No próximo final de semana será realizada a última rodada do Torneo Apertura do Uruguai, após a competição ter sido interrompida em dezembro, graças a graves episódios de violência e a escândalos, como o suposto caso entre o árbitro argentino Sergio Pezzota e uma jornalista uruguaia.
A paralisação da competição uruguaia reflete a crise que o esporte vem enfrentando há anos e que põe em risco a prática do futebol profissional no país bicampeão mundial. Um dos principais problemas que a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) enfrenta são os baixos salários dos jogadores, consequência da falta de estrutura dos clubes uruguaios.
Muitos atletas da primeira divisão chegam aos treinos “de bicicleta” e apenas 2% dos jogadores “conseguem ganhar dinheiro jogando futebol”, segundo informou à ANSA Fernando Barboza, da organização Mutual Uruguaia de Futbolistas Professionales.
As dificuldades só não são maiores porque em 2004 foram fixados salários mínimos para jogadores. Os atletas da primeira divisão do futebol uruguaio devem receber ao menos 18800 pesos (US$ 800), enquanto os jogadores da segunda divisão têm o piso salarial de 9.400 pesos (US$ 400). A situação do futebol no país faz com que os grandes jogadores do vão ao exterior sempre mais cedo. No ano de 2007, 103 uruguaios foram contratados por equipes de outros países, enquanto no ano de 2008 jogadores importantes saíram do país, como Tabaré Viudez e Mathias Cardaccio, que foram para o Milan.
Além de salários mais altos, os clubes europeus e asiáticos dão as condições necessárias para que os jogadores possam treinar, como uniformes e chuteiras, o que nem sempre acontece no Uruguai. “Aqui os jogadores têm que comprar uns quatro pares de chuteira por ano com o dinheiro do próprio bolso”, revelou Barboza, ressaltando que muitos jogadores não conseguem comprar as chuteiras necessárias devido aos baixos salários que recebem. Barboza lembrou também que em clubes menores, não há nem mesmo bolas suficientes para os treinamentos, e nem água quente nos vestiários.
Como medida para tentar salvar o futebol profissional no país, a AUF pretendia reduzir o número de clubes na primeira divisão de 18 para 14 em 2010. Contudo, em entrevista à ANSA, o ministro do Esporte e Turismo do país, Héctor Lescano, se disse “pessimista” em relação a esta possibilidade. Lescano ressalta que os interesses particulares predominam sobre os gerais.