?É para ser em canal aberto. Está na nossa programação?, diz Gil Rocha, que espera ainda que nesta semana sejam finalizadas as conversas com os clubes e FPF, e também arrematados os últimos ajustes do contrato de exclusividade com a emissora. ?Estamos conversando com todos os ?presidentes? da Federação. Esperamos definir tudo nos próximos dias?, completou o coordenador de esportes da RPC.

Cury tenta costurar acordo pro Paranaense

Carlos Simon

Valquir Aureliano/Arquivo
Presidente da FPF conversou com TVs concorrentes.
continua após a publicidade

O presidente da Federação Paranaense de Futebol, Hélio Pereira Cury, se exime da briga pela distribuição das verbas do Estadual 2008. Intermediário nas negociações entre a RPC e os clubes, Cury defende apenas a manutenção dos valores definidos no primeiro arbitral financeiro.

Para Cury, o novo arbitral se faz necessário depois das mudanças radicais no comando da FPF. ?Mas a decisão daquele encontro tem que ser respeitada, a não ser que haja unanimidade entre todos os clubes?, disse o dirigente.

continua após a publicidade

Cury confirma que a afiliada da Rede Globo no Paraná se dispôs a desembolsar R$ 2 milhões pelo Estadual, mas não especificou a divisão do montante. O cartola negou, porém, os valores divulgados por dirigentes do Adap Galo Maringá: R$ 400 mil para Atlético, Coritiba e Paraná e R$ 150 mil para os demais, o que daria um total de R$ 3,15 milhões.

O presidente da FPF chegou a conversar com a RIC, afiliada da Rede Record, sobre a possibilidade de transmissão. Mas as mudanças na FPF atrapalharam as negociações e a TV de Edir Macedo ficou de lançar nova investida em 2009.

A negociação intermediada por Cury, porém, ainda depende da permanência dele no posto. O antigo presidente, Aluizio Ferreira, tenta voltar ao cargo através de liminar judicial, ainda a ser apreciada pela Justiça. Cury ocupa a cadeira máxima da FPF desde 21 de novembro, quando a juíza Denise Antunes, da 9.ª Vara Cível de Curitiba, determinou que Onaireves Moura era inelegível por estar inadimplente das contribuições previdenciárias e ter a falência declarada pela Justiça.

Rebelião a caminho

Julio Tarnowski Jr.

Átila Alberti/Arquivo
Linhares, do Eng. Beltrão, preocupado com a nova reunião na FPF.

O ?novo? arbitral financeiro convocado para esta semana poderá dar uma nova guinada nos destinos do próximo Estadual. ?Não saberia dizer se o campeonato irá começar na data prevista. De que adianta decidirmos alguma coisa se nos convocam para um novo arbitral para discutir tudo de novo?, questiona Luiz Linhares, presidente do Engenheiro Beltrão mostrando-se contrariado com os rumos da Federação.

Segundo o dirigente do interior, ?não existe hoje uma conta bancária em nome da FPF para que os clubes façam os depósitos referentes a taxas cobradas pela entidade?. ?Se é na ?boca-do-caixa?, corremos o risco de vermos o dinheiro sumir?, diz Luiz Linhares. Em novembro a polícia fez uma batida na sede da Federação e descobriu R$ 92 mil em dinheiro, e cheques, escondidos em um fundo falso de um cofre na sala de contabilidade da entidade.

Sobre os valores da transmissão do Estadual-2008, o presidente do Engenheiro Beltrão disse que soube que houveram novas divergências dos valores acertados. ?Não me cabe questionar se este ou aquele clube vai receber mais – referindo-se ao trio de ferro da capital. Não desmereço o campeonato catarinense. Mas lá a organização deles é eficiente e já estão sabendo como e quando seus jogos serão transmitidos no sistema pay-per-view (pague-pra-ver). Aqui (no Paranaense) não sabemos nem se ele começará no dia marcado?, completa o presidente do Engenheiro lamentando a situação de indecisão que toma conta mais uma vez do futebol paranaense.

Clubes ameaçam vetar TV

Redação Tribuna e Rodrigo Feres, especial para a Tribuna do Paraná

Descontentes com a divisão das verbas da televisão, times do interior armam um ?motim? contra a transmissão do Campeonato Paranaense de 2008. No arbitral realizado em 7 de novembro, ficou decidido os valores das cotas televisivas. Como Aluizio Ferreira, que substituiu Moura, foi destituído do cargo devido a uma ordem judicial, os valores, que já estavam acertados, podem mudar, segundo as equipes do interior.

?Isso é um absurdo. Estava acertado que o trio de ferro receberia R$ 400 mil cada um pelos direitos televisivos, e os clubes do interior uma quantia equivalente a R$ 150 mil cada. Agora, estão querendo mudar o que já foi acordado?, afirmou, indignado, Edeval Meschiliari, diretor de futebol do Adap Galo Maringá. Meschiliari, que costuma representar o clube nos arbitrais, relatou que ainda não recebeu nenhum comunicado da reunião, e deixou clara a posição do Adap: ?não iremos liberar os direitos de transmissão?. ?Agora estão querendo nos pagar R$ 50 mil. Simplesmente se não for honrado o que foi combinado no 1.º acordo, não iremos ceder os direitos para a televisão. E não é só a Adap que está nessa. Tenho o conhecimento de que o Engenheiro Beltrão, o Londrina, o Paranavaí, o Cianorte e o Rio Branco, também irão adotar a mesma postura?, completou. No Estadual deste ano o único clube a bater o pé contra as transmissões foi o Atlético, que não permitiu imagens ao vivo dos seus jogos.

Segundo Meschiliari, essa postura, de certa forma radical, é a única maneira de os clubes do interior conseguiem reivindicar os seus direitos. ?Precisamos de união. Temos que moralizar o futebol paranaense. É muito difícil para os clubes do interior realizarem um futebol competitivo. Não temos dinheiro e qualquer valor a mais já ajuda bastante?, finalizou.

O arbitral ?polêmico? ainda não foi confirmado. Mas tudo indica que deverá acontecer entre quinta e sexta feira.