Duelo na sexta

Tranquilo, argentino Pekerman ‘arrumou’ a Colômbia

O técnico argentino José Pekerman é um homem calmo, que fala baixo e detesta polêmicas. Mas, sem alarde, colocou ordem na historicamente bagunçada casa colombiana, e hoje é ídolo em um país que voltou a ter orgulho de sua seleção. Qualidade técnica é algo que nunca faltou aos jogadores colombianos do final da década de 80 para cá. Faltavam juízo e disciplina para transformar grupos talentosos em times mentalmente fortes, que não perdessem para si mesmos em momentos decisivos. E Pekerman deu isso à seleção.

Quando foi convidado para assumir o cargo, no início de 2012, disse, com firmeza, ao presidente da Federação Colombiana de Futebol, Luis Bedoya, que não aceitaria interferência de dirigentes na hora de fazer as listas de convocados – algo que era comum na Colômbia e que ele havia sentido na pele quando dirigiu a Argentina, porque Julio Grondona (presidente da Associação de Futebol Argentino) vivia dando palpites sobre quem deveria ser chamado.

Depois, formou uma comissão técnica argentina. Gente acostumada a trabalhar com ele, com o mesmo perfil de seriedade. E, desde o primeiro encontro com os jogadores, estabeleceu regras com as quais eles não estavam acostumados. Uma delas foi proibir a entrada de empresários e parentes nos locais de treino e nas concentrações. Também acabou com as “panelinhas” e deixou claro que não admitiria estrelismos. Quem se colocasse acima do grupo ou não mostrasse comprometimento deixaria de fazer parte de seus planos.

Ganhou a admiração dos atletas mostrando que compraria qualquer briga por eles. Exigiu melhorias na estrutura do centro de treinamentos e bancou uma redistribuição nos assentos ocupados pela delegação em viagens de avião. Antes, as poltronas da classe executiva eram ocupadas pelos dirigentes da Federação e seus convidados. Os jogadores iam, espremidos, na classe turística, misturados a jornalistas. Com Pekerman, não. Os melhores lugares são para os jogadores, depois sentam-se os integrantes da comissão técnica e, nas filas do meio da aeronave para trás, se concentram dirigentes, convidados, patrocinadores e jornalistas.

Uma das chaves do método do treinador é o trabalho psicológico. Com a ajuda do psicólogo desportivo Marcello Roffé – também argentino -, convenceu os colombianos de que, jogando coletivamente, eles podem encarar qualquer adversário. E que a organização tática é fundamental para a equipe impor sua forma de jogar. O resultado mais visível da contribuição de Pekerman à seleção apareceu sábado, no Maracanã. A Colômbia estava a uma vitória de um feito histórico (a classificação pela primeira vez para as quartas de final), entrava com o peso de ser favorita e tinha pela frente um adversário com mais tradição e mais experiência em jogos de alta tensão. Mas manteve a cabeça fria e a organização do primeiro ao último segundo.

TREINO – Os jogadores titulares nem pisaram no campo nesta segunda-feira, no CT do São Paulo em Cotia. Enquanto os reservas treinavam com bola, eles faziam exercícios físicos na academia. Nesta terça, todos treinarão pela manhã, e, às 16h, a delegação embarcará para Fortaleza – local da partida de sexta-feira contra o Brasil. Na quarta, o treinamento será a portas fechadas.

Um dos escalados para dar entrevista na segunda (o outro foi o atacante reserva Adrián Ramos), o volante Carlos Sánchez mostrou o quanto o elenco acredita em sua força. “Temos armas que nos permitem continuar sonhando com o título. Sabemos que o Brasil é muito forte e tem excelentes jogadores, mas podemos ganhar.”

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